6.3/10

Morra, Amor

Diretor

Lynne Ramsay

Gênero

Drama

Elenco

Jennifer Lawrence, Robert Pattinson, Sissy Spacek

Roteirista

Enda Walsh, Lynne Ramsey e Alice Birch

Estúdio

MUBI

Duração

119 minutos

Data de lançamento

27 de novembro de 2025

Grace (Lawrence) e Jackson (Pattinson), um jovem casal prestes a ter um bebê, deixa Nova York e se muda para uma casa herdada no campo. Com a chegada da criança e o ambiente isolado, Grace se vê em uma jornada de autodescoberta. À medida que enfrenta seus próprios limites, ela se encontra não na fraqueza, mas na força de sua imaginação e na intensidade de uma vivacidade indomável. O thriller psicológico é baseado na obra homônima de Ariana Harwicz.

A montanha-russa de hormônios e emoções que acontece no período pós-parto tem aparecido mais e mais nos filmes – e que bom que seja assim. Em um momento do filme “Morra, Amor” Grace, a personagem de Jennifer Lawrence, ouve de uma outra mãe recente que ninguém fala sobre as dificuldades enfrentadas nos primeiros meses do primeiro filho. Grace responde que só se fala disso. As duas estão certas, dependendo do contexto. É, de fato, um assunto muito mais discutido, mas a teoria e a prática são muito diferentes. E falar sobre não significa que o assunto é totalmente compreendido, principalmente quando foge do esperado. Grace se encontra numa espécie de limbo em que não é compreendida por ninguém e, quando seu marido começa a perder a percepção que tinha dela, fica cada vez mais difícil para Grace se orientar, tanto que sua realidade passa a se deteriorar diante de seus olhos.

Como cenário, temos uma casa isolada numa região rural, que o casal Grace e Jackson (Robert Pattinson) herdou da família de Jackson e resolve se instalar por lá mesmo. Apesar de afastado, a princípio eles não parecem sozinhos. Há entre os dois uma cumplicidade implícita, que somos convidados a ver apenas de longe, mas sua conexão é latente. O sexo entre eles é estranho para quem vê de fora, os dois sem roupas, no chão da sala, agindo como cachorros. É estranho para o espectador, mas para o casal parece apenas orgânico, natural; os dois estão em sintonia. Acontece que depois do sexo, vem um bebê e com o bebê, vem o puerpério. Para Grace, o puerpério não aparece com os sinais clássicos, ela não parece apenas deprimida, ou chora sem motivo – ele vai se enraizando nos seus comportamentos mais básicos, aos poucos, até chegar em um ponto em que Grace mesmo não compreende o que está sentindo ou o quê, exatamente, está faltando em sua vida.

O cenário rural, com cores escuras e terrosas, confere ao filme uma sensação onírica que anda lado a lado com o comportamento destrutivo de Grace. Quando ela começa a misturar realidade com aparente ilusão, somos confundidos também. A desconexão de Grace com as pessoas – e com ela mesma – está presente também na relação com o bebê e o marido. Não há qualquer menção de mau trato de Grace em relação ao filho, mas também não há grandes momentos de ligação entre eles. O isolamento começa de fora para dentro. Jackson, que outrora parecia uma outra parte de Grace, de repente se vê distante, primeiro fisicamente, tendo que viajar a trabalho com frequência, depois emocionalmente, quando o impacto da paternidade faz com que ele mude exatamente o que Grace gostaria de manter o mesmo, principalmente no que diz respeito à sexualidade. 

“Morra, Amor” é um retrato cru, sem filtro e, de certa forma, animalesco de uma solidão muito particular, ainda que proveniente de um sentimento relativamente comum. O período pós-parto é difícil, mas como e quanto, sempre será diferente para cada mulher – e potencializado quando combinado com algum distúrbio emocional pré-existente, como parece ser o caso de Grace. Jennifer Lawrence mostra que seu talento se estende para muito além do que já vimos com uma atuação potente e visceral, completamente entregue, e sua química contida, mas evidente, com Robert Pattinson também se torna um dos pontos altos do filme. Baseada no livro de Ariana Harwicz, a história tinha espaço para crescer e aprofundar algumas questões específicas, mas a diretora Lynne Ramsay opta por uma narrativa mais contida e intimista, deixando que a atuação de Jennifer Lawrence fale mais alto quando o roteiro prefere se diminuir – e ela não só fala, ela grita.

 

Por Júlia Rezende

8

Missão cumprida

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