7.0/10

O Homem dos Sonhos

Diretor

Kristoffer Borgli

Gênero

Comédia , Suspense

Elenco

Nicolas Cage, Lily Bird, Julianne Nicholson

Roteirista

Kristoffer Borgli

Estúdio

A24

Duração

102 minutos

Data de lançamento

04 de abril de 2024

Um infeliz pai de família vê sua vida virar de cabeça para baixo quando milhões de estranhos começam a vê-lo em seus sonhos. Quando suas aparições noturnas tomam um rumo de pesadelo, Paul é forçado a lidar com seu novo estrelato.

O fenômeno virtual da “cultura do cancelamento” ganhou, e segue ganhando, muita força na Internet nos últimos anos. Com isso, já é possível observar variações do assunto em diversas obras do audiovisual. Nenhuma delas, no entanto, conseguiu usar essa temática para criar algo tão criativo quanto “O Homem dos Sonhos” que, sem entrar no mérito da eficácia dessa chamada “cultura”, pega elementos de fantasia para espelhar uma realidade do mundo virtual e da fama para criar uma distopia absurda, mas ainda assim crível, no melhor estilo do estúdio A24 e justificando Ari Aster (Midsommar, Hereditário, Beau Tem Medo) como produtor. 

Nicolas Cage, num papel bem digno de Nicolas Cage, é um homem ordinariamente comum, o professor de biologia Paul Matthews. Nada em sua vida é especialmente marcante, seu casamento vai bem, seu relacionamento com a filha adolescente é levemente conturbado, como todo relacionamento entre pai e filha adolescente, seu emprego como professor universitário é bom, mas ele ressente não ter conseguido lançar seu estudo sobre o comportamento das formigas e apesar de receber amigos em casa, nunca é convidado para o jantar de um deles. Até mesmo sua aparência é igualmente trivial, suas roupas são sempre sem detalhes e de cores neutras, seu cabelo é calvo, seus óculos são simples, sua postura tímida. É nesse cenário de normalidade que algo extraordinário acontece com Paul pela primeira vez: ele começa a aparecer no sonho de pessoas, todo tipo de pessoa, conhecidos e desconhecidos e o mais estranho é que em todos os sonhos ele permanece inerte. Sem participar ativamente do que está acontecendo, ele só fica estranhamente em volta. 

Pode parecer uma ideia maluca e desconectada da realidade, mas as consequências das aparições de Paul nos sonhos alheios não poderiam ser mais reais, principalmente quando ele viraliza na Internet e sua vida, de repente, passa a ser interessante aos olhos de, praticamente, todo mundo. Seus minutos chegam rápido e chegam intensos, como qualquer meme que viraliza e, também como os memes, não há nada que realmente justifique o sucesso estrondoso além da força do imaginário e do pensamento coletivo. Esse “efeito manada”, tanto para a ascensão quanto para a queda da “carreira” de Paul, é o que mais aproxima a trama do público, porque somos expostos a esse tipo de situação constantemente na Internet. 

Como um thriller de comédia, é claro que os desdobramentos da situação dos sonhos vão para lugares inusitados e tão criativos como todo o resto. É interessante que apesar do clima geral de algo bizarramente macabro estar acontecendo, o filme em si não carrega grandes elementos do horror ou do suspense, o mistério está presente a todo tempo seja nos ângulos ou movimentos de câmera, mas dá espaço à comédia de um humor ácido potente e contida ao mesmo tempo. Kristoffer Bogli, cineasta norueguês com um gosto pelo esquisito, além de dirigir, escreveu o roteiro e é perceptível o quanto ele está confortável contando essa história tão fora do convencional, a ponto de transformá-la em algo tão palatável e, por fim, divertida. 

“Homem dos Sonhos” levanta muito mais perguntas do que respostas. A situação é apresentada, explanada e, assim como os memes que a inspiraram, chega ao fim tão rápido e inexplicavelmente quanto começou.

 

Por Júlia Rezende

9

Missão cumprida

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