Em 2002, uma comédia dirigida por Joel Zwick conquistou crítica e público por conseguir adaptar o formato de uma série de TV familiar para o cinema, com um roteiro agradável, trazendo personagens diferentes em uma família grega bem exótica. Nisso tudo, a protagonista Toula é uma mulher beirando os trinta anos, cujo sonho do pai era o de que ela se casasse com um grego para manter as tradições familiares. No entanto, como ninguém manda no coração, Toula (Nia Vardalos) acaba se apaixonando por um inglês chamado Ian (John Corbett). E é aí que reside o problema, pois o relacionamento terá que ser aceito em uma cultura completamente diferente.

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O filme é bem leve, fez um sucesso impressionante de bilheteria. O que é curioso, já que suas falas não o tornam um longa exatamente engraçado e em nada justificou sua indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Original (!).

Catorze anos depois, agora morando em Chicago, é a vez da filha do casal principal, Paris (Elena Kampouris), entrar na adolescência e começar a se incomodar com a pressão familiar em vários sentidos, como escolher uma faculdade, arrumar um namorado e conseguir sua independência dentro de uma família que é unida para tudo. Essa é basicamente a trama principal desta continuação, que desenvolve tanto a personagem de Paris como filha quanto a de Toula como mãe, coisas que não tínhamos visto no filme anterior. É importante ressaltar, porém, que há muitos ‘subtemas’ nos quais o filme toca ou tenta abordar durante sua projeção.

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Dirigido por Kirk Jones ( de ‘O Que Esperar Quando Você Está Esperando’), um dos pontos positivos de ‘Casamento Grego 2’ é que ele é bem fiel à essência do filme anterior, como uma espécie de agradecimento aos fãs por ter conquistado seu sucesso. Há muitas referências feitas para seu público-alvo, como o limpa-móveis, o restaurante, uma ligação com a informática, além da excentricidade da família, é claro. Só que o tom deste filme é diferente, aqui deixamos de ver uma comédia ingênua e estamos diante de praticamente um filme screwball, ou seja, uma comédia bem mais maluca e excêntrica que a original.

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Entretanto, logo esse laço de nostalgia com o público se dissipa, deixando bem nítido o quão desnecessária torna-se essa continuação. A tentativa de humor é, basicamente, calcada em estereótipos e piadas que, mesmo ditas de forma simplória, especialmente pelo avô Gus (Michael Constantine), são ofensivas e ultrapassadas – pois vale lembrar que estamos em 2016, mais de uma década depois do filme original. O que fazia rir naquela época não necessariamente continua sendo engraçado hoje em dia. Na tentativa de aumentar a amplitude da confusão do filme, o roteiro da estrela da franquia, Nia Vardalos, “trai” seus personagens em prol do suposto humor do filme.

De excêntricos, fofos e interessantes, as atitudes irrealistas da família dão a entender que gregos são estranhos, não sabem se comportar em público e não se adequam ao ambiente no qual se encontram. É certo que podemos alegar que, por ser uma comédia, tudo precise ser exagerado. Mas isso funcionaria se as piadas fossem realmente engraçadas. Ao invés disto temos, por exemplo, a piada que Paris precisa de um namorado grego pra se casar logo – embora a garota esteja preocupada com seu futuro e qual faculdade iria cursar, coisa que a família não está nem aí. Na primeira vez que isso é dito no filme, naturalmente o espectador pode achar engraçado, mas essa mesma piada se repete mais de oito vezes durante o filme, apenas pelo personagem de Gus (sim, eu contei!). Alguns roteiristas subestimam o fato de que fazer comédia é muito mais difícil do que parece…

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Outro problema do longa é seu excesso de tramas paralelas. Gus tem um problema com o irmão que mora na Grécia, no meio do filme surge do nada um problema no casamento de Toula e Ian, além da questão da filha estar se mudando de casa, etc. Para justificar o título de “Casamento Grego”, surge também um problema no casamento de Gus e Maria, que é o que basicamente move o filme do meio para o final. Todos esses direcionamentos não chegam nem a ser pontas soltas, porque não há profundidade nem relevância na maioria dessas questões e elas não servem para fazer o filme caminhar rumo a uma resolução aceitável.

Basicamente, o tema do filme é um drama familiar, que usa o tema do casamento e algumas situações cotidianas para tentar retratar como é a vida de uma família imigrante em outro país, lutando interna e externamente para não perder suas raízes e as características que lhes diferenciam das demais famílias vizinhas. Entretanto, é um tema de pouca relevância pela forma com a qual foi apresentada, visto que o mesmo é fundamentado em estereótipos, onde não há um drama real. Tudo se resolve automaticamente e, apesar das confusões, os personagens não conseguem aprender com seus erros.

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A direção e o roteiro são tão fracos que não sugerem uma solução realista para nada no filme, nem um sequer dos problemas abordados. Há atitudes que não entendemos, como por exemplo, uma adolescente “rebelde” que quer distância da família, se isolaria no quarto ou iria passear à noite com o cachorro acompanhada das tias e a avó? O que seria mais plausível? Mas logo percebemos que ela precisaria estar ali para pegar os pais numa situação completamente clichê mais a frente. O segredo de um filme é que os personagens não pareçam que estão em um filme.

Há melhorias com relação ao seu antecessor na questão estética, na direção de arte mais caprichada e figurinos – o que é compreensível pelo maior investimento no projeto. A trilha sonora também é boa, remetendo ao clima do filme original. Mas além do fato de gerar bilheteria, resgatando um sucesso antigo e apostando na fidelidade do seu público-alvo, ‘Casamento Grego 2’ não justifica o por quê de ter sido feito. É muito semelhante ao que a franquia ‘American Pie’ fez recentemente com ‘American Reunion’ (2012), e as semelhanças são tantas que até a personagem da Tia Voula se torna uma espécie de Stifler, desbocada e fazendo menção a sexo em quase todas as suas falas (até porque falta de sexo no casamento é um tema pouquíssimo explorado no cinema e televisão, não é?).

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Com um misto de ‘Sex And the City’ com ‘American Pie 3’, ‘Casamento Grego 2’ perde completamente o foco do drama familiar para se tornar uma comédia de situação genérica, que aposta no elenco original para levar fãs nostálgicos às salas de cinema. Certamente irá agradar a alguns, mas mesmo aqueles que gostarem perceberão que é um humor bem raso e momentâneo, resultando em um filme completamente esquecível. O que resta torcer é que a franquia pare por aqui para não estragar ainda mais o legado de uma boa história e de bons personagens escritos lá atrás, em 2002.





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