O principal embate para criadores de histórias não está na criação de uma ideia ou desenvolvimento da narrativa, mas sim em seu final. Concluir jornadas, sejam elas longas ou não, é uma missão nada tranquila. Quando o assunto é filme de terror, essa missão se agrava ainda mais, já que, historicamente, o gênero não demonstrou tanta força nesse quesito. Narrativas com mais filmes, então, exigem um trabalho ainda mais cuidadoso de não só manter a essência de seu tom, mas também manter a construção de seus personagens. Por sorte, a conclusão do grupo dos Losers atinge os dois objetivos, conseguindo focar onde se deve. 

Ainda que o livro de Stephen King adote uma narrativa não-linear, com trocas constantes entre o núcleo infantil e o adulto, Gary Dauberman adotou uma linguagem padrão e até mais palatável ao grande público. O mistério envolvendo as sete crianças e o diabólico Pennywise (Bill Skarsgard) se mantém intacta mesmo com a nova abordagem definida pelo roteirista. Por sua vez, essa sequência/conclusão sofre por precisar repetir os acertos do primeiro longa.

Diante um cenário de nostalgia – e, principalmente, com o sucesso de Stranger Things, causado diretamente pelo seu elenco mirim – It – Capítulo 2 sente a necessidade de recuperar o espírito anterior ao extremo. Ao estabelecer uma divisão entre o momento da infância em um filme e o momento “presente” no outro, Dauberman criou um claro estabelecimento de núcleos para desenvolvê-los de maneira individual. No entanto, isso não acontece da maneira esperada. A adaptação para o segundo filme cria situações que exige a presença de flashbacks constantes não só com a intenção de refrescar a mente do público – caso você tenha uma memória mais nítida do filme de 2017, as retomadas não agradam – mas também de incluir mais a presença dos atores mirins, já que os mesmos conquistaram os corações dos espectadores anteriormente. 

Ao mesmo tempo que o objetivo cumpre sua função, também prejudica o desenvolvimento dos “novos” personagens, que, agora, são de interesse narrativo. Isso causa a mesma falha do primeiro em dar um foco para mais personagens do que para outros. Há uma clara construção muito mais bem definida para Bill, Beverly, Ben, Eddie e Richie do que para Mike e Stanley. Possuem motivos para a escolha, mas ainda assim provoca certo incômodo na falta de um equilíbrio. Tanto que em It – Capítulo 2, determinado acontecimento acaba ganhando um tom muito mais ameno, fugindo completamente da essência do livro e da própria adaptação de 1990. Mesmo que mudanças sejam necessárias para transportar um obra literária para cinematográfica, a escolha aqui faz o acontecimento perder sua potência. 

Mas ainda assim, a direção de Andy Muschietti controla com sabedoria sua história. Tanto a direção quanto o roteiro, mantém a energia do primeiro filme, conseguindo seguir uma mesma estrutura. Dauberman segue a narrativa de dividir seus personagens, juntá-los, separá-los e juntá-los novamente. Ainda que seja uma decisão preguiçosa, é previsível diante o acerto que acabou sendo o primeiro longa. Diga-se o mesmo da direção do argentino.

Muschietti mantém a essência nostálgica misturada com um terror psicológico, – muito mais para os personagens do que para o público – com uma forte presença de acontecimentos em computação gráfica do que algo mais realista.

It – Capítulo 2 consegue acertar na adaptação de uma obra tão complicada, mesmo que o conteúdo original não consiga ser superado. E um desses acertos se deve, como comentado, ao elenco. Já se falou muito sobre a escolha dos jovens, e promissores, atores no longa anterior, mas aqui, isso se concretiza com ainda mais força. Torna-se impressionante a semelhança entre todos do elenco, e ainda mais a qualidade na escolha. James McAvoy, Jessica Chastain, Bill Hader, Jay Ryan, James Ransone, Isaiah Mustafa e Andy Bean se mostraram à altura como substitutos, porém tudo dentro de um trabalho satisfatório, mas nada grandioso.

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Quem mantém essa força é Skarsgard. O ator conseguiu se provar ainda mais assustador na pele do palhaço dançarino e se provou o principal foco de Muschietti. Como dito, há uma presença de um terror psicológico com as formas adotadas pela criatura, mas que não funcionam para o público da mesma maneira que para os personagens, a não ser quando Pennywise está presente. Neste quesito, o argentino consegue realmente construir tensão e o terror que tanto se espera.

É inevitável dizer que esta nova versão da história supera a de 90, mas é também inevitável que as limitações da época resultaram em momentos mais icônicos e muito mais agonizantes. Esta característica se torna mais clara no núcleo de Henry Bowers (Teach Grant). Sua construção em It – Capítulo 2 se mostra mais um empecilho para o desenvolvimento narrativo do que realmente uma participação influenciadora na jornada dos personagens. O que decepciona pela força maléfica que o mesmo tem no primeiro filme, sendo ele o terror humanizado que King tanto trabalha.

O terror humanizado, muito importante na linguagem do autor, é muito melhor trabalho no primeiro. Aqui, o fantasioso toma muito mais conta, mesmo com tentativas de tornar a faísca em uma chama. O próprio início transporta o espectador para esse terror tão real e atual, e ganha mais potência com uma cena futura, envolvendo Jessica. No entanto, as duas caem em desuso, dando mais espaço para o, tanto citado, “medo psicológico”. 

O que também prejudica o núcleo de Bowers é o tom menos sombrio trabalhado por Muschietti, que adota uma linguagem até mais cômica do que a situação exige. Neste ponto da comédia, Dauberman é certeiro com sua construção de humor. Mesmo que o roteirista perca a mão ao insistir em repetições, há uma química muito bem definida entre Ransone e Hader, principalmente. Este, por sua vez, provando-se um poderio cada vez mais significativo em suas interpretações, mantendo uma potência cômica, mas também realizando um bom trabalho dramático. 

Assim, Dauberman e Muschietti aproveitaram bem o material em mãos e conseguiram concluir a história de maneira honesta, representativa e com uma forte mensagem sobre a batalha de enfrentar seus medos.

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