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‘O amor exige tudo’.

Tom (Michael Fassbender), um veterano da Primeira Guerra Mundial, retorna para a Austrália em busca de tranquilidade para cuidar de um farol isolado no meio do Oceano. Lá ele conhece e se casa com Isabel (Alicia Vikander) e juntos decidem cuidar de uma criança encontrada em um bote salva-vidas como se fosse sua filha. A direção e o roteiro são de Derek Cianfrance (de ‘Namorados Para Sempre’ e ‘O Lugar Onde Tudo Termina’), baseado no livro homônimo de M. L. Stedman. A intenção de Stedman no livro foi abordar temas universais e humanos como redenção, honestidade e a natureza da felicidade através de um romance belo e delicado, proporcionando ao leitor ‘julgar’ se as atitudes bem-intencionadas dos personagens e se as consequências dos seus atos foram corretas do ponto de vista ético e moral.

Quem acompanhou os trabalhos anteriores do diretor Cianfrance sabe como ele aborda relacionamentos de forma bastante ‘crua’ e ‘pesada’, focando muito nos conflitos que o casal enfrenta, principalmente explorando os problemas que dependem do modo como o marido e a esposa desempenham seus papéis conjugais e sociais na relação. Se passando no início do século XX, a história de ‘A Luz Entre Oceanos’ também segue essa linha, mas colocando em foco como uma tragédia familiar pode abalar permanentemente a relação entre o casal e o impacto e consequência que as escolhas que fazemos terão pelo resto de nossas vidas. Coestrelado pelo casal na vida real Michael Fassbender e Alicia Vikander, o filme conta também com Rachel Weisz no elenco de apoio.

O filme recria os anos 20 na Austrália nos apresentando a Tom, um homem fechado que busca um lugar calmo para passar seus dias. Seu personagem parece carregar uma angústia interior, provavelmente carregando consigo algum remorso dos tempos de Primeira Guerra na qual lutou. Após alguns meses como faroleiro em uma ilha na costa australiana, Tom recebe a proposta de substituir o antigo faroleiro, que não resistiu à pressão do isolamento daquele lugar. Então ele conhece Isabel, uma mulher cheia de vida que se encantou de cara pela personalidade misteriosa do recém-chegado. Basicamente, o filme é um drama de época, mas diferentemente de ‘Orgulho e Preconceito’, por exemplo, que explora os encontros e desencontros de uma paixão entre duas pessoas que lutam contra o desejo dos seus corações, o foco de ‘A Luz Entre Oceanos’ é muito mais a tragédia, tornando o tom do filme muito mais melancólico e pesado (sensação que é ampliada com o auxílio da bela trilha sonora de Alexandre Desplat).

A obra tem muitos pontos positivos, especialmente com relação à direção de arte e a fotografia de Adam Arkapaw (de ‘Macbeth’ e a primeira temporada de ‘True Detective’). Cianfrance explora muito bem a exótica paisagem da região com planos bem abertos mostrando o céu, o mar e o verde dos campos e das árvores, que além de muito bonitos, ajudam bastante a reforçar a sensação de isolamento dos personagens, demonstrando também o quanto eles estão física e emocionalmente distantes de todo o resto do mundo para ultrapassar o momento difícil que estão passando. Outro aspecto bem interessante do filme é que o ambiente ajuda a contar a história. A direção mescla momentos de calmaria, explorando a sensação de liberdade e paixão de Isabel com outros onde o mar super agitado, ventania e a tempestade prenunciam que algo de muito ruim está para acontecer. O fato de todo elenco de apoio ser composto por moradores da região ou atores australianos também colabora muito para adicionar veracidade à trama.

Mas há alguns pontos de ressalva no filme também. Em determinado momento, a personagem Hannah (Rachel Weisz) entra na história com um papel importante. Então para mostrar mais sobre Hannah, o filme recorre a alguns flashbacks ‘desnecessários’, pois como o filme é bastante prolixo e arrastado, apenas alguns diálogos a mais explicando o background da personagem não fariam mal algum. Entretanto, os flashbacks são pouco inspirados e ‘forçam’ uma relação de Hannah com seu ex-marido que não convence, pois o espectador não tem tempo suficiente para acreditar e se importar totalmente com a relação (diferentemente do casal principal, cuja relação é construída pacientemente). Em outras palavras, os flashbacks são apenas uma ‘distração’ para o drama principal e não agregam tanto. Outro ponto que pode incomodar alguns – embora este esteja relacionado ao gosto do espectador – é que o filme ultrapassa a ‘linha’ entre o drama e o melodrama. Em muitos momentos, o filme dá a sensação de que estamos vendo mais uma novela do que a um filme. As ações dos personagens e as complicações da trama parecem estar sempre um tom acima, exagerados (especialmente no terceiro ato, próximo do clímax). Aliando isso ao ritmo bastante lento e as inúmeras montagens que demonstram a passagem de tempo (há vários ‘clipes’ com a feliz relação do casal, outros da filha crescendo, há também os clipes mais tristes), chega um momento ao longo das mais de duas horas de filme que isso pode entediar e incomodar algumas pessoas.

Concluindo, ‘A Luz Entre Oceanos’ é um melodrama muito bonito, embora muito mais visualmente do que em termos de história. Cianfrance é um diretor dedicado (inclusive solicitou que o casal principal vivesse juntos por seis semanas no set de filmagem e o resultado disso é sentido na tela) e que sabe trabalhar bem explorando relacionamentos amorosos conflituosos. Esta foi sua primeira adaptação de um livro e embora tenha deixado a trama muito com cara de ‘novelão’, como eu mencionei anteriormente, se saiu muito bem na adaptação e certamente irá encontrar muitos admiradores, especialmente entre o público feminino. O trio principal entrega grandes atuações, muito convincentes em seus papéis, mas são prejudicados pelo tom exagerado que o filme assume do meio para o final, afetando tanto as ações dos personagens (dificultando que o espectador crie empatia com eles) quanto a catarse sentida pelo desfecho da trama.

UM MOMENTO APIMENTADO: Isabel corre no meio da tempestade de encontro a Tom, que não a vê pois está trancado no Farol.




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