Poster A Morte de Luis XIV Divulgação

Conhecido por ser o monarca que reinou por mais tempo na Europa, o “Rei Sol” foi responsável pela reforma do sistema tributário, além de dar um maior incentivo para a indústria e comércio. Também fundou a instituição de academias de artes, ciências, pintura e escultura, e a construção do Palácio de Versalhes foi seu maior legado, mas Albert Serra mostrou um lado menos vitorioso e admirado do rei francês.

Ambientado apenas em um quarto escuro, na cidade de Versalhes, o filme de Serra traz o brilhante Jean-Pierre Léaud na pele da majestade francesa em seu estado mais degradante. Não vemos grandeza ou vitórias, apenas um homem majestoso sofrendo em sua cama por uma doença grave e mais perto da morte, que, com toda a fotografia crepuscular transmite o clima e o sentimento da situação. Demonstrando uma maturidade na direção, Serra se utiliza de uma câmera imóvel e faz um belíssimo trabalho com Léaud, que trabalha com maestria representando todo o sofrimento de Luís XIV.

A Morte de Luis XIV 02 Divulgação

Por mostrar o rei em sua maior fragilidade, o diretor tratou de escolher contar a história com um ritmo mais lento e deixa todo o roteiro fluir sozinho, com diálogos mais encorpados e prolongados. Sua fotografia maravilhosa transforma cada take em uma obra de arte, lembrando quadros de Rembrandt e Ticiano. A mistura da fotografia com o ritmo faz ‘A Morte de Luís XIV’ ser o estilo de filme que Cannes almeja, algo negativo para um público não apreciativo de filmes artísticos.

Mesmo com toda a beleza e sensibilidade, o trabalho de Serra peca por sua longa duração, que misturada com o ritmo lento, cansam o espectador. Para uma história onde o público já sabe o final, Serra decidiu ir devagar até de mais, passando ao espectador a sensação que o diretor queria criar a experiência de acompanhar um parente com doença terminal, onde você sabe o que vai acontecer, não pode fazer nada e deve ficar acompanhando, não importa o tempo que for.

A Morte de Luis XIV 01 Divulgação

Toda a construção do ambiente e da situação são feitas de formas simples, mas cansa com sua narrativa devagar e a mistura com uma fotografia mais escura, o que deixa o espectador cada vez mais distante do ambiente e da história. Além da narrativa, o filme falha no uso da trilha sonora, onde em grande parte ela não aparece e quando aparece é mal utilizada, sendo finalizada de forma preguiçosa e fraca.

Albert Serra provou sua grandiosidade e maturidade na direção em mais um belo e maravilhoso trabalho, que infelizmente não chama a atenção do público por sua lentidão e silencio, mas não esconde a beleza presente em cada cena, beleza essa que vai do figurino a atuação.

‘A Morte de Luís XIV’ é mais do que merecedor de uma seleção ao Festival de Cannes, e por mais belo, delicado e sensível, perde em caminhar com curtos e lentos passos até o final.

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