A Longa Marcha
Diretor
Francis Lawrence
Elenco
Cooper Hoffman, David Jonsson, Garrett Wareing
Roteirista
JT Mollner
Estúdio
Paris Filmes
Duração
108 minutos
Data de lançamento
18 de setembro de 2025
“A Longa Marcha” é a terceira adaptação de uma obra de Stephen King a chegar nos cinemas esse ano. Depois de “O Macaco” e “A Vida de Chuck”, agora é a vez do primeiro livro publicado pelo autor ganhar o tratamento cinematográfico. Escrito quando Stephen King tinha apenas 19 anos e ainda era um universitário, o livro traz a história de um Estados Unidos distópico, em que o governo promove uma longa marcha entre os jovens para incentivar a proatividade da nação. É claro que há muito mais – e muito mais sinistro – nessa história do que apenas uma caminhada. Quando os jovens chegam para a marcha, cuja participação é voluntária, recebem as instruções do General (um Mark Hamill instigante, mas reduzido a uma voz sombria): eles devem andar numa velocidade mínima de 5 km/h, sem qualquer pausa. Quem parar ou diminuir a velocidade recebe uma advertência e, depois da segunda advertência, recebe o bilhete e é eliminado. Os demais devem continuar caminhando. Não tem linha de chegada, não tem distância nem tempo finais pré-definidos, o limite é a exaustão, até que reste apenas um caminhando. O vencedor ganha um prêmio em dinheiro e o direito de ter um desejo realizado, já para os perdedores, o bilhete mencionado pelo General é a morte.
O filme, dirigido por Francis Lawrence, não perde tempo situando o telespectador ou dando grandes explicações sobre a situação do país e do mundo, só o que sabemos é que depois de uma guerra (aparentemente a maior delas), os EUA lutam para se manter produtivos e culpam suas mazelas na “preguiça” de seus cidadãos. A Longa Marcha, portanto, seria televisionada (apesar desse fato não ser usado em momento algum) e serviria para inspirar os telespectadores; segundo o General, há um aumento significativo na produção da nação logo depois das Marchas. É claro que ninguém realmente acredita nesses motivos, a Marcha é claramente uma arma do governo para manter a população sob seu controle. Uma manobra que funciona muito bem a julgar pelo fato de que aqueles jovens “escolhiam” participar da Marcha fatal. É um cenário sinistro, tanto figurativa quanto literalmente falando: a direção de Lawrence sabe traduzir em imagens a atmosfera carregada que acompanha a trama, principalmente uma vez que a Marcha começa e os meninos passam por lugares inóspitos. É uma história sombria desde o começo, e essa sensação permanece durante todo o filme.
A primeira impressão que tive ao assistir A Longa Marcha é de que estava vendo um Jogos Vorazes resumido, mas como A Longa Marcha veio primeiro, o mais correto seria dizer que parece um argumento de roteiro, que depois foi desenvolvido em Jogos Vorazes. É impossível não fazer a comparação, um grupo de jovens que se “candidata” para lutar até a morte em nome de um governo autoritarista e acredito que a experiência de assistir A Longa Marcha seja melhor pra quem não tem tanta intimidade com a outra franquia. Infelizmente não é o meu caso, como grande fã de Jogos Vorazes, pouca coisa de A Longa Marcha me pareceu uma novidade e eu tive dificuldade para me conectar com a história e até mesmo com os personagens, ainda que o filme tenha uma boa direção e atuações excelentes. O fator surpresa é basicamente inexistente, já que o destino dos participantes é disposto desde o primeiro momento. Se apenas um vence, é porque todos os outros morrem, então já sabemos que vamos passar a próxima hora e meia vendo todos (menos um) morrerem.
Em relação ao enredo, temos como protagonista o jovem Raymond Garraty (Cooper Hoffman), que deixa a mãe (Judy Greer) para trás e marcha com um objetivo que só revelado no final, mas desde sempre há uma relação misteriosa entre ele, o General e o pai que faleceu recentemente. Na largada, os participantes se conhecem e vamos conhecendo a personalidade de cada um. Quem se destaca é Peter McVries (David Jonsson), um jovem enigmático com quem Garraty forma uma amizade profunda durante a longa jornada, além de Arthur Baker (Tut Nyuot) e Hank (Ben Wang), que completam o pequeno grupo formado. Os demais meninos são menos tridimensionais e mais estereotipados. No centro de “A Longa Marcha”, num cenário tão desesperançoso e acinzentado, está a amizade que nasce do encontro de Garraty e Peter, é emblemático que os dois consigam desenvolver sentimos tão profundos e genuínos com um adversário declarado, alguém que eles sabem que deve morrer para que o outro possa sobreviver. É essa a alma da história que, caso contrário, seria apenas mais uma tragédia, mas por conta dos dois rapazes (mais de McVries), traz a essência do que nos torna humanos.
O problema é que todas essas constatações já estavam implícitas em todas as ações, sem qualquer necessidade de estarem presentes nos diálogos trocados pelos participantes da marcha, mas estão mesmo assim. Desde o começo os diálogos são excessivamente explícitos e polidos, com um sentimentalismo que não parece natural para jovens adultos. A repetição, inclusive, é um constante desafio para o filme. Tendo apenas a marcha para ambientação, só o que vemos são os meninos andando, sob sol, sob chuva, enquanto seus colegas vão morrendo, um por um. As mortes são gráficas e inescrupulosas, mas condizentes com toda a situação em que eles se encontram e acrescentam uma camada de tensão, o problema é que o filme se escora muito nesses momentos de impactos para passar emoção. Sem uma visão mais ampla do que realmente está acontecendo lá fora e quais são as motivações de todos eles, há uma certa distância entre nós e eles que não se estreita e evidencia algumas situações do roteiro que poderiam ser melhor exploradas. Apesar das repetições e limitações existentes por conta da natureza da narrativa, “A Longa Marcha” é capaz de entreter, mas falha no que mais importa: incitar uma emoção genuína.
Por Júlia Rezende