7.6/10

Nosferatu

Diretor

Robert Eggers

Gênero

Terror

Elenco

Lily-Rose Depp, Nicholas Hoult, Bill Skarsgard

Roteirista

Robert Eggers

Estúdio

Universal Pictures

Duração

132 minutos

Data de lançamento

02 de janeiro de 2025

Nosferatu é um conto cinematográfico gótico sobre a obsessão entre uma jovem mulher amedrontada e o aterrorizante vampiro apaixonado por ela, indiferente ao rastro do mais puro horror que deixa em seu caminho em direção a ela. É uma experiência de cinema que mescla o gótico e o romance; o terror e a obsessão.

Uma nova adaptação de uma criatura clássica nunca é uma tarefa fácil. São tantas variações que é difícil se destacar e justificar a sua visão como algo a ser considerado, principalmente mais de um século depois de um filme que se mantém necessário para os fãs do horror/fantasia até hoje. Esses são apenas alguns dos obstáculos que Nosferatu, de Robert Eggers, enfrenta, mas sem se intimidar. Depois de três filmes de sucesso (A Bruxa, O Farol e O Homem do Norte), o diretor prova mais uma vez o seu estilo próprio para lidar com o macabro, enfatizando o suspense e o abstrato em lugar do terror óbvio. Em sua versão, o monstro Nosferatu é muito menos assustador e mais “humano” em sua aparência – e só em sua aparência. Os jumpscares são escassos e, sinceramente, desnecessários, mas o clima aterrorizante aparece desde os primeiros segundos (antes mesmo da presença do vampiro) e só se intensifica nas próximas duas horas de filme; fato que contrasta com a vida entediante dos demais personagens até a aparição de Nosferatu.

A fotografia escura, acompanhada de uma trilha que lembra um gemido sombrio embalam o que começa com a história de um corretor de imóveis recém-casado, Thomas Hutter (Nicholas Holt), que tem como tarefa fechar um contrato de uma grande propriedade em terras longínquas e estranhas, mas não tão estranhas quanto o conde com quem deve assinar os papéis, Conde Orlok. Desde o princípio é evidente que tem algo de errado, ainda mais quando o contrato aparece em uma língua desconhecida, que Conde Orlok não faz questão de traduzir, e toda a propriedade é banhada por uma aura amedrontadora.  O perigo mais palpável, no entanto, começa quando o Conde vê, num medalhão de Thomas, a foto de sua esposa, Ellen e é absoluta e resolutamente atraído por ela. “Nosferatu” é, acima de tudo, uma história sobre desejo, abuso e repressão e ter uma figura monstruosa no centro disso é desafiador – fazer com que essa seja uma história não só palatável, mas capaz de agradar ao telespectador é mais desafiador ainda.

Lily-Rose Depp entrega tudo de si numa performance memorável, senão um tanto repetitiva, para dar alma a uma personagem contraditória em si própria, cujas amarras da sociedade e do que era considerado normal para uma mulher a impedem de exercer todas suas liberdades. A repressão, aqui, está diretamente conectada com o desejo e a falta de compreensão de seus sentimentos. Conde Orlok, em toda sua monstruosidade (mais ou menos, porque ele tem até um bigode) e treva, visita os sonhos e o imaginário de Ellen, que também se sente inevitavelmente atraída por ele. Ellen explica para sua amiga, Anna Harding (Emma Corrin), que desde muito jovem tinha esse tipo de sensação dentro de si, mas isso não era aceitável para uma garota. Seu pai atribuía o sentimento ao diabo, já a amiga à falta do marido, que ainda estava nas terras de Orlok.

Ao voltar para casa, Thomas já não é mais o mesmo – sua mente ingênua e superficial agora corrompidas por tudo que viu e viveu ao se aproximar de Conde Orlok; Ellen também não é mais a mesma, perturbada por visões de Nosferatu e sensações que a levam ao descontrole, mas toda a cidade está prestes a mudar também, com a chegada de Nosferatu e tudo que vem com ele – os ratos (muitos ratos), as mortes, a decadência geral e a incerteza de tempos sombrios. É aí que o filme cresce e convence. Através das reações e consequências que um figura como Nosferatu pode causar nas vidas pacatas que ali viviam, sobretudo na vida de Ellen, constantemente tentando se equilibrar numa corda bamba que pende entre a razão e o convencional e a emoção e a entrega. A ambientação, as atuações e a construção da tensão tornam possível que a gente compreenda, apesar dos pesares, o vínculo magnético que atrai Ellen e seu algoz.

 

Por Júlia Rezende

8.5

Missão cumprida

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