A Hora do Mal
Diretor
Zach Cregger
Elenco
Julia Garner, Josh Brolin, Alden Ehrenreich
Roteirista
Zach Cregger
Estúdio
Warner Bros. Pictures
Duração
128 minutos
Data de lançamento
14 de agosto de 2025
Quando Zach Cregger lançou “Noites Brutais” em 2022, fez sua estreia nos filmes de terror com o pé direito. Dentro de uma narrativa de três atos distintos, contou uma história bem construída e assustadora e garantiu boas reações, tanto do público quanto da crítica. Aqui no Brasil, o filme foi lançado diretamente no streaming, mas agora, com seu segundo filme, temos a oportunidade de acompanhar o trabalho de Cregger nas telonas, e todo mundo sai ganhando. “A Hora do Mal” é um reflexo direto do sucesso de seu antecessor, aproveitando tudo que deu certo, mas com ousadia para ser maior (com a segurança de alguém que já conhece o caminho) em todos os sentidos.
A premissa do filme, por si só, já é capaz de despertar a curiosidade e também nos deixar alerta em relação às coisas macabras que podem estar para acontecer. Num dia como qualquer outro, a professora de ensino fundamental Justine (Julia Garner) aparece para dar aula, mas apenas um de seus alunos está lá, o pequeno Alex (Cary Christopher), mas o que aconteceu não foi simplesmente uma falta coletiva, e sim um mistério: às 2:17 daquela madrugada, todas as demais crianças simplesmente saíram correndo de suas casas e desapareceram sem deixar rastros. Através de uma narração infantil, somos informados de que a polícia está investigando o caso, mas sem qualquer sucesso, Alex já foi interrogado, mas afirma não saber de nada e todo o desespero dos pais está se transformando em ódio pela professora: eles têm certeza de que, como todas as crianças desaparecidas eram alunas dela, Justine certamente está envolvida (apesar de não haver qualquer indício real).
Cregger dividiu “Noites Brutais” em três histórias a princípio distintas, e em “A Hora do Mal” também recorre ao recurso da divisão, mas para mostrar os diferentes pontos de vista da mesma história. Começamos pelo ponto de vista de Justine, mas depois passamos por um dos policiais, um dos pais das crianças, um viciado em drogas da cidade, o diretor, entre outros, e através desses pontos de vista vamos juntando peças do quebra-cabeça que é esse mistério. Como as narrativas mais se complementam do que se repetem, Cregger consegue evitar que o filme fique cansativo, mas a história tem um ritmo um pouco mais arrastado durante a primeira metade (o oposto de Noites Brutais, que tem sua maior força no começo), o que acaba desmotivando, mas não o suficiente para prejudicar o que vem a seguir: um desenvolvimento empolgante e uma conclusão genial.
Sem fazer uma crítica direta, Cregger aborda algumas mazelas sociais pela tangente, mas de forma que se faz entender. Do jovem viciado ao policial alcoólatra que tem um caso extraconjugal, ao policiamento de uma cidade suburbana às expectativas parentais e familiares e suas frustrações, mas a que se destaca é a relação dos pais e demais habitantes com a culpa e como não pensam duas vezes antes de depositá-la naquela que mais se distancia do ideal que eles tem em mente, a professora. Justine parece ser uma ótima professora, é querida pelas crianças, já foi acusada de passar dos limites simplesmente por se importar demais com os alunos, mas ela também é uma mulher jovem, independente e solteira – ela não é mãe, não é esposa e isso é suficiente para que sua imagem seja vista com receio por quem performa a imagem esperada de cidadãos do bem numa cidade como aquela.
O terror em “A Hora do Mal” começa mais forte com o suspense, se intensifica com elementos mais gráficos, jumpscares (nunca em excesso), figuras bizarras e misteriosas. A construção da tensão é feita com uma trilha sonora certeira, assim como o jogo de câmera, garantindo que esse seja sim um grande filme de terror, mesmo quando dá espaço para um clima mais leve, bem-humorado e mais acompanhado da comédia do que se poderia imaginar. É um contraste bem-vindo e que só faz elevar a experiência. “A Hora do Mal” sabe quando deve se levar a sério, mas também sabe quando aproveitar outras sensações, coisa que fica ainda mais evidente na sua última cena, uma conclusão hilária, mas que se encaixa perfeitamente com tudo que levou a narrativa até ali e faz com que a gente saia do cinema com a certeza de que assistimos a algo realmente memorável.
Por Júlia Rezende