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C.I.C – Central de Inteligência Cearense

Diretor

Halder Gomes

Gênero

Ação , Comédia

Elenco

Edmilson Filho, Alana Ferri, Tóia Ferraz

Roteirista

Márcio Wilson

Estúdio

Paris Filmes

Duração

98 minutos

Data de lançamento

28 de agosto de 2025

Wanderley (codinome: Agente Karkará) é um James Bond à brasileira que, com seu braço biônico capaz de resolver qualquer problema, combate os criminosos mais perigosos do Brasil a mando da CIC, a Central de Inteligência Cearense. Quando um cientista brasileiro, trabalhando em um projeto junto com os governos argentino e paraguaio, é assassinado e tem as informações de sua pesquisa roubadas, Wanderlei precisará usar todas as suas habilidades para recuperar os dados antes que eles caiam em mãos erradas. Ao seu lado, terá aliados inesperados - um agente paraguaio e uma espiã argentina.

Há filmes em que percebemos sua boa intenção desde o começo – C.I.C – Central de Inteligência Cearense é um deles. A vontade de celebrar a cultura cearense através do cinema nacional é evidente, o diretor, Halder Gomes, já fez isso muitas vezes, inclusive junto de Edmilson Filho, que mais uma vez serve como seu protagonista. Os dois já juntaram a comédia nacional com ação mais de uma vez e agora levam essa ideia para um novo nível, com um gênero de filme extremamente comum em Hollywood, mas ainda escasso no Brasil. C.I.C – Central de Inteligência Cearense é um pouco paródia, um pouco versão brasileira; se lá fora eles têm James Bond, aqui nós temos o Agente Karkará, apenas uma das centenas de referências à cultura nordestina. É enriquecedor que o nosso cinema possa pegar algo que soa tão estrangeiro, como uma trama repleta de espiões e serviços de inteligência, e consiga transpôr para uma realidade tão nossa. Mesmo quando pega ideias já prontas, Halder Gomes e Edmilson Filho dão um jeito de deixar a brasilidade, sobretudo nordestina, em evidência a cada cena. É um conceito louvável e que deve ser sempre incentivado – o cinema nacional só tem a ganhar cada vez que alguém explora algo inédito, ou ao menos pouco difundido, nas telonas. Ser pioneiro, no entanto, vem com o ônus de tentativa e erro, e o filme acaba sofrendo com mais erros do que deveria.

O Agente Karkará (Edmilson Filho) é o mais importante agente secreto da Central de Inteligência Cearense e está tentando sair de férias, mas um assassinato envolvendo um projeto ultrassecreto (tanto que ninguém sabe do que se trata, nem mesmo a Inteligência) o obrigam a voltar ao trabalho e resolver a situação. O projeto em questão é obra de uma parceria entre Brasil, Argentina e Paraguai, o que leva a trama, e o agente Karkará, à tríplice fronteira. Lá ele se junta a parceiros estrangeiros (uma das organizações tem o acrônimo R.O.L.A., um bom exemplo do tipo de humor ao que o filme recorre), o que faz com que boa parte do filme seja falado em espanhol, uma decisão curiosa, mas que ao menos gera legendas engraçadas, cheias de gírias e expressões cearenses. Com o auxílio dos agentes hermanos, agente Karkará é o herói que deve salvar a América Latina das situações e dos vilões mais absurdos.

Com a licença da paródia e do humor escrachado, Edmilson mostra seus talentos para a ação – o ator, que também é lutador, é responsável pela coreografia de luta e o filme não tem limites para mostrar todas as habilidades possíveis e imagináveis do agente secreto. Fazendo uso de efeitos visuais (propositalmente exagerados) e acrobacias, as cenas de ação são frequentes e criativas; não há nada de crível, mas o filme deixa bem claro que a credibilidade certamente não é um objetivo. C.I.C – Central de Inteligência Cearense está longe de se levar a sério e abraça o absurdo e o fantasioso sem pudor. O humor aqui está tanto no visual quanto nos diálogos, ou pelo menos a tentativa dele. Se apoiar inteiramente no humor, deixando a trama em segundo plano, é um movimento que depende quase 100% da qualidade das piadas sendo contadas e nisso o filme peca. Como mencionado, é evidente a boa intenção de Halder Gomes, mas tanto sua direção quanto o roteiro de Márcio Wilson falham, diversas vezes, pelo excesso. É claro que excesso é um dos pilares do filme, mas é necessário que haja ao menos um equilíbrio para que as piadas funcionem. 

Depois do primeiro ato, o enredo fica em segundo plano e o filme parece conter cenas soltas, cada uma com um objetivo e um tom diferente, sem necessariamente fazerem sentido em conjunto. É um humor acessível, mas nem sempre uma comédia que dá certo. A cada fala, a cada ação, há uma tentativa clara de se fazer rir, mas poucas dessas tentativas têm êxito e isso acaba ficando cansativo depois de um tempo. Ainda assim, as atuações são consistentes com o gênero e o amor que envolve a produção é notável. Infelizmente boas intenções não fazem, necessariamente, um bom filme, mas C.I.C – Central de Inteligência Cearense abre um bom precedente para o cinema brasileiro.

 

Por Júlia Rezende

 

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