Com narrativa arrastada, “Kin” entrega história mal aproveitada mas com potencial de outro mundo

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Adolescentes diferenciados, poderosos e com uma coragem fora do comum são temas recorrentes na telona. Como arte, o cinema permite essa fuga da realidade, seja para uma diversão, reflexão ou experiência artística. Em “Kin” temos um pouco de cada um. Além, claro, do adolescente diferenciado, temos uma experiência curiosa quanto ao próprio gênero. Desde o início, o roteiro é construído como uma ficção científica interessante quanto sua proposta: uma arma aparentemente alienígena em meio a corpos de soldados misteriosos. Mas o foco em questão começa em uma cenário dramaticamente social, tendo a ficção científica como plano secundário e uma característica da história que vem a ter importância mais na frente da trama.

Quanto a isso, Daniel Casey constrói bem o roteiro, conseguindo costurar todas as situações de forma natural. E por mais clássica que seja a narrativa, sem explorar artefatos inovadores ou inéditos, os irmãos Baker escolheram tratar a história da maneira que acharam a mais sincera, afinal, o cerne da trama é criada por eles, e os dois seguiram fielmente a essência do curta “Bag Man” (2014). Mesmo com uma essência de filme de ação adolescente, Josh e Jonathan se mantiveram fiéis ao conceito da direção mantendo uma narrativa mais carregada e lenta em cima daquilo que muitos fariam algo mais frenético e dinâmico. Por mais que a escolha de “Kin” seja um risco, devido a demora do desenvolvimento e do ápice, ela funciona, já que, a discussão central está mais da relação familiar e da humana ao invés de uma aventura com uma arma espacial. Há sim o seu uso, mas ele é justificado com acontecimentos passados relacionados a relação humana. Isso vem muito também da própria construção dos personagens, nos quais nenhum é bondoso. O próprio protagonista, por mais “do bem” que seja, comparado com outros, traz um perfil descontrolado, que pode, muitas vezes, sobrepor a emoção da razão. Nisso, a história consegue ser bem desenvolvida, por mais que de uma forma mais vagarosa. O que acaba prendendo a atenção do espectador é a curiosidade. Não só pelo desfecho daquela trajetória, como do próprio mistério envolvendo a arma. A conclusão do último ato é dedicado exclusivamente para a resolução, no qual temos não só a explicação de muitos acontecimentos, como um aumento de expectativa sobre o universo criado pelos irmãos Baker. Contudo, a narrativa criada pelos dois, aparentemente não agrada um público que vai na esperança de conhecer uma aventura frenética e constante de um jovem “herói”. Aqui, o trabalho é outro. O que é respeitável. Comparando com o recente “Mentes Sombrias” (2018), que além de ter a produção parecida, também trata uma história juvenil. A diferença clara está no estilo cinematográfico. No caso, os irmãos Baker se mantiveram mais corajosos ao escolher uma direção mais carregada, mas que faz jus aos personagens e a jornada, enquanto o longa de Jennifer Yuh Nelson é o oposto. Em partes “Kin” é tudo aquilo o que “Mentes Sombrias” não só queria, mas como deveria ser. Houve uma clara inversão. A temática do longa de Yuh Nelson exigia bem mais a narrativa dos Baker, enquanto “Kin” abriu espaço para a direção da sul coreana.

O elenco se encaixa bem na proposta do roteiro. Sendo esse o primeiro longa do jovem Myles Truitt, é justificável sua limitação. Ele se mantém com um estilo único de atuação e não apresenta tanta variedade, não provando tanto sua competência como profissional. Seu apoio trabalha de forma segura. James Franco e Dennis Quaid preservam uma atuação padrão de personagens passados, no entanto, essa pouca exigência encaixa com os personagens. O mesmo acontece com Jack Reynor e Zoe Kravitz. A generalidade dos personagens cabem na narrativa, mas não ultrapassam aquilo. Todos são muito iguais e previsíveis dentro da história. Como dito anteriormente, saber que todos os personagens não são bondosos já mostra muito da conclusão da trama. As surpresas mesmo ficam guardadas no último ato. Justamente por isso, é dedicado um espaço apenas para a conclusão do longa. Com todo o filme seguindo uma linha mais artística, com uma direção mais dura, o final é o ápice do longa. Não só na revelação de um universo muito maior do aquele “pequeno” road movie, mas também visualmente falando. Justamente esse tamanho de filme fez os efeitos especiais ganharem uma atenção especial. Portanto, o visual é lindo. Por mais que o roteiro preguiçoso pare – literalmente – o filme para explicar os acontecimentos, tudo visto em tela é primoroso, com um acontecimento digno de videogame (como elogio) e que torna toda a situação mais interessante. Muito desse visual é trabalhado com os dois personagens misteriosos – que entregam uma boa surpresa. Desde a primeira aparição, todo o trabalho tecnológico é fielmente próximo a clássicos da ficção científica, deixando o interesse pelo universo aflorando ainda mais. Mas, apesar de convencer nessa parte, ainda é nítida a presença de incômodos.

Por mais que o estilo narrativo de Jonathan e Josh me agrade, é uma experiência mais complicada para um público geral, na esperança de um filme de ação adolescente no estilo “Stranger Things”. Mesmo que hajam elementos tanto da série da Netflix, quanto de “A Chegada” (2016), ainda não convence 100% com toda a trama. Há um peso, mas desnecessário em boa parte. A construção para a belíssima conclusão é boa, mas pesada. Nisso, “Kin” demonstra que o foco poderia ter sido outro, mas por questões, aparentemente financeiras, foi preciso algo mais controlado para ser um primeiro passo para uma jornada ainda maior em uma possível sequência.

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