Lutar contra os limites entre a máquina e a morte. Essa é a rotina dos grandes pilotos de Fórmula 1, a maior competição de automobilismo do mundo. Michael Schumacher o primeiro alemão a conquistar um título na categoria, chegou a modalidade numa fase onde a transição entre os grandes pilotos da categoria aconteceu de forma abrupta. Em 94, após a morte de Senna, viu cair sobre seus ombros imediatamente o peso de ser aquilo que esperavam dele em alguns anos: Um campeão mundial de Fórmula 1.
O documentário “Schumacher” da Netflix, conta a história do lendário piloto desde a estreia na Fórmula 1 numa equipe pequena onde deixou uma boa impressão logo na primeira corrida que o levou rapidamente a uma equipe em ascensão na categoria no ano seguinte. Com origem humilde no Kart, esporte de custo elevado, Schumacher se desdobrava para mostrar sua capacidade diante das limitações financeiras da família.
O longa desvenda um pouco da personalidade de um dos maiores vencedores do automobilismo através de depoimentos de familiares, como sua esposa Corinna Schumacher, e nomes consagrados da categoria como o engenheiro Ross Brawn, o ex-diretor de sua primeira equipe, Flavio Briatore, e o ex-diretor da Ferrari, Jean Todt.
Um grande campeão num esporte como automobilismo se faz através da sua capacidade mental. Schumacher era metódico. Como sua própria esposa descreve, ele cronometrava seu tempo livre para aproveitar a família da mesma forma como dominava o relógio nas estratégias de voltas rápidas que o possibilitava ganhar posições até mesmo tendo que parar nos boxes para trocas de pneus. Ele não admitia errar. E ser visto como uma lenda por todos implica nisso. Lendas não erram, são perfeitas.
Schumacher sempre soube que seria campeão. Ele só não queria ser mais um campeão. Ele queria deixar sua marca e ela passa pela sua escolha pela Ferrari. O longa foca no período entre seus 2 primeiros títulos mundiais e o desafio do campeão mundial escolher uma equipe tradicional que não vencia títulos há 20 anos.
Para os fãs brasileiros, a produção alemã ignora a relação com Rubens Barrichello e Felipe Massa, seus companheiros durante os 5 títulos mundiais, focando apenas nos primeiros anos na Ferrari, quando ele, já campeão mundial, se dedicou a fazer aquela equipe ser competitiva.
Destaca-se especialmente as cenas de bastidores da vida pessoal, das corridas e de um inédito depoimento de sua esposa falando sobre as dificuldades após um grave acidente que sofreu em 2013 durante um passeio de ski, quando o ex-piloto ficou em coma por anos e seu estado atual permanece privado por um desejo da própria família.
O filme faz uma justa homenagem ao piloto, apesar de ignorar momentos importantes de sua carreira como o GP da Áustria de 2002, em que sua imagem ficou abalada após uma ordem da equipe lhe dar a vitória a poucos metros da bandeirada final obrigando seu colega de Ferrari, Rubens Barrichello a deixá-lo passar. Sendo uma lenda das pistas, ele nunca deixou de ser humano. E seus inúmeros erros aliados a sua precisão nas pistas são marcas eternizadas no esporte.
