“Yesterday” uma bem humorada declaração de amor aos Beatles

A cultura pop é marcada por inúmeros fenômenos ao longo dos anos. E com certeza os Beatles são um dos maiores ícones da música mundial, sendo uma referência reconhecida mesmo 60 anos após do lançamento do seu primeiro hit. Só que o tempo passa. E num mundo onde a velocidade da informação faz surgir uma nova estrela pop a cada minuto, os mais novos podem simplesmente ignorar aquilo que não conhecem.

Jack Malik (Himesh Patel) é um músico e compositor iniciante que tenta se dedicar a sua arte enquanto divide seu tempo como um medíocre estoquista num supermercado na cidade Sulfolk, na Inglaterra. Suas músicas são ruins e quase ninguém se importa, só sua melhor amiga e empresária Ellie (Lilly James). E mesmo sendo ignorado shows a fora ele não desiste, graças a ela, que sempre diz que uma hora o jogo vai virar. E virou. Um blecaute atinge o mundo todo e um ônibus desgovernado acerta em cheio Jack, que perde 2 dentes, a bicicleta e o violão. Para animar ele, seus amigos dão um violão novo pra ele e ao tocar pela primeira vez o novo instrumento, escolhe o clássico Yesterday surpreendendo a todos que nunca tinha escutado a canção. Mas, como assim não conhecem “Yesterday”?

Segundo o Livro de Recordes Guiness, “Yesterday” é a música com mais execuções em rádios de todo o mundo. São mais de 6 milhões de veiculações nas rádios americanas para se ter uma ideia. Jack primeiro pensa se tratar de uma zueira dos amigos, mas ao chegar na internet fica chocado ao constatar que os Beatles nunca existiram e só ele se lembra. Esse é ponto de partida para uma incrível viagem musical no vasto repertório de hits da banda pontuando momentos importantes da história.

A medida que vai lembrando das canções, Jack vai conseguindo uma visibilidade que nunca conseguiu com suas canções. E isso muda quando o cantor e compositor Ed Sheeran descobre “suas músicas” e o convida para abrir um show. E ao mesmo tempo que conquista o que sempre quis ele perde o que sempre teve. Com o sucesso ele se afasta de Ellie e entende que ao mesmo tempo que ninguém conhece aquelas canções ele não conhecia o seu verdadeiro amor, mesmo ele estando na sua frente.

O diretor Danny Boyle mostra toda a versatilidade da sua cinematografia adicionando uma comédia romântica nela que já passeou pelo oscarizado “Quem quer ser um Milionário” O drama policial “Trainspotting- Sem Limites’’ e o terror “Extermínio”. E essa versatilidade é ótima numa cultura pop marcada por grandes diretores de estilo único. Boyle não tem vergonha de passear por uma fórmula fácil e entregar uma comédia leve uma crítica interessante sobre o conflito de gerações (como na cena em que o departamento de marketing descarta todas as capas icônicas dos Beatles para apostar num modelo minimalista já copiada ao extremo por diversos artistas).

Além disso, o diretor entrega uma sequência inspirada de emoção e sensibilidade com a participação do consagrado ator Robert Carlyle para fazer aquele fã beatlemaníaco, como ele próprio, se debulhar em lágrimas.

A jornada de Jack Malick por um mundo sem referências das mais importantes da cultura pop britânica nos faz refletir do quanto são importantes essas músicas, livros e filmes para formar uma cultura através de gerações onde uma referência influencia a outra. Uma vida sem referências é uma vida sem história.

pt_BR