Com trama ultrapassada, comédia nacional “Solteira Quase Surtando” decepciona

É impossível pensar em cinema nacional e não pensar em filmes de comédia. Não é de hoje que as comédias são responsáveis pelas grandes bilheterias domésticas e ainda que não seja ideal que apenas um gênero se sobressaia, é positivo que tenhamos um “ponto forte” que gere grandes sucessos, como o recente “Minha Mãe É Uma Peça 3” que bateu recorde e se tornou a maior bilheteria nacional da história.

É muito difícil fugir dos clichês quando se trata de comédias, mas a grande questão não é ser original, e sim fazer rir. Infelizmente, no caso de “Solteira Quase Surtando”, nem os clichês fazem rir.

No longa, Beatriz, interpretada por Mina Necerssian, uma solteira convicta, super dedicada à sua carreira bem sucedida e sem qualquer intenção de começar uma família, uma manhã percebe que sua menstruação está atrasada há quase 40 dias. Com medo de uma gravidez indesejada, visita uma médica e descobre que, na verdade, está entrando numa menopausa precoce e sua fertilidade está com dias contados. Bia então muda completamente e começa uma corrida contra seu relógio biológico com a intenção de encontrar um homem para casar e engravidar.

Considerando que estamos em 2020 e que estamos no meio de um movimento muito grande de empoderamento da mulher, a ideia central do filme é no mínimo curiosa. Bia é apresentada, no primeiro momento, como uma mulher muito segura de si e de suas convicções. No entanto, no segundo que recebe a notícia de sua menopausa precoce, todos seus objetivos mudam drasticamente e ela chega à conclusão imediata de que precisa engravidar e mais do que isso, precisa se casar para que isso aconteça.

Os clichês começam, mas não param em Bia. Suas aventuras na busca de um marido são acompanhadas de perto por seu melhor amigo e sua irmã. O melhor amigo é Ravi (Leandro Lima), um homem gay com um relacionamento que esconde da família preconceituosa, e isso é toda a história do personagem. Já a irmã, Gabi (Letícia Birkheuer), é casada com um marido desatencioso, que já esteve perto de traí-la e deixa bem claro que está num casamento infeliz.

O trabalho de Bia é deixado de lado e toda o enredo do filme gira em torno de sua procura pelo “homem perfeito”. Os diálogos soam todos forçados e fora de lugar. Nenhuma trama é bem desenvolvida ou passa de um grande clichê. Todas as falas de Bia e de sua irmã Gabi refletem a ideia de que é necessário um homem para que uma mulher se sinta realizada, apesar do começo do longa ter apontado para outra direção.

Dos diálogos forçados, cenas soltas que parecem não seguir uma única linha de pensamento, atuações que não convencem, até problemas com a edição de som, que por grande parte do filme nos faz pensar que ele foi, na verdade, dublado, “Solteira Quase Surtando” é um desastre que não nos leva a qualquer tipo de conclusão. Mesmo em meio a tantos filmes de comédia nacional, consegue se destacar, mas somente pela falta de capacidade de arrancar risadas.

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