CHEF JACK – O COZINHEIRO AVENTUREIRO | ANIMAÇÃO BRASILEIRA TRAZ MISTURA DE MASTERCHEF COM NO LIMITE

Ao receber seu prêmio de Melhor Animação tanto no Globo de Ouro quanto no Critic’s Choice Awards desse ano, o diretor Guillermo Del Toro fez questão de salientar em seu discurso que animação não é apenas para crianças e sim um meio de linguagem para transmitir a arte. É cada vez mais fácil perceber a veracidade dessa afirmação, claro que não é de hoje que animações com grandes lições de vida ou reflexões existenciais, mas esse movimento tem crescido e a tendência é que continue assim. A animação, em vez de limitar o público pode expandir as possibilidades, desde a criação de novas realidades, novos cenários até dar vida às personagens que geralmente não teriam uma voz num filme live-action.

Evidentemente, jamais poderíamos comparar uma animação brasileira com uma animação de Guillermo Del Toro, não porque falta talento para os brasileiros, mas porque Del Toro tem todo o aparato, o orçamento e o renome de Hollywood e, querendo ou não, ainda estamos apenas engatinhando quando se trata desse tipo de produção. Com “sorte”, contaremos com maior apoio e incentivo (estatal, principalmente) para que essa arte possa se desenvolver mais no futuro, mas, até o momento, devemos comemorar com entusiasmo cada nova animação 100% brasileira, como é o caso de “Chef Jack – O Chef Aventureiro” de direção do Guilherme Fiúza Zenha e com dublagem de Dalton Mello.

Jack (Dalton Mello), como o título sugere, é um cozinheiro aventureiro. Para pegar os ingredientes que usa em seus pratos elaborados, ele passa por florestas, enfrenta obstáculos e basicamente arrisca sua vida. No universo de Jack isso é comum e sua carreira começou ainda criança, quando auxiliou seu pai, também um cozinheiro aventureiro, como assistente num reality show que é uma mistura de “Masterchef” com “No Limite”. Agora um homem adulto, a reputação de Jack o precede e seu sucesso e talento não são contestados por ninguém, a não ser, talvez, ele mesmo. Contrariando a opinião de seu pai e de sua empresária, Jack se inscreve para participar da competição “Convergência de Sabores” e, depois de alguns imprevistos, acaba ficando com Leo, o filho de sua empresária que além de ser fã de Jack tem o sonho de ser um cozinheiro do seu nível algum dia.

O objetivo da história é a lição de moral, dizer que funcionamos melhor quando acompanhados e que devemos manter a humildade. É uma lição válida, o único problema é que esse parece ser o único objetivo do filme que, em vez de ser um meio de linguagem, se limitou a ser uma história para crianças – e só para crianças. As cores chamam atenção, os traços são bonitos e as músicas são animadas. As cenas de ação são várias, tanto que ultrapassam com distância as que mostram os chefs cozinhando e no final, o que fica é a sensação de que o que assistimos é só isso: personagens completando desafios.

O propósito de Jack é um mistério, assim como sua motivação, tanto para participar da competição quanto para ter se tornado um cozinheiro em primeiro lugar. Muitos vértices do enredo acabaram sendo desperdiçados antes que pudessem se tornar algo mais sólido e, consequentemente, mais interessante para toda a família. Os personagens além de Jack também não alcançam um nível tridimensional em suas personalidades. Com exceção de Leo, todos são bastante óbvios, cada dupla participante da competição segue um estereótipo, os personagens com mais ações são todos masculinos, o vilão segue o estereótipo francês e, pior, leva para o lado da falta de “virilidade” para se mostrar vilão: ele tem traços femininos, está sempre chorando e essas características são atribuídas como fraqueza.

Talvez o grande problema seja a dificuldade de torcer para Jack, o que parece ser algo essencial para se deixar levar pela história, mas ele simplesmente não prende a atenção, porque não o conhecemos. O filme é fofo para as crianças menores, mas poderia ter se esforçado para ampliar seus horizontes e criar uma história com mais substância.

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