“De Canção em Canção” e a busca por preencher nossos vazios existenciais

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8 em cada 10 cinéfilos atualmente consideram o cinema de Terrence Malick chato ou pretensioso demais. Esse dado – obviamente inventado por mim, embora reflita muito da experiência que tenho com outros colegas críticos/cinéfilos – demonstra que o recluso diretor, 2 vezes vencedor em Cannes e indicado a 3 Oscars, deixou de ser um dos mais promissores e respeitados talentos de sua geração para se tornar alguém tão vaidoso que ultimamente só faz filmes para si mesmo, não pensando no público.

Honestamente, não vejo problema algum em seu estilo. É exatamente o que espero de diretores que considero “autorais”. O alto grau de subjetividade dos seus últimos filmes, composto por um estilo de narrativa fragmentado e visual monumental, expressam toda a liberdade de Malick como realizador. Seus filmes, se apreciados com atenção e mente aberta, podem significar a cada espectador uma mensagem diferente e esse é o charme de sua obra para mim.

É claro que com “De Canção em Canção” não é diferente. Mais uma vez, Malick reúne um elenco estelar para acompanhar a trajetória de quatro personagens. Faye (Rooney Mara), BV (Ryan Gosling), Cook (Michel Fassbender) e Rhonda (Natalie Portman) alternam entre triângulos amorosos e desfrutam do sucesso proporcionado pela cena musical em Austin, no Texas, enquanto precisam lidar com os perigos da sedução e traições do ramo.

Você deve estar pensando: qualquer filme que precise antecipadamente defender o diretor não deve ser lá grande coisa. Mas não é bem assim. Basta entender a proposta de Malick. Em “De Canção em Canção”, creio que ele fala da geração atual usando o famigerado universo do Rock como pano de fundo. Impaciente, sedenta por experimentar sensações (mesmo que passageiras), muitas vezes indo ao “limite”, com sexo, drogas e etc.

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No entanto, essa busca por transcender a experiência humana tem seu preço. “Ficamos felizes e extasiados. E depois, (apenas) horas depois, sentimos a tristeza mais profunda” – diz a cantora Patti Smith a Faye, personagem de Rooney Mara. A própria Faye divaga no início do filme: “qualquer experiência é melhor do que nenhuma”. Pelo menos antes de conhecer BV (Gosling).

Faye e BV representam os novos integrantes deste universo cheio de luxo e prazeres. Dois compositores que foram seduzidos por esse estilo de vida extremamente atraente e acabam se envolvendo com Cook (Fassbender), um produtor musical que conhece todos os segredos do meio. Talvez Malick use Cook como uma própria analogia para o filme.

Para ele, a música deixou de ser essencial, para se tornar um mero detalhe na indústria, assim como no filme. O diretor parece estar muito mais interessado nas pessoas e em como suas vidas são afetadas, do que na música em si. Outro ponto que reforça isto é o próprio título original do filme, “Weightless” (sem peso), embora “De Canção em Canção” também demonstre que de single em single não há mais preocupação em se construir uma obra completa.

Sendo assim, quando Faye e BV se conhecem, há praticamente uma conexão imediata. Quem mais apaixonado por música do que os próprios compositores? E essa afinidade os une. Mas, é difícil deixar tudo para trás. Por que nós – cheios de sonhos e objetivos – precisamos de pessoas como Cook em nossas vidas?

Simples, elas são facilitadoras para nos levar onde queremos estar, ou preencher nossos vazios existenciais, que seja por um momento. No entanto, tudo tem um preço, já dizia Patti Smith no início do texto. Quem você é na vida, o facilitador, o sonhador ou alguém que já desistiu do sonho e se acomodou onde está hoje?

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É claro que tentar apenas racionalizar o filme é torna-lo muito simples, algo que certamente ele não é. Auxiliado pela quinta contribuição com o diretor de fotografia Emmanuel Lubeski, Malick mais uma vez constrói um mundo de “hiper-realidade”. Tudo parece um sonho. Janelas imensas, iluminação exagerada, distorções na câmera, inquieta, atenta aos detalhes, muitas vezes se distanciando do que está sendo dito pelos personagens.

Como toda boa história, era necessária uma dose de conflito. Aqui talvez seja o ponto em que o filme deixa mais a desejar na minha opinião. Essa jornada da vida simples ao sucesso que Mara e Gosling atravessaram (e o filme não mostra), é representada pela personagem Rhonda (Natalie Portman), uma garçonete que Cook se interessa e acaba a fazendo sua esposa.

O deslumbramento acontece mesmo – até eu, do outro lado da tela, fiquei com inveja dos shows assistidos do palco, jogos vistos em camarotes e etc. Mas, eu compreendo algumas pessoas que não vão “comprar” esse relacionamento (bem como os outros do filme), pois tudo acontece muito rápido, há pouco envolvimento do espectador com os personagens. Entretanto, novamente em defesa do filme, isso pode ser outra forma de Malick afirmar a superficialidade do universo.

Lembrando que, quando as gravações iniciaram, não havia nem roteiro. Mesmo assim, em qualquer entrevista de qualquer ator em ascensão sobre Malick, eles expressam o desejo de querer trabalhar com o diretor. Quem não está acomodado, quer o desafio de trabalhar com Malick, o aprendizado que isso traz. E em “De Canção em Canção” o elenco foi primorosamente escolhido.

Fassbender acabou substituindo Christian Bale no corte final, e foi uma escolha acertadíssima. Seu estilo ameaçador e sua postura “animal”, combinam com o predador musical que ele representa. Gosling, mais uma vez, é charmoso e vulnerável, alguém que perde as coisas por não lutar por elas – talvez com o ingênuo pensamento de que, se for bom o suficiente, tudo vai dar certo.

Mara e Natalie representam o mesmo sonho, mas vão ter destinos completamente diferentes ao final. Como dizer não para a sedução de ter tudo o que deseja? Por algum motivo, em vários momentos me veio à mente o filme “O Advogado do Diabo”. Uma frase do próprio Cook reforça isso: “tudo é queda livre”, subentendendo “se estamos fadados a destruição, por que não aproveitar o momento?”. O destino oposto e fatídico das duas explica o porquê.

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Tecnicamente, “De Canção em Canção” é de beleza ímpar. Malick é fascinado por luz e planos abertos. A graciosidade dos planos, cores, cenários e paisagens é impressionante, desde a poeira quando sobe, o movimento da água com a brisa… Ninguém capta a beleza estilizada da natureza como as lentes de Lubeski, muitas vezes a tornando mais marcante do que realmente é.

Em contrapartida, há certa tristeza nessa beleza. As casas são vazias como as vidas dos personagens. Não fosse a companhia um do outro, nos momentos em que dividem a tela, seria quase depressivo – inclusive, em um momento de discussão entre Faye e BV ele vai abrindo as gavetas da cozinha, mostrando que não há nada lá dentro. E, curiosamente, há grandes pausas silenciosas, que reforçam ainda mais esse vazio.

O objetivo desta análise não foi te convencer a ver o filme. Acredite que Terrence Malick não está nem um pouco preocupado se você vai ver ou não, senão ele faria filmes mais “palatáveis” a qualquer público. Particularmente, considero “A Árvore da Vida” um filme mais assertivo e superior do que este, por exemplo.

Nem sempre se acerta no alvo, ainda mais para um realizador de projetos tão pessoais como ele. Mas, por algum motivo, são filmes assim que me dão mais vontade de escrever. Aqueles que não são unanimidade, os que polarizam as opiniões. Talvez você assista e tenha uma visão completamente diferente da minha, o que seria incrível.

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E, apesar deste mundo de superficialidade, de erros e perdas, a mensagem é otimista. Como diria Nietzsche em “Eterno Retorno”, tudo retorna, o prazer e o desprazer, o deleite e a dor, a alegria e o sofrimento. Os erros que cometemos hoje cometeremos amanhã.

Ao invés de nos abater e aceitar esse destino, devemos buscar a criação na destruição, lutar pelo que realmente é importante para cada um de nós. Transcender os limites que a vida nos impõe. Fazer a diferença enquanto estamos vivos.

E você, já assistiu ou está ansioso para ver? Concorda ou discorda da análise? Deixe seu comentário ou crítica (educadamente) e até a próxima!

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