Animais Perigosos
Diretor
Sean Byrne
Elenco
Hassie Harrison, Jai Courtney, Josh Heuston
Roteirista
Nick Lepard
Estúdio
Diamond Films
Duração
108 minutos
Data de lançamento
18 de setembro de 2025
Serial killers são um objeto comum de interesse dos filmes de terror, do slasher ao terror psicológico, eles já foram os vilões de incontáveis histórias, umas melhores que as outras, mas “Animais Perigosos” tem como sua maior vantagem a originalidade. Dirigido por Sean Byrne, o filme traz como serial killer da vez Bruce Tucker (Jai Courtney), um homem que ganha a vida oferecendo passeios para turistas no mar australiano, mais precisamente para nadar com tubarões, mas logo na cena de abertura descobrimos que esses passeios vinham com nefastas segundas intenções: depois de leva-los para o meio do oceano, Bruce começava seus crimes. Diferente de um serial killer “comum” que prefere o uso de armas ou até mesmo das próprias mãos, Bruce tem uma obsessão por tubarões e aproveita os animais para satisfazer seus desejos mais sádicos. O título já sugere o mais importante: à primeira vista, “animais perigosos” podem remeter aos tubarões, mas o verdadeiro perigo aqui é simplesmente o homem.
Não é só de um bom serial killer que um terror precisa, no entanto. Sua antagonista é tão importante quanto. Em “Animais Perigosos” nós temos uma verdadeira final girl como protagonista. Zephyr (Hassie Harrison) é uma surfista com um passado difícil que se recusa a seguir “o sistema”, ela tem uma vida de nômade, chama sua van de casa e sai por aí atrás da onda perfeita. Em uma de suas viagens, ela conhece o suspeitosamente bonito Moses (Josh Heuston), seu oposto em muitos sentidos, mas eles se dão bem e acabam passando a noite juntos, mas sem estar acostumada com a vida confortável que Moses leva, Zephyr sai de madrugada (aparentemente ninguém tem medo na Austrália) e acaba cruzando o caminho de Bruce, o que começa seu inferno na Terra – e um terror de sobrevivência cheio de tensão e ação.
Com um cenário paradisíaco como contraste, “Animais Perigosos” oferece um ambiente aterrorizante, muito por conta de Tucker e o ótimo trabalho que Jai Courtney faz com ele. Com ajuda do roteiro de Nick Lepard e a direção de Sean Byrne, Tucker é um serial killer convincente e bem construído, ele menciona um trauma de infância, quando foi atacado por um tubarão – e sobreviveu – e como isso ganhou um significado enorme em sua vida, fazendo com que ele passasse a ver tubarões como uma espécie de divindade, então há um quê de loucura em Tucker, muito bem interpretado por Jai Courtney, porque Tucker ainda parece um cara minimamente “comum”, o suficiente para que turistas se sintam seguros para entrar sozinhos em seu barco. O modo como Tucker realiza suas mortes é ainda mais interessante: ele sempre tem duas vítimas, uma que vai para água ser atacada pelos tubarões, enquanto a outra é obrigada a assistir. Há uma verdadeira teatralidade na performance de Tucker, que chega a filmar cada sessão de tortura.
O erro de Tucker é escolher fazer de Zephyr uma de suas vítimas, a jovem é uma sobrevivente nata que simplesmente se recusa a abaixar a cabeça para Tucker. O resultado dessa atitude é um embate envolvente, em que ambos batem e apanham, por mais que Zephyr acabe sofrendo muito mais. O embate aumenta porque por mais que Zephyr tenha tentado se afastar por Moses por conta do seu medo de apego emocional, Moses é o último romântico e arrisca sua vida indo atrás de Zephyr quando percebe que ela está desaparecida. Por mais que um toque de romance caia bem na trama, a relação deles tem um aspecto mais clichê que prejudica o andamento da narrativa. Não é que “Animais Perigosos” seja sério demais para ter um pouco de romance, ele inclusive sabe que não deve se levar a sério (a música “Baby Shark” é mencionada mais de uma vez), mas poderia ter mantido um tom levemente mais sombrio caso tivesse segurado um pouco o sentimentalismo entre Zephyr e Moses, principalmente nos momentos finais.
Deslizes à parte, “Animais Perigosos” ainda é um grande filme de sobrevivência, com uma direção inteligente que tira o melhor das cenas de ação e dos tubarões, enormes e assustadores, nunca submissos, e realistas na medida do possível e uma trama que entretem.
Por Júlia Rezende