7.5/10

As Tartarugas Ninja: Caos Mutante

Diretor

Jeff Rowe

Gênero

Animação

Elenco

Roteirista

Seth Rogen e Jeff Rowe

Estúdio

Paramount Pictures

Duração

99 minutos

Data de lançamento

31 de agosto de 2023

Os irmãos Tartaruga trabalham para conquistar o amor da cidade de Nova York enquanto enfrentam um exército de mutantes.

As Tartarugas Ninja são ícones da cultura pop dos anos 80 e trazem consigo um sentimento forte de nostalgia. Desde sua criação como HQ no início dos anos 80, as quatro tartarugas adolescentes já tomaram diversas formas diferentes, mas sempre se mantendo presente, ainda que em níveis diferentes. Os últimos filmes, lançados em 2014 e 2016, tentaram trazer uma versão modernizada dos irmãos para as novas gerações, mas tiveram pouco impacto e foram facilmente esquecidos.

Agora, chega aos cinemas As Tartarugas Ninja: Caos Mutante, uma animação cheia de referências ao mundo “live-action”, mas um com visual inédito para a franquia. Dirigido por Jeff Rowe (A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas), o filme aproveita o sucesso de Homem-Aranha no Aranhaverso para explorar o conceito mais artístico da história animada. Rowe se distanciou do realismo para estabelecer um universo visual mais próximo das concept arts, com o intuito de lembrar do que poderiam ser desenhos de adolescentes e “apelar” um pouco mais para o lado nostálgico do espectador. Foi uma decisão muito acertada por Rowe que, assim como Homem-Aranha no Aranhaverso, criou um filme singular com um visual impressionante, mas, o mais importante, tem um roteiro à altura e potencial para conquistar uma nova geração.

A nostalgia, apesar de ser um fator relevante, está longe de ser o fator determinante do sucesso do filme. Se você não conhece nada sobre a origem dessas tartarugas e não tem nenhum tipo de conexão afetiva com elas, não se preocupe, esse filme também é para você. As Tartarugas Ninja: Caos Mutante é um reboot e conta a história do início, com todos os detalhes que você precisa saber para entender e se apaixonar por esses personagens. O fato de Leo, Donnie, Raph e Mikey serem adolescentes é a força motriz da narrativa, tanto para os momentos de comédia, quanto para os conflitos que surgem de suas inseguranças e desejo de aceitação. Pode ser desafiador fazer um filme centrado em adolescentes, especialmente uma animação, capaz de agradar a todos os públicos, mas o roteiro de Jeff Rowe, Evan Goldberg e Seth Rogen alcançou um equilíbrio entre o cômico e o trágico, sem comprometer a essência  “boba” (no bom sentido) de uma história de tartarugas ninja criadas por um pai rato.

As tartarugas têm um lar amoroso que dividem sob os cuidados de Splinter, um rato que, assim como elas, entrou em contato com uma gosma misteriosa 15 anos atrás e se tornou um mutante. Traumatizado por tentativas desastrosas de coexistir com humanos de igual para igual, Splinter decide se isolar com seus “filhos” nos esgotos de Nova York, saindo apenas quando necessário e sempre escondido, com medo do que humanos possam fazer com mutantes como eles. Os irmãos apreciam o zelo do pai, mas crescem junto com sua vontade de conhecer e explorar o mundo  – e ir para a escola, como qualquer outro adolescente. Quando eles conhecem April O’Neil acidentalmente, uma outra adolescente que sonha em ser jornalista, ficam ainda mais tentados a se misturar e chegam à conclusão de que poderão ser aceitos pelos humanos se provarem que são boas pessoas, melhor ainda se puderem colocar suas habilidades ninja para jogo e se provarem heróis. A situação perfeita aparece quando roubos na cidade sugerem que um super vilão – o Super Mosca – tem planos nefastos para os humanos e as tartarugas tomam para si a responsabilidade de pará-lo.

O Super Mosca um dia foi só uma mosca, até ser submetido a experiências científicas que o tornaram mutante, o mesmo aconteceu com outros animais que acabaram formando, com ele, uma equipe que luta contra os humanos para uma “supremacia” de mutantes, partindo do princípio de que os humanos não aceitam as diferenças e os aniquilariam se tivessem a chance – e eles provavelmente não estão errados. O conflito central da trama são esses opostos, tentar resolver as diferenças ou simplesmente descartar o que difere da nossa visão, uma batalha entre o bem e o mal interna, antes de externa. Por mais que seja um tema relativamente comum em histórias de heróis, aqui ele é tratado de uma forma extremamente humana e acessível, não só para os adultos, mas para as crianças também, sem perder a força de seu discurso. As cenas de ação e de luta (as tartarugas são ninja, afinal) mantêm as coisas divertidas e garantem o entretenimento, tudo isso embalado por uma trilha sonora de primeira, mesclando clássicos com sons mais modernos.

Uma sub-trama e uma cena pós-créditos, como agora é de costume, sugerem uma sequência. Em meio a tantas produções genéricas e conteúdo focado na quantidade e não na qualidade, será positivo que esses personagens, em especial April O’Neil, que talvez pela primeira vez tenha sido representada de um modo realmente satisfatório, sejam apreciados pelos mais novos como as primeiras tartarugas foram apreciadas nos anos 80 e, se uma continuação puder manter o mesmo nível, uma nova franquia das Tartaruga Ninja possa ser uma boa ideia.

 

Por Júlia Rezende

9

Missão cumprida

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