“O HOMEM QUE VENDEU SUA PELE” PROVOCA REFLEXÃO SOBRE A QUESTÃO DOS REFUGIADOS ÁRABES

A primavera árabe foi um dos movimentos sociais mais importantes da história contemporânea, seja pela espontaneidade das organizações sociais de diversos países ou pelos desdobramentos que geram até hoje crise por conta dos inúmeros refugiados que seguem deixando seus países fugindo da repressão e guerra de regimes teocráticos e ditatoriais. Recentemente, com as imagens de pessoas fugindo do Afeganistão nos damos conta que ainda é uma questão muito atual.

Na Síria, o presidente Bashar Al Saad, para evitar o crescimento do movimento iniciado em 2010 que causou a queda de diversos líderes em países vizinhos, aumentou a repressão na região e aumentou a violência levando o país para uma guerra civil, ao mesmo tempo que uma escalada de movimentos radicais como Estado Islâmico ganhava força.

Neste contexto, Sam Ali (Yahya Mahani) um jovem sírio e sensivel, ao declarar que seu amor por Abeer (Dea Liane) dentro de um trem é um ato revolucionário, acaba preso e passa a ser perseguido pelo governo. Para sobreviver ele é obrigado a fugir para Líbano sem sua amada. Lá passa dificuldades para viver como imigrante clandestino até que seu destino se cruza com o renomado artista plástico Jeffrey Goldefroi (Koen De Bow) que lhe propõe a chance através de uma intervenção artística inusitada lhe conceder a possibilidade de ter uma vida diferente longe dali.

O longa “O HOMEM QUE VENDEU SUA PELE” faz uma crítica precisa e direta à exposição do sofrimento de refugiados árabes na Europa e ao tráfico humano. Quando Sam recebe sua tatuagem com visto de entrada para qualquer lugar do mundo, ele ganha a possibilidade de acessar qualquer país ao mesmo tempo que se torna uma mercadoria valiosa com uma peça de arte. A arte que é admirada pelo povo e simboliza sua liberdade fora da sua terra natal expõe a desumanidade do ocidente que assiste os conflitos nesses países do oriente médio com o mesmo distanciamento de alguém que é capaz de comprar um humano como se ele fosse uma peça para decorar um ambiente.

A direção de Kaouther Ben Hania é corajosa e sensível ao conduzir o bom elenco em cenas difíceis como a exposição em Bruxelas e o leilão traçar a jornada de Sam em busca de se unir com Abeer mesmo diante da vergonha e das dificuldades.

A produção traz uma excelente reflexão do papel da arte e sua função libertadora, como mostrar as dificuldades vividas na Síria e a visão preconceituosa de países desenvolvidos que transformam os refugiados em escravos modernos de um sistema que não os acolhe mesmo depois de inseridos na sociedade e novo país por décadas.

Até quando o ser humano vai observar outros da sua espécie morrendo e sofrendo e isso será um mero entretenimento? Só uma revolução através da arte para nos trazer essa discussão e reflexão em tempos tão difíceis e atuais.

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