Despedida conclui história de ‘Sense8’ magistralmente e deixa marca na história da Netflix

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Acompanhar uma série exige dedicação. São pessoas e histórias das quais passamos um bom tempo, em frente a uma (ou diversas) telas, ficando nervosos, torcendo, discutindo, analisando e apreciando. Passamos horas, dias, semanas e até meses ao lado de personagens que aprendemos a amar, e alguns, a odiar. Esse é o poder das séries. Diferente de um longa metragem, seriados passam a ser mais longos, com os episódios servindo de construções mais trabalhadas de narrativa e personagens, para o espectador simpatizar e conhecer seus defeitos, ideologias, qualidades, atitudes, e fazê-lo gostar de tudo, com o intuito do acompanhamento durar por mais tempo. Mas toda a história, em algum momento, ganha seu fim, e nós, como espectadores apaixonados, sabemos que despedidas não são fáceis. Por experiência própria, doeu dar tchau para ‘Friends’ (1994-2004) e ‘Breaking Bad’ (2008-2013), por exemplo. E, por mais que não esperava, despedir-me de Will, Nomi, Lito, Sun, Wolfgang, Kala, Capheus e Riley foi tão doloroso quanto.

Em 15 de junho de 2015, a Netflix chegou com a proposta de uma história diferente das produções mais centradas da casa. Além de uma história curiosa, a atenção passou para quem era a mente por trás, ou melhor, “as”. Famosas pela franquia ‘Matrix’ (1999-2003), as irmãs Wachowski abraçaram a proposta e mergulharam de cabeça nessa, que se tornou uma série marcante do sistema de streaming. E o mergulho foi profundo. Com episódios constantemente dirigidos em diferentes países, a série entrou no ranking das produções mais caras da Netflix, ficando em terceiro lugar, com o orçamento de US$108 milhões por temporada – perdendo para ‘The Get Down’ (US$120 milhões) e ‘The Crown’ (US$130 milhões). Apesar da boa intenção, doeu no bolso, e em 2017, depois de duas temporadas e um especial de duas horas, os fãs receberam aquela que é a pior notícia para quem acompanha séries. Mesmo com a Netflix dando adeus aos clusters e economizando, o poder dos fãs justificou a produção de uma justa conclusão, chegando a este momento tão esperado. E o que os fãs pediram, foi entregue.

Depois de uma belíssima primeira temporada, marcada pela ótima direção, um roteiro bem escrito e discussões fundamentais para um século XXI conturbado, ‘Sense8’ conquistou o coração de cada um dos espectadores. Apesar de seus momentos noveleiros e clichês, a série atingiu certeiramente no alvo. Mesmo com continuações não tão boas assim, como o fraquíssimo especial de natal e uma segunda temporada um tanto conturbada em relação a trama, a paixão era grande. Por isso, a tarefa de um episódio final não era fácil. Além de uma despedida honesta, dentro de duas horas também precisavam ser respondidas diversas perguntas deixadas pelas temporadas passadas. E como apresentei logo no começo do parágrafo: foi entregue.

Ainda com seus clássicos erros de roteiro, com alguns diálogos fracos e incoerentes, as falhas passam despercebidas. Independente do clima de adeus falar mais alto, é impressionante como Lana, David e Aleksandar conseguem construir bons textos e crescer os personagens certos na hora certa, tornando qualquer erro um mero defeito dentro de uma linda obra. Com a participação de mais personagens secundários, o equilíbrio de cada um é muito bem trabalhado, tanto que, mesmo com mais de dez personagens no centro da trama, o tempo de tela é bem distribuído, dando, inevitavelmente, um certo destaque para alguns personagens secundários que caíram nas graças do público, como Amanita e Daniela, e até, Rajan. Tornou-se nítido que os três roteiristas passaram por dificuldades para construir uma narrativa de oito ou dez episódios, em um produto de duas horas. Muitos momentos são corridos e não tão bem trabalhados como mereciam, enquanto outros, mas ligado a trama central, receberam mais atenção, chegando até deixar muitas questões sem uma resposta definitiva. A correria transparece também nas cenas de ação, que, mesmo boas, não trouxeram o mesmo capricho presente na primeira temporada e, claro, na marca do nome Wachowski: ‘Matrix’ (1999).

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Com relações clichês e mal trabalhadas, o texto carrega muito dos acontecimentos passados para serem mostrados novamente e aquecer o coração do fã, mas o roteiro se supera e chega a tentar expandir a ideia, provando o potencial e o quanto ainda poderia se falar sobre toda a ciência, a filosofia e o misticismo por trás dos sensates. Tanto, que muitos personagens novos são introduzidos para justificáveis soluções, e, como já explicado anteriormente, mesmo que haja seus erros, eles são descartáveis. A qualidade ainda se sobressai, e muito se deve ao elenco, que em tela, transmite maravilhosamente a paixão de fazer parte do projeto e como todos se gostam e admiram uns aos outros. Para uma série com uma proposta como a de ‘Sense8’, a relação é fundamental para toda a narrativa se tornar crível ao público. Não só o carisma, mas a evolução de cada um, tornou-se fundamental no crescimento da série e na empatia do público pela mesma, e quanto a isso, Lana se provou intocável no quesito construção, conseguindo encaixar temas sobre lutas de minoria e empoderamento de forma natural e sem fórmulas clichês de discurso, aumentando, assim, o núcleo de cada personagem – com um destaque para o crescimento narrativo de Kala, principalmente. As atuações são essenciais para a proposta, com ninguém se destacando negativamente ou muito positivamente, dando um equilíbrio até nisso, chegando a ter personagens cansativos em episódios passados, mas que aqui, são bem aproveitados.

Para muitos, o sobrenome Wachowski perdeu sua força depois da trilogia iniciada em 99, contudo, a essência das duas é muito presente em ‘Sense8’, principalmente na montagem. Desde a primeira temporada, a edição chamou a atenção com seus cortes secos e contínuos trazendo ambientações diferentes para cada situação, e trazendo muito dinamismo até para as ações mais simples. Aqui, devido ao corte de gastos, a produção não passou por muitos países, tendo inúmeras cenas no mesmo local, mas mesmo assim, a força da montagem da primeira temporada, esteve presente. E com esse episódio, é observável a Wachowski de alta qualidade. Ainda que as duas construam conteúdos excelentes juntas, Lily não se mostrou muito presente nessa conclusão, estando apenas como produtora, já Lana, pelo o contrário, assumiu a direção, além de ser uma das roteiristas. Obviamente, não estou querendo apontar que uma acaba sendo melhor que a outra, mas é algo a se observar em meio a uma filmografia em que, constantemente, as duas trabalham unidas.

Em razão da própria série ser feita com o coração, sua análise merece um desvio de consciência. A exibição, ocorrida em um evento fechado na última sexta (01) – que também contou com uma breve participação de parte do elenco – transformou o último episódio em uma experiência. Em uma sala lotada não só de jornalistas – como o que vos escreve – mas também de fãs, fez da despedida algo ainda maior e ainda mais dolorido. Assistir ‘Sense8’ ao lado de apaixonados fez meu olhar se desviar da técnica e olhar à paixão. Toda a vibração, a torcida, a emoção, só me fez perceber, de verdade, sua importância, e que ela vem da simples aventura da trama, dos personagens e até da mais crua diversidade. Os sentimentos foram infinitos dentro de duas horas e meia de episódio, houveram risadas, choros, gritos, mas principalmente, coração. O objetivo foi atingido, não só em entregar uma despedida honesta e satisfatória, mas em conseguir passar a mensagem que era preciso. ‘Sense8’ nunca quis se provar mais do que era para surpreender crítica ou ganhar prêmios, mas sim, trazer cativação e um conteúdo benéfico à diversidade. Sobre o final, o texto fez com que a dor do adeus fixasse em mim. Mesmo não sendo um fã assíduo da história, devo admitir que foi uma aventura memorável ao lado de personagens cativantes e muito carismáticos.

Nessa guerra padrão de bem contra o mal, ‘Sense8’ explora o mais e os subtemas que o gênero e o estilo de obra podem fornecer. Com um discurso definido já no primeiro episódio da série, tudo se resume ao amor, e a necessidade de estarmos conectados uns com os outros para sermos pessoas melhores, e, consequentemente, construir um mundo melhor. Apesar da utopia, é um primeiro passo dado, pois sabemos que, para caminhar em frente, o primeiro é o mais importante de todos. Ainda não caiu a ficha da despedida. A banalidade do final, com características de novelas melodramáticas e importantes questões não respondidas, não escondem ou apagam o que ‘Sense8’ fez com a Netflix, mas principalmente, com as pessoas. Em um mundo onde a intolerância e o ódio ainda triunfam, ‘Sense8’ mostra que não precisa ser assim, e que pessoas “diferentes” podem ser quem elas quiserem e serem felizes na sua forma desejável. É só torcer para que o negativismo de ‘13 Reasons Why’ decaia, para sobressair a mensagem de amor e esperança de Will, Nomi, Lito, Sun, Wolfgang, Kala, Capheus e Riley. Caso sua ignorância o fez deletar sua conta, pense duas vezes nos conteúdos que mudaram (e mudam) a vida de muitas pessoas, com inclusões e uma importante mensagem de amor.

Adeus e obrigado, sensates. Nos encontramos por aí.

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