041999
‘Mantenha a América grande’

Existem filmes que de tão excêntricos, irregulares e exagerados acabam indo além do que podemos classificar como um filme bom ou ruim, justamente por sua pouca pretensão, mostrando um claro objetivo de entreter o espectador. Alguns consideram a franquia ‘Uma Noite de Crime’ – chamada agora de ‘12 Horas para Sobreviver: O Ano da Eleição’ – um bom exemplo desse tipo de filme, pois o diretor James DeMonaco conseguiu pegar uma ideia muito interessante e mesmo com um orçamento bastante limitado (os filmes custaram 3 milhões, 9 milhões e 10 milhões de dólares, respectivamente), tanto a estética quanto o design de produção dos filmes são bem decentes, se encaixando no que poderíamos chamar de uma nova categoria de filmes ’b’ – não pelo fato do conteúdo ser ruim ou tosco, mas pela ausência de grandes estrelas de Hollywood e por serem filmes que os próprios estúdios não esperam que façam um grande sucesso de crítica e público.

Seguindo a premissa que se houvesse um período de 12 horas em um dia do ano no qual fosse possível cometer todo tipo de crime sem punição, neste terceiro capítulo da franquia, Leo Barnes (Frank Grillo) está de volta, desta vez como chefe de segurança da Senadora Charlie Roan (Elizabeth Mitchell), candidata a presidência que se opõe ferrenhamente à noite da Purificação, pelo fato de que os mais afetados e assassinados eram os pobres e desabrigados, e por consequência, em sua maioria negros e latinos. Como a lei que protegia políticos durante a Purificação foi revogada e agora ninguém está seguro, cabe a Leo proteger a Senadora dos ataques da oposição. Paralelamente a isso, ocorre a história de Joe (Mykelti Williamson), dono de uma mercearia e seu empregado Marcos (Joseph Julian Soria), que ficam sem seguro poucas horas antes da Purificação e decidem passar a noite na loja para protegê-la e evitar prejuízos.

A ideia de James DeMonaco é usar a trama de sobrevivência dos personagens para fazer uma alegoria à difícil sobrevivência dos trabalhadores e imigrantes nos EUA (e em muitos lugares do mundo, com certeza). Como o próprio filme menciona, a Purificação se tornou uma forma do governo e dos mais ricos controlarem a pobreza sem a necessidade de investimentos e estrutura, pois a própria classe rica – muito mais armada e protegida – consegue ‘limpar’ as ruas aniquilando os carentes e desfavorecidos. Mas, como eu havia mencionado, o filme não perde a áurea de ‘filme b’ e sempre que parece se encaminhar para um clima mais sério, volta a proposta original através de um humor bem cínico e personagens completamente exagerados e canastras. Como tradicionalmente ocorre em sequências de filmes, a ideia original precisa ser expandida. No primeiro, toda a trama é mais intimista e basicamente se passa dentro de uma casa; no segundo, a ação é expandida para as ruas e passamos a conhecer mais personagens; e neste terceiro, ‘purificar’ já virou uma tradição tão grande que atrai até turistas assassinos no dia do evento, além de outros detalhes, como uma espécie de abrigo onde os feridos vão se refugiar.

A direção também demonstra melhorias com relação aos filmes anteriores. Apesar de ter diminuído bastante o tom de terror que o primeiro filme tinha, apostando agora em uma trama muito mais voltada a ação, DeMonaco demonstra muito mais segurança nos seus planos e nas sequências de cenas, como o ataque a mercearia de Joe, por exemplo. Isso pode indicar duas coisas: ou o diretor entende melhor sua franquia e o público que quer atingir, conseguindo se expressar com muito mais clareza, ou que ele tem muito mais afinidade em cenas de ação do que na construção de um clima de suspense, ficando mais evidente neste último filme um amadurecimento no seu trabalho como diretor. Alguns pontos que normalmente poderiam ser tratados como ‘defeitos’ do filme (excesso de momentos cafonas, como slow motions, frases de efeito a cada final de diálogo e personagens ‘bad-ass’ demais), funcionam dentro do estilo do filme. Arriscaria dizer que sem esses exageros o filme perderia muito sua identidade e consequentemente, seu charme.

Apesar de certa previsibilidade, ‘Uma Noite de Crime 3’ ou ‘12 Horas para Sobreviver: O Ano da Eleição’ é um filme que entende seu público e entrega o que promete. É mais indicado a quem procura filmes descontraídos, com grande variedade de armas (não podia faltar ate um drone desta vez), confrontos corpo a corpo, um senso de heroísmo completamente exagerado, e o mais legal de tudo, com um fundo de crítica sócio-política (embora, repito, sem muito compromisso em se levar a ‘sério’, mas apenas em forma de alegoria). Afinal, nem sempre vamos ver a um filme buscando a realidade, muitas vezes buscamos escapar dela por meio do entretenimento, e isso o filme proporciona. Fãs de filmes ‘b’ ou aqueles que têm um fraco por violência, heróis extraordinários (Frank Grillo está ótimo neste sentido) e até os inevitáveis clichês de filmes de ação, têm tudo para gostar do filme.

UM MOMENTO APIMENTADO: Quando Laney chega de furgão salvando todos de um ataque mortal na loja de Joe.




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