7.1/10

Elementos

Diretor

Peter Sohn

Gênero

Animação

Elenco

Roteirista

John Hoberg, Kat Likkel e Brenda Hsueh

Estúdio

Walt Disney Studios

Duração

109 minutos

Data de lançamento

22 de junho de 2023

Em uma cidade onde cidadãos de fogo, água, terra e ar vivem juntos, Ember, uma jovem impetuosa, e Wade, um cara que segue o fluxo da vida, irão descobrir algo elementar: o quanto eles têm em comum.

Disney e Pixar ainda são sinônimos de qualidade quando se trata de animações, ainda que algumas de suas produções dos últimos anos não tenham feito tanto sucesso de público ou de crítica. Ainda que não chegue a replicar o sucesso de seus clássicos, uma coisa segue indiscutível: a habilidade do estúdio de criar produções visualmente impressionantes. E “Elementos” não é uma exceção. Dando vida a elementos, a Disney Pixar usa e abusa das possibilidades e das cores para criar um mundo que mescla características humanóides com conceitos da constituição química dos elementos resultando em imagens de encher os olhos. Enquanto “Elementos” excede as expectativas no visual, o mesmo não pode ser dito de seu enredo. Não que tenha algo de fundamentalmente errado com o roteiro, mas a trama se esforça tanto para se manter dentro da linha que deixa pouquíssimo espaço para uma história mais ousada e menos derivativa.

Talvez pela primeira vez na história da Pixar (e isso tem algum mérito), o foco dessa animação é o romance. Por toda sua duração a história de “Elementos” segue o manual das comédias românticas tanto para o lado positivo quanto para o negativo, mas o efeito geral é satisfatório. O filme conta uma história fofa e divertida e se utiliza da fórmula dos amor proibido à la Romeu e Julieta para fundamentar seu conflito, mas não é apenas a sociedade ou uma briga entre famílias que separa os dois jovens apaixonados, e sim as leis da física. Faísca é uma garota feita de fogo, enquanto Gota é feito de água, mas nem a possibilidade de um extinguir o outro é suficiente para fazer com que eles queiram se afastar.

Fogo versus água não é a primeira, e muito menos a última, metáfora que o filme adota. Toda a animação é pautada em metáforas e simbolismos, alguns mais sutis e outros nem tanto. O mais interessante deles é, sem dúvidas, o paralelo traçado entre a relação da família de faísca com a Cidade Elemento e a experiência imigrante em grandes cidades, especialmente Nova York, que serviu de inspiração para a Cidade Elemento. Toda a cidade foi construída e pensada sob medida para atender às necessidades dos elementos ar, água e terra, que sempre viveram sem grandes dificuldades. Quando os pais de Faísca chegaram na cidade em busca de novas e melhores oportunidades (principalmente para Faísca), foram recebidos com resistência tanto pelo ambiente quanto pelas pessoas não acostumadas com as características inerentes e cultura do povo de fogo. O medo do desconhecido e da mudança são os principais fatores a isolar a família que, apesar das dificuldades, consegue se estabelecer e criar uma comunidade com as outras pessoas de fogo que vieram depois.

Por mais que o romance seja o gênero que norteia a trama, o conflito interno de Faísca é igualmente relevante. Como filha de imigrantes, ela sente desde sempre a pressão de ter que “dar certo”, afinal de contas seus pais desistiram de tudo para que ela pudesse ter um futuro melhor do que o deles. Essa pressão é aumentada por conta do negócio da família, uma loja de produtos feitos de fogo que Brasa, o pai de Faísca, tem como seu maior orgulho e espera que sua filha tome a liderança um dia. Faísca sabe que não é esse o destino que escolheria para si, mas, até conhecer Gota e descobrir um mundo novo de possibilidades, acredita que seu dever é agradar o pai. É uma metáfora bem óbvia, mas funciona na maior parte do tempo e torcemos pela felicidade e independência de Faísca.

A relação entre os protagonistas poderia – e deveria – ter mais força na trama. Faísca e Gota se conhecem por acaso, mas se sentem atraídos um pelo outro instantaneamente e uma subtrama com um quê aventureiro os aproxima pelo restante da história. O que se passa entre os dois é gostoso de assistir, mas a parte do romance em si acaba deslizando. Pouco mudaria se, por exemplo, os dois fossem “apenas” amigos, a história poderia até fazer mais sentido, já que o amor romântico passa a existir de repente e sem a química necessária para dar a força de “romance proibido”. É sim um casal de opostos que se atraem, não só no óbvio de fogo e água, mas também no temperamento de ambos, que acaba sendo um reflexo de sua constituição física. Faísca pode ser “esquentada” e explosiva (literalmente), Gota tem o coração mole e sensível, derramando lágrimas sempre que pode, mas não existe qualquer conflito entre os dois além do físico.

Visualmente falando, “Elementos” é impecável. Desde a construção da cidade e da integração inteligente de conceitos de terra, água, fogo e ar, até os personagens: Faísca é fogo e não apenas uma menina pegando fogo, assim como Gota é água, mas ainda conseguimos vê-lo chorar. A criatividade rolou solta e eles puderam criar um mundo novo e engenhoso que dá gosto de ver.

Com tanta coisa inédita, do tema da imigração aos visuais sem precedentes, era de se esperar que “Elementos” trouxesse coisas novas à telas, mas o que parece acontecer é que eles preferiram parar o ineditismo por aí e não se arriscar no restante, fazendo com que ficasse a sensação de que estamos assistindo a um filme que já assistimos antes – e algumas vezes, inclusive. “Elementos” se mantém dentro da caixa e segue uma fórmula sem grandes novidades ou momentos memoráveis, mesmo quando a história emociona (é possível que você, assim como Gota, derrame uma lágrima ou outra).

7.5

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