ani‘Quando você ama alguém, você não pode simplesmente jogá-lo fora’.

10 FATOS SOBRE ‘ANIMAIS NOTURNOS’, O MELHOR THRILLER DE SUSPENSE DO ANO

UMA HISTÓRIA DE VINGANÇA: Susan (Amy Adams) é a proprietária de uma galeria de arte que recebe do ex-marido escritor (Jake Gyllenhaal) um livro no qual a violenta história de vingança passa a assombrá-la cada vez mais que se envolve com a leitura. A direção é de Tom Ford (que também é estilista) e será seu segundo filme na carreira, sete anos após ter estreado com o elogiado ‘Direito de Amar’. O próprio diretor adaptou o roteiro do livro ‘Tony & Susan’, publicado pelo escritor Austin Wright – que faleceria 10 anos depois do lançamento da sua obra.

COMO NOSSAS ESCOLHAS NOS DEFINEM: Além de dar nome ao filme, ‘Animais Noturnos’ é o título do livro que Edward (Jake) escreve para Susan. É um filme que fala muito sobre como nossas decisões e escolhas afetam nossa identidade. Muitas vezes, quanto mais você muda, mais acaba se esquecendo de quem é. Além disso, por meio de algumas simbologias, o diretor busca também formas de criticar a sociedade americana atual, como faz na ‘chocante’ abertura do filme – revertendo o famigerado padrão de beleza como conhecemos, transformando algo mais natural e realista em arte.

As vezes a resposta está diante dos nossos olhos As vezes a resposta está diante dos nossos olhos

UM LIVRO DENTRO DE UM LIVRO: ‘Tony e Susan’ é considerada pelos críticos literários uma obra de narrativa extremamente inteligente por conseguir prender o espectador com a história de um livro ‘dentro de outro livro’. Agora, imagine a dificuldade de tornar um livro assim uma história interessante e envolvente para o cinema, uma mídia estritamente audiovisual. Portanto, considero um grande trabalho de Tom Ford na adaptação por conseguir transforma-lo em uma história visceral sobre vingança, caprichando na estética e deixando várias pistas visuais para o espectador. É quase impossível chegar ao fim de ‘Animais Noturnos’ sem sair incomodado ou impactado.

ROTEIRO: O roteiro do filme segue basicamente duas linhas narrativas (podem se considerar três, se levarmos em conta uma parte contada em flashback). Para entender melhor, a história real é mostrada do ponto de vista de Susan, novamente casada (com Armie Hammer) e com uma filha. A outra linha é própria ação que ocorre dentro do livro, onde um pai com sua esposa (Isla Fischer) e filha são tirados da estrada por arruaceiros (liderados por Aaron Taylor-Johnson) e após escapar tem o auxílio de um detetive (Michael Shannon) para reencontrar sua família desaparecida. Por fim, como eu mencionei, a terceira linha se conecta com primeira (do mundo real), mostrando o início da relação entre Susan e seu ex-marido Edward quando ele chegou a NY.

EMPATIA: Provavelmente você já assistiu a um filme ou ouviu uma história que parecia ter sido feita precisamente para você. Mais um ponto interessante de ‘Animais Noturnos’ é que o livro que Susan lê a toca tão profundamente que a pega em um momento frágil e infeliz, lhe fazendo reexaminar as escolhas que fez durante sua vida. A história contada no livro funciona como uma metáfora para a vida real. Ao fazer isso, o diretor consegue fazer algo muito importante que é gerar empatia, ou seja, mesmo que não estejamos passando pelo mesmo momento emocional da personagem, suas reações nunca parecem artificiais, pois entendemos como ela se sente.

Em 'Animais Noturnos' Tom Ford prova como sua direção amadureceu Em ‘Animais Noturnos’ Tom Ford prova como sua direção amadureceu

MEDO TRÁGICO: Ainda seguindo esse raciocínio, a direção de Tom Ford também demonstra uma grande evolução com relação a seu filme anterior. Se para alguns, um dos elementos que faltou em ‘Direito de Amar’ foi criar forte conexão emocional com os personagens, aqui em ‘Animais Noturnos’, Tom mexe com nosso psicológico recriando um dos maiores pesadelos dos seres humanos: não conseguir proteger aqueles a quem amamos (segundo Aristóteles, o chamado medo trágico). É por meio da empatia que o filme gera com os protagonistas que conseguimos nos identificar com eles e torcer por justiça. E é aí que surge o detetive Bobby (Shannon), o único que pode fazer Tony (o pai da história, também vivido por Jake) conseguir sua tão desejada vingança.

Michael Shannon: possível (segunda) indicação ao Oscar? Michael Shannon: possível (segunda) indicação ao Oscar?

FIGURINOS IMPECÁVEIS: Por meio da direção de arte e figurinos impecáveis (da indicada a dois Oscars Arianne Phillips), podemos ver, por exemplo, que apesar de estar sempre glamourosamente vestida Susan está sempre com o semblante triste. Se unirmos isso ao fato de que ela deixou de ser artista para ter uma galeria de arte com obras de outros, podemos considerar que ela vende uma imagem de sucesso na superfície, mas que não a preenche completamente. Esse sentimento fica ainda mais claro quando a vemos se relacionando com Edward, seu marido ou sua mãe (Laura Linney), por exemplo. E não posso deixar de elogiar os grandes diálogos deste filme, extremamente fortes e objetivos, como ensinou o escritor e professor de roteiro John Truby, sempre com a última frase do diálogo sendo a melhor. Grandes cenas são construídas em cima disso e o filme tem várias assim.

O filme conta com figurinos e direção de arte impecáveis O filme conta com figurinos e direção de arte impecáveis

PISTAS: É claro que não quero dar nenhum spoiler, portanto, não contarei nada além do que estiver nos trailers. Mas, o filme não é necessariamente muito sutil em deixar pistas visuais para que o espectador vá criando conexões ao longo da história. Dentre as mais sutis, estão alguns detalhes como quando Susan se corta com papel que embrulha o livro, aquilo pode indicar que tanto o livro (conteúdo, palavras) quanto o papel (algo frágil) também podem machucar alguém. A relação com cores também é interessante, há um sofá em um momento e um carro em outra cena, que no subconsciente do espectador vão ajudando a assimilar algumas coisas. Ou uma longa mesa na cozinha de Susan que a separa do marido, mostrando o quão distantes eles também estão emocionalmente. Isso é inteligência, sofisticação, e eu adoro filmes que conseguem se comunicar além da linguagem verbal.

Algo frágil como o papel também pode nos machucar Algo frágil como o papel também pode nos machucar

PERSONAGENS E ATUAÇÕES: ‘Animais Noturnos’ tem um dos melhores elencos reunidos esse ano. Não apenas pela dupla principal, que entrega atuações extremamente críveis em um filme difícil – porque interpretam personagens em momentos diferentes de suas vidas e mesmo assim não há um defeito que eu possa citar. Os coadjuvantes também são peças fundamentais na trama, com destaque para Michael Shannon e Aaron Taylor-Johnson (Indicado ao Globo de Ouro pelo seu papel). Enquanto Shannon mais uma vez entrega um personagem resoluto, extremamente expressivo e ameaçador apenas com o olhar, Taylor-Johnson está incrivelmente insano com seu sotaque caipira e sua psicopatia. Disparada sua melhor atuação na carreira (em entrevista, Tom Ford declarou que a ideia da cena da privada surgiu ao encontrar uma imagem no Google).

A cena em que Aaron aparece na privada foi sugerida pelo diretor após encontrar uma imagem no Google Indicado ao Globo de Ouro, Aaron está incrivelmente insano e psicótico

DIREÇÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS: Além de tudo disso, o filme funciona muito bem mesmo se passando em dois lugares completamente diferentes, entre a fria Nova York e o deserto quente da Califórnia – onde foram filmadas as cenas do livro (o contraste também é realçado pela paleta de cores). A direção de Tom Ford surpreende completamente com belíssimas transições, além de uma das sequências mais tensas do ano, que é a da perseguição na estrada. O final é subjetivo, o que torna ainda mais interessante de se debater no filme ou assisti-lo novamente e a estética é impecável. ‘Animais Noturnos’ pode ser considerado o melhor thriller de suspense do ano, por contar uma história inteligente, cheia de tensão e com uma carga emocional que permite se compadecer com os personagens. Absolutamente um dos melhores de 2016.

E você, já assistiu ou está ansioso para ver? Concorda ou discorda da análise? Deixe seu comentário ou crítica (educadamente) e até a próxima!




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