CASA GUCCI | UM CÔMICO MELODRAMA QUE ENTRETEM COM SEUS EXCESSOS

Depois de “O Último Duelo”, que apesar de ter sido razoavelmente bem recebido pela crítica não teve um bom desempenho na bilheteria, Ridley Scott volta aos cinemas com mais um filme baseado numa história real, dessa vez um dos filmes mais aguardados do ano e que não poderia estar mais distante do primeiro, tanto no conteúdo quanto na forma, “Casa Gucci” conta a história da dinastia Gucci, da entrada de Patrizia Reggiani na família até o assassinato de seu marido, Maurizio Gucci (Adam Driver).

Antes mesmo de sua estreia, os trailers e teasers já causaram burburinho pela estética “cafona”, por falta de uma expressão melhor, e a tão esperada atuação de Lady Gaga no papel de Patrizia, seu primeiro trabalho como atriz depois de seu sucesso estrondoso no filme Nasce Uma Estrela que lhe rendeu uma indicação ao Oscar. Agora, depois de ter assistido ao filme, ambas expectativas se confirmam: o filme é ainda mais “cafona” do que seus pôsteres sugeriam e Lady Gaga entrega uma performance que provavelmente chamará a atenção da Academia, apesar de uma vitória ser um tanto improvável considerando que Kristen Stewart deve ser indicada pelo seu papel em Spencer (ainda sem data de estreia no Brasil).

Casa Gucci mostra o relacionamento entre Patrizia e Maurizio desde o início, quando os dois se conheceram numa festa no final dos anos 70. Patrizia não pertencia à classe alta que dava a festa, mas acabou lá por conta de um amigo, já Maurizio pertencia à classe alta, mas certamente não era público de festa, com um ar meio “nerd” e socialmente deslocado, era o oposto de Patrizia, mas lhe chamou a atenção. O que vemos é Patrizia indo atrás, primeiro chamando para dançar, depois o seguindo em seu local de trabalho, até o intimando para que a chamasse para sair. É aí que o romance começa.

Patrizia era filha do dono de uma frota de caminhões e trabalhava no negócio da família, enquanto Maurizio era herdeiro da grife Gucci, nascido em berço de ouro, mas não queria qualquer envolvimento com a empresa, preferindo estudar para se tornar um advogado. Patrizia, no entanto, era uma mulher ambiciosa e determinada, desesperada para “subir de nível” e se tornar um membro da família Gucci, em vez de apenas carregar o sobrenome em seus documentos, mas se uma coisa fica clara desde o início é que, ao mesmo tempo em que ela era, provavelmente, a mais Gucci de toda a família, ela também jamais pertenceria ao mundo deles.

Além de Gaga e Adam Driver, outros grandes nomes deixam sua marca no longa, como Al Pacino no papel de Aldo Gucci, o tio de Maurizio que, com a ajuda e incentivo de Patrizia consegue convencer Maurizio a, enfim, trabalhar com a família e tomar a posição de liderança da empresa, Jeremy Irons como Rodolfo Gucci (o pai de Maurizio) e Jared Leto, absolutamente irreconhecível como o atrapalhado Paolo Gucci, filho de Aldo. Todos são membros da mesma família tradicional italiana, mas os sotaques escolhidos por cada ator não poderiam ser mais diferentes. Não só os sotaques foram exagerados, muitas vezes as atuações seguiram o mesmo rumo, como no caso do Paulo Gucci de Jared Leto, que se tornou absurdamente caricato em todos os aspectos.

No entanto, o exagero no caso de Casa Gucci não é um ponto negativo, principalmente se levarmos em conta que esse é o intuito de todo o filme, desde as escolhas narrativas e estéticas até a trilha sonora e o figurino, servindo como um elemento narrativo que transforma o filme num drama comicamente trágico e, o mais importante, divertido de assistir. Ainda que tenha quase 2h e 40 minutos de duração (o que também é um pouco de exagero), o tempo não se arrasta e acaba passando relativamente rápido.

Toda a estética do filme se assemelha à história melodramática tanto da marca Gucci, que apesar de ter começado como negócio familiar hoje em dia não possui sequer uma pessoa da família em sua administração, quanto à história da própria Patrizia.

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