“Assassinato no Expresso do Oriente” aposta no mistério, mas esquece de envolver o espectador

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Um assassinato cruel ocorre em uma longa viagem de trem no Expresso do Oriente. Infelizmente para o assassino, o melhor detetive do mundo, Hercule Poirot, estava a bordo para resolver mais esse mistério. “Assassinato no Expresso do Oriente” é considerado uma das maiores obras da renomada “rainha do crime” Agatha Christie, escrito em 1934, e ganha mais uma adaptação cinematográfica, desta vez dirigida e estrelada pelo britânico Kenneth Branagh (de várias obras Shakespearianas, como “Henrique V” e “Hamlet”).

Versátil e talentoso, Branagh já foi indicado a 5 Oscars, incluindo ator e diretor pelo mesmo filme (“Henrique V”), além de ter se aventurado em outros gêneros, como “Thor”, “Cinderela” e “Jack Ryan”. Sua versão de “Assassinato no Expresso do Oriente” estreia essa semana nos cinemas do Brasil e surge após a prestigiada versão de 1974, dirigida por Sidney Lumet, e a versão para a TV americana, lançada em 2001. O filme conta com um elenco estelar, com nomes de peso como Michelle Pfeiffer, Johnny Depp, Penélope Cruz, Judi Dench, Daisy Ridley, Willem Dafoe, entre outros.

Conhecendo Poirot

Sempre cansado e à procura de desfrutar algumas férias (quando misteriosamente surge algum crime para desvendar), Hercule Poirot é considerado “o melhor detetive do mundo”. Conhecido pelo grande bigode e obcecado por ordem e método, ele chega até a ser inconveniente com as outras pessoas por conta do seu perfeccionismo. Ele utiliza como principais métodos para resolver seus casos a dedução e a psicologia, não sendo um detetive de ação, mas alguém que conhece como poucos a natureza humana e prefere interrogar os suspeitos em busca de alguma reação comprometedora.

A bordo do Expresso do Oriente, Poirot é apresentado aos outros passageiros, todos misteriosos de alguma forma. Ele é procurado por Ratchett (Johnny Depp), um comerciante de índole duvidosa que alega estar recebendo ameaças de morte de algum dos seus desafetos, desejando a proteção de Poirot. O detetive recusa ajuda-lo, dando a entender que só defende pessoas que acredita serem inocentes de fato. Um desmoronamento de neve acaba descarrilando o trem, obrigando todos a aguardarem pelo conserto.

Como Poirot enxerga a justiça?

Nesse meio tempo, é claro que o pior acontece e Ratchett é cruelmente esfaqueado na sua cabine. Qual dos misteriosos passageiros teria tido a frieza de cometer o assassinato? Mesmo não querendo se envolver, quando percebe que a culpa poderia recair sobre o passageiro negro ou o latino, por puro preconceito, ele aceita resolver o caso, demonstrando o quanto se importa com que a justiça seja aplicada.

“É a ruptura da alma matar outro ser humano”, ele explica para uma personagem. Apesar de ter suas crenças de mundo e acreditar que conhece alguém apenas ao observá-lo brevemente, Poirot logo percebe que este caso é o mais desafiador da sua carreira. De maneira poética, o fato do trem sair dos trilhos figurativamente representa que ele mesmo vai ter que sair da sua zona de conforto se quiser descobrir e aceitar o que de fato aconteceu, pois ao passo em que a investigação se aprofunda, atitudes suspeitas e possíveis motivações começam a surgir, revelando um crime muito mais sinistro por trás de todo aquele mistério.

Visual espetacular e ritmo irregular

O filme inicia em Jerusalém, no Muro das Lamentações, onde o excêntrico detetive resolve um caso de maneira surpreendente, deixando todos de boca aberta. A abertura é bastante enérgica e cheia de alívios cômicos, levando a acreditar que esse seria o tom que ditaria todo o ritmo do filme. No entanto, a partir do segundo ato a condução de Branagh é muito mais paciente – repleta de diálogos enigmáticos e pouca informação substancial ao espectador -, fazendo com que durante a investigação o ritmo caia bastante. Perto do terceiro ato e com a resolução do crime cada vez mais próxima, o filme volta a empolgar, com um desfecho bastante recompensador.

A sensação que fica é a de que durante a investigação a história poderia ter sido melhor desenvolvida e ainda há uma dificuldade em se criar suspense, como explicarei melhor mais à frente. Porém, se o desenvolvimento da trama deixa um pouco a desejar, tecnicamente a execução é incrível. O visual consegue explorar as paisagens exóticas, os efeitos visuais são de encher os olhos e a trilha sonora é bem marcante, energizando e envolvendo o espectador naquele universo caótico e cheio de personagens.

 

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Diferença entre mistério e suspense

Na minha opinião, “Assassinato no Expresso do Oriente” é um filme que respeita o material do qual foi adaptado, com quase todas as peças no devido lugar. O que falta a ele é envolvimento emocional com o público, e isso acaba sendo frustrante. Com a palavra, o mestre do suspense Alfred Hitchcock:

 

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Nessa entrevista, Hitch explica que há um abismo entre mistério e suspense, e conta como um é muito mais recompensador que o outro. Para ele, o filme pode fazer mistério sobre quem – dentre várias opções – é o assassino. Pode te levar a acreditar que é o suspeito “A” e na última cena revelar que era o suspeito “B”. Muitos filmes – incluindo este – utilizam uma abordagem parecida. Mas, para ter real envolvimento emocional com o público (sempre uma opção muito mais satisfatória para a audiência), o suspense dá pequenas pistas e informações para o espectador entender o que está se passando.

Branagh, por sua vez, oculta muita informação da plateia, não nos ajuda a entender como o processo de raciocínio de Poirot funciona, até que de maneira genial tudo se encaixa (como a resolução do primeiro crime). Seria muito mais gratificante passar uma hora de suspense na ponta da poltrona, descobrindo pistas e torcendo pelos personagens do que esperar de maneira passiva a investigação inteira para ter cinco minutos de surpresa no final das contas…

Concluindo, embora não tão bem explorada como poderia, a essência de “Assassinato no Expresso do Oriente” reside mais na transformação da visão de mundo de seu protagonista Hercule Poirot do que no mistério do assassinato em si. A direção de Branagh merece créditos por ser bastante criativa, explorando ângulos e a geografia das cabines, vagões e corredores do trem de maneira inventiva, fazendo com que o mesmo seja praticamente um personagem para o filme. Há também uma bela brincadeira visual se referindo à “Última Ceia” de Da Vinci, que é digna de nota.

Apesar do elenco numeroso não ter tido toda a atenção necessária, as atuações não comprometem e alguns se sobressaem, como o próprio Branagh, além da intensa Michelle Pfeiffer e do detestável Johnny Depp. Levantando questões como “o que é justiça?”, vingança pessoal e questionando a eficiência da lei dos homens, temos a curta, porém importante jornada de um homem aprendendo a lidar com o desiquilíbrio natural que há no mundo, esperando para colocar a vida “nos trilhos novamente” e seguir em frente até o próximo caso (quem sabe no Rio Nilo?). Um filme correto, mas com pouco coração.

E você, já assistiu ou está ansioso para ver? Concorda ou discorda da análise? Deixe seu comentário ou crítica (educadamente) e até a próxima!

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