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Há dois anos, era difícil de se imaginar que o favorito La La Land – Cantando Estações (2016) perderia o Oscar para Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016), ainda mais depois do primeiro anúncio realizado pela dupla Warren Beatty e Faye Dunaway. Dois anos depois, o novato diretor – 39 anos de idade e dois longas na carreira – retorna com uma obra bem mais próxima de La La Land, mas nem tão distante da sua obra anterior.

Barry Jenkins não escolhe a narrativa acelerada e ritmada do longa de Damien Chazelle, porém explora o mesmo lado romântico do musical, mas mantendo a mesma realidade espelhada de Moonlight.

Apesar de Chazelle não manter um final feliz para sua história de amor, Jenkins também segue a mesma linha. No entanto, o americano passa uma realidade mais crua, do mesmo modo que fez na adaptação da obra de Tarell Alvin McCraney, anteriormente. Aqui, é a vez de ser a adaptação da célebre obra do romancista James Baldwin.

Suas obras – que começaram a ser lançadas nos anos 50 – sempre exploraram complexidades não tratadas sobre sexualidade e distinções de classes sociais durante a metade do século 20. Em romances e peças, o dramaturgo colocava em discussão dilemas que tratavam de pressões sociais e psicológicas envolvendo a realidade negra. Em 1974, no mesmo ano do lançamento do livro, a escritora Joyce Carol Oates definiu Se a Rua Beale Falasse como uma comovente e dolorosa história, mas conclusiva de forma otimista.

Barry Jenkins, por sua vez, seguiu uma linha tênue entre o otimismo e a realidade. O otimismo, no entanto, não se apresenta tão nítido quanto aparentemente é na obra literária. Jenkins explora um tratamento mais doloroso da realidade, mas ainda assim sendo sutil e romântico. A voz doce de Kiki Layne como narradora traz esse sentimentalismo que Jenkins escolheu para a narrativa. No entanto, o diretor faz a mesma coisa brilhantemente com sua câmera, transformando a então doce narração em um roteiro expositivo, mas ainda distante de estragar a linda história de romance do dramaturgo.

O controle de Jenkins para com a obra beira a perfeição. Sua direção mais controlada e lenta trabalha a história com louvor, com equilíbrio entre o tempo presente e passado.

A dolorosa realidade que Baldwin apresenta dói pelo injustiça presente no mundo. A leveza do filme ao trabalhar isso é linda, mas não esquece de fazer o seu trabalho de chocar e provocar sentimentos de raiva e reflexão sobre nossa realidade. O mesmo que Spike Lee faz em Infiltrado na Klan (2018), mas de uma forma mais dura e dolorosa. Aqui, a obra é mais limpa nesse quesito e trata o racismo de uma forma certas vezes indireta. A própria história explora conflitos internos, provocados pelo excesso, tanto religioso quanto machista – em duas situações específicas.

Mas dentro disso e em conversa com a história de luta e amor entre Tish e Fonny (lindamente interpretado por Stephan James) há um trabalho em conjunto para tratar dos assuntos sociais propostos por Baldwin.

Isso traz uma magia encantadora para a narrativa e deixa tudo lindo. A fotografia é outro ponto magnífico da filmografia de Jenkins. Trabalhando pela terceira com James Laxton, o visual de Se a Rua Beale Falasse é tão belo quanto o azulado filtro de Moonlight. Aqui, as cores de Laxton são mais vivas que da obra de 2016, porém, tão tristes quanto. O que não é para menos. Apesar da trajetória romantizada, a realidade é triste, na qual negros são injustamente acusados por crimes não cometidos ou por crimes que brancos seriam acusados de maneira mais leve. Diferente de Green Book – O Guia (2019), Jenkins te dá um final no qual, infelizmente, somos obrigados a conviver.

Mesmo com seus pontos certeiros, Se a Rua Beale Falasse não é de todo perfeito. Infelizmente, o roteiro de Jenkins falha em esquecer de certos personagens, não trazendo uma conclusão para os mesmos, sendo que a maioria ganha uma. Isso acaba enfraquecendo a trajetória, já que alguns personagens não cruciais, tanto para o casal principal quanto para a construção narrativa da ambientação. Nesse caso, os personagens específicos que acabam ganhando esse tratamento mal conclusivo são importantes para o tom de conflito interno que a obra traz.

Outro conflito do roteiro está no ponto de vista do longa. Desde o início, o filme é apresentado pela personagem de Kiki Layne, porém, há um momento específico que Jenkins escolhe colocar o ponto de vista da personagem de Regina King. Por mais que faça sentido na narrativa, há uma quebra do fio condutor apresentado pelo americano e que, por mais que funcione dramaticamente, poderia ter sido facilmente retirado, já que a personagem revela o acontecimento minutos depois através de um diálogo.

No entanto, são pequenas as falhas de Se a Rua Beale Falasse, e são falhas que não tiram o mérito do avanço cinematográfico de Jenkins. Por mais que Moonlight ainda deixe uma chama mais forte, a nova obra do diretor americano esbanja beleza, delicadeza, mas com uma realidade tão forte quanto sua obra anterior. A adaptação do livro de Baldwin é lindo o suficiente para emocionar o público com sua história encantadora, ainda mais com o amadurecimento de Jenkins, que transporta toda a emoção da forma mais sensível possível.

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