Mesmo sabendo atirar, “Projeto Gemini” mira em uma trama profunda e erra o alvo

Desde rapper até protagonista da própria série, Will Smith se consolidou no mercado do entretenimento em sua juventude, provando ter um grande carisma e talento para que continuasse em alta até os dias de hoje. Estrelando diversas obras cinematográficas, seus fãs puderam presenciar o ator tanto em filmes bem-sucedidos, como “Homens de Preto”, até filmes que se tornaram um fracasso de público e crítica, como “Depois da Terra”. Em 2019, entretanto, o ator volta em uma obra que prometia revolucionar com sua qualidade técnica, não só estrelado por Smith, mas também duplamente estrelado por ele – vê-se, assim, uma oportunidade de assistir ao ator vivenciar uma experiência em dose dupla em tela, que acaba por se tornar repetitiva, previsível e desgastante.

Uma das coisas que prometeu, entretanto, Projeto Gemini realmente consegue entregar: sua qualidade técnica é inegavelmente bem trabalhada e encanta o espectador ao decorrer da trama – principalmente em uma sala diferenciada, como IMAX. As cenas de ação acabam por ser bem desenvolvidas e chamativas, fazendo com que os fãs do gênero não tirem os olhos da tela e, quando tiram, anseiem por mais. Em determinados momentos, inclusive, o espectador pode se sentir em meio a um videogame, com breves cenas de ação em primeira pessoa que emergem o público na narrativa.

Projeto Gemini, entretanto, acaba focando de tal forma na ação e em seus efeitos que deixa de lado um trabalho de roteiro minimamente razoável. Tal escolha é compreensível para esse tipo de filmes, porém o problema do longa-metragem se esconde nesse mesmo fator: em vez de ser apenas mais um filme de ação sem muito conteúdo, o novo filme de Will Smith visivelmente se esforça para desenvolver uma trama profunda e relevante, o que acaba, por ter sido feito de forma ineficiente, fazendo com que tais construções narrativas se tornem risíveis e sem poder algum sobre os espectadores.

Os medos do protagonista, que acabam compondo suas fraquezas, são apenas jogados em cena com a esperança de que o público os entenda e tenha empatia por Brogen, sem o mínimo de cuidado e planejamento que façam com que o espectador se relacione com ele. O trauma do protagonista em relação a se afogar, por exemplo, é abordado em duas cenas de forma extremamente rasa, como quando é retratada em meio a um sonho noturno do personagem, dando a sensação de que toda aquela primeira sequência foi colocada ali de última hora, apenas para propiciar um efeito bacana de transição e não passar batido o motivo de seu medo, não se importando, assim, com a carga emocional narrativa ou com a construção de seu ritmo.

Mesmo com uma proposta de filme de ação, o longa tenta, portanto, se mostrar profundo e significante, inclusive com momentos que propiciam o choro do protagonista – ou de até mesmo de seu clone –, se esforçando para emocionar o público, mas não ultrapassando um ritmo forçado de sentimentalismo. Se mirasse apenas em um filme de ação sem dar grande relevância para simbolismos e clichês emotivos, Projeto Gemini poderia ser muito melhor do que realmente é, pois evidentemente seu potencial estava na qualidade gráfica de seu desenvolvimento, que inegavelmente encanta o espectador ao longo do filme, mas se perde tentando ser algo mais do que isso.

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