ALVIN E OS ESQUILOS - Na Estrada

Muitos filmes produzidos nos últimos anos são meros produtos mercadológicos que existem por causa de uma demanda consumidora específica. Os estúdios de Hollywood são o maior expoente desse comportamento e são criticados por criar audiovisuais de qualidades, no mínimo questionáveis, que apenas visam ao lucro, há muitas décadas. Mesmo assim, nos últimos vinte anos, lançaram no mercado uma enxurrada desse tipo de produção, em forma de refilmagens, adaptações, continuações e séries de TV baseadas em filmes, HQ e desenhos animados, de sucesso.

Com as animações não é diferente, tanto que existe todo um mercado paralelo de filmes animados que são feitos exclusivamente para o “home video”, várias de péssima qualidade. Até mesmo a Disney criou um “sub-estúdio” de animação, o Disney Toon Studios, responsável por lançamentos direto em DVD e ocasionalmente para o cinema, de filmes como ‘Tinker Bell – Uma Aventura no Mundo das Fadas’ (2008) e suas três continuações. Até empresas de outros países já começam a querer uma fatia desse mercado, como o estúdio russo Wizart Animation de ‘O Reino Gelado’ (2013), que apesar de esforçado, está longe de atingir uma excelência de animação.

ALVIN E OS ESQUILOS - Na Estrada 2

‘Alvin e os Esquilos’ (no original, ‘Alvin and the Chipmunks’) é baseado na série de desenho animado homônima da década de 1950. Sua reformulação para o cinema adaptou os antigos personagens para uma representação em 3D, misturada com atores reais, conhecido pelo termo “live action”. O primeiro ‘Alvin e os Esquilos’ (2007) foi muito bem recebido pelo público obtendo uma bilheteria expressiva de mais de 350 milhões de dólares em todo o mundo, transformando suas continuações em possíveis “minas de ouro”. Seu sucesso com a criançada se explica principalmente pelo seu fator como novidade ao adaptar músicas “pop”, para a voz aguda dos esquilinhos que esbanjavam carisma nos primeiros trailers.

Entretanto, para o espectador que não é fã da música “pop” americana ou para cinéfilos mais experientes que assistissem o filme uma segunda vez, as cantorias dos roedores já começavam a soar um tanto irritantes. Isso ficou mais evidente quando foi lançado o segundo ‘Alvin e os Esquilos 2’ (2009) que aumentou o número de esquilinhos cantore(a)s. Para quem gostava do primeiro foi engraçadinho ver as versões femininas dos personagens hiperativos, mas para quem já não apreciava as vozinhas do primeiro, o surgimento de mais três não contribui para uma mudança de opinião.

ALVIN E OS ESQUILOS - Na Estrada 3

No terceiro filme ‘Alvin e os Esquilos 3’ o roteiro brincou com alguns gêneros e referências a longas-metragens famosos. Utilizou o recente crescimento das viagens de cruzeiros navais como ideia inicial, chegando a fazer menções diretas a longas como ‘Náufrago’ (2000). Apesar de ser a continuação com o melhor enredo da franquia, ainda tinha uma narrativa que subestimava adultos e crianças.

Dirigido por Walt Becker (‘Motoqueiros Selvagens’ de 2007), ‘Alvin e os Esquilos: Na Estrada’ (2015) é um filme que não destoa em nada dos três primeiros. Apesar de terem mudado o vilão, a dinâmica dos personagens continua a mesma. As relações continuam exageradamente piegas e construídas de forma preguiçosa. Alvin ainda continua o mesmo egocêntrico dos longas-metragens anteriores, que sempre aprende uma lição no final de cada longa, mas as esquece no início de cada nova aventura. Simon continua o mesmo estereótipo de “nerd” (até tentaram mudar sua representação no terceiro filme, onde ele encarnava um francês). Theodore continua sendo o mais carismático com seus modos carentes e sua compulsão por comida. Porém, nenhum deles perece ter amadurecido em nada depois de três continuações e a franquia parece nunca sair do lugar, dando a impressão de que estamos assistindo sempre o mesmo filme, apenas com músicas mais atuais.

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Desde o início do século XX os estúdios de animação, principalmente da Disney, provaram que desenhos animados podem ter um apuro que agrade tanto as crianças, quanto os adultos mais exigentes ao mesmo tempo. Filmes como ‘Fantasia’ (1940) e ‘O Rei Leão’ (1994) são a prova disso. Mais recentemente a Pixar (hoje pertencente a Disney), também fez isso com muita qualidade, com produções como ‘Toy Story’ (1995) e ‘Wall-E’ (2008). Posteriormente inspirados pelo sucesso da Disney e Pixar outros estúdios, também seguiram esse caminho como a DreamWorks com ‘Shrek’ (2001) e ‘Como Treinar o Seu Dragão’ (2011) e ainda outras empresas como a Blue Sky com ‘A Era do Gelo’ (2001) e ‘Rio’ (2011).

Mesmo esses estúdios reconhecidos por sua qualidade como animadores, costumam lançar produtos com qualidade inferior, apenas para manter esse mercado aquecido. Geralmente esses audiovisuais são feitos para o “home video”, como as continuações do já citado ‘Rei Leão’ ou a derivação de franquia ‘Carros’, a série ‘Aviões’. Entretanto, no Brasil, alguns deles acabam sendo gananciosamente distribuídos no cinema, como ocorreu com ‘Carros 2’ (2011). Há ainda as produções que mantém a qualidade técnica, mas que só são populares exclusivamente entre as crianças, por causa da infantilidade de seus roteiros, principalmente filmes da DreamWorks como as continuações de ‘Madagascar’ e de ‘Sherek’, que apesar de terem um alto poder de diversão entre os filhos, entediam alguns pais.

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A série de filmes “Alvin e os Esquilos” ao lado de outras, como ‘Smurfs’ são representantes dessa indústria que produz animações misturadas com o já citado “live action”, voltados para o público infantil, mas que não se preocupa com uma qualidade que agrade, também os pais. Ainda que os menos exigentes até os consumam sem se importar com seus defeitos, por que geralmente quando vão às salas de cinema ver esse tipo de filme é para agradar os filhos. Além da série de longas dos roedores serem lançadas sempre estrategicamente na época do Natal, há também o fator nostalgico desse tipo de diversão, que nubla um pouco a percepção crítica, mas que não sobrevive a uma análise um pouco mais detalhista. Mesmo assim não é menos condenável a falta de cuidado técnico que os estúdios têm com esses produtos, que subestima a inteligência e a capacidade de se envolver com uma narrativa, bem construída, de seu público alvo. E a cada novo longa-metragem animado, deste tipo – lançado no mercado, fica mais evidente que eles só existem para preencher um espaço comercial dos estúdios.

 

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