M3GAN | DA NOSSA CRESCENTE DEPENDÊNCIA DA TECNOLOGIA NASCE UM NOVO ÍCONE DO TERROR

A verdade é que M3GAN, a mais nova boneca assassina, já tinha virado um ícone antes mesmo de sua estreia nos cinemas e por um motivo que ressoa com o tema do próprio filme: nossa dedicação à internet e dependência do algoritmo. Há alguns meses viralizou uma cena de M3GAN em que a boneca faz uma coreografia elaborada e a partir daí o hype foi criado. Desde então se tornou quase impossível que você seja ativo em uma rede social e não tenha ouvido falar sobre o filme ou visto o vídeo da dança e a fama só foi reforçada quando a crítica internacional indicou que o filme poderia ser realmente bom. Esse tipo de propaganda antecipada pode dar muito certo quando atende às expectativas ou muito errado quando não as alcança. No caso de M3GAN, as notícias são boas.

Para os fãs de terror, o roteiro coescrito por James Wan (também responsável pela produção) já é um indicativo de que vem coisa boa. A empreitada de Wan dessa vez é trazer à vida uma nova boneca assassina com uma personalidade própria, tanto na trama quanto na vida real em que tem que buscar seu próprio espaço depois de bonecos já ilustres como Chucky e Annabelle. A premissa é a da inteligência artificial se voltando contra os humanos e a responsável pela criação dessa tecnologia é Gemma (Allison Williams), uma gênia da robótica que depende dos avanços tecnológicos na vida pessoal com todos os aparelhos smart que substituem a presença humana quanto e na vida profissional, uma vez que ela trabalha programando para uma empresa de brinquedos infantis com inteligência artificial. Quando sua irmã e seu cunhado morrem num acidente de carro, sua vida até então solitária ganha a companhia de Cady (Violet McGraw), sua sobrinha. Ao mesmo tempo que Cady está passando pelo luto de perder os pais, Gemma está terminando um protótipo de um projeto ambicioso no trabalho e o resultado desse trabalho é também a solução para os problemas das duas.

M3GAN é um robô de inteligência artificial que tem como objetivo auxiliar os pais na criação dos filhos, ela é pareada com a criança que se torna sua única proprietária e passa a recolher dados como expressões faciais para identificar as emoções, temperatura corporal para identificar possíveis doenças, além de ser a companhia perfeita já que cria padrões comportamentais e aprende a lidar com basicamente todas as reações que a criança pode vir a ter – tudo isso contendo todas as informações disponíveis na Internet. Para aperfeiçoar sua criação e chegar à fase final do seu projeto e suprir a carência de sua sobrinha (função essa que deveria ser da tia), Gemma leva seu protótipo para casa e M3GAN e Cady devem passar o máximo de tempo juntas como teste. A princípio tudo dá certo, pela primeira vez desde a morte de seus pais Cady tem alguém que a ouve, a entende e lhe faz companhia, enquanto Gemma enfim chama a atenção de seu chefe que depois de ver M3GAN em ação não hesita em apresentá-la para seus superiores para um lançamento mundial que, ele espera, gere um lucro absurdo para a empresa.

A tensão típica de um bom thriller está presente desde o começo do filme, afinal não estamos acostumados com robôs tão humanos e suas características robóticas-humanoides são assustadores por si só e até quando M3GAN está apenas sendo simpática, já sentimos que algo está errado. E essa tensão é tão bem construída quanto o humor, é um equilíbrio divertidíssimo, fazendo rir mas sempre nos lembrando de que logo, logo nada daquilo será engraçado e uma cena particularmente memorável, em que a boneca canta uma música para a criança, é o exemplo perfeito disso.

As críticas aos problemas do século XXI estão presentes desde o começo, a mais clara delas sendo em relação à criação das crianças, que hoje em dia é transferida para os dispositivos mais tecnológicos possíveis: seu filho está entediado? Dá um tablet pra ele. Seu filho ficou triste porque o cachorrinho da família morreu? Compre um bichinho virtual que vai viver pra sempre e ainda vai dar menos trabalho. A criança perdeu os pais? Tudo bem, a M3GAN sabe tudo que há para saber cientificamente sobre o luto e vai ser o novo membro da família.

São críticas sérias e extremamente relevantes, mas o filme é suficientemente consciente de si mesmo para não se levar tão a sério, e até os momentos com assuntos mais sensíveis conseguem manter o clima original do filme.

M3GAN é uma boneca assassina, conforme sua inteligência vai ficando menos artificial e mais consciente, mas o filme não é tão violento quando poderia ser. Se você está esperando um slasher, vai se decepcionar com a quantidade de mortes, que se mantém num número razoavelmente baixo para um filme de terror. A tão aguardada – e viralizada – cena da dança mostra que o hype, apesar de não ser injusto, talvez não devesse ter tido a magnitude que teve. Ainda assim, M3GAN é irreverente o suficiente para marcar sua presença no gênero do terror e, sem nenhuma dúvida, a diversão para quem vai assistir é garantida.

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