Cinema brasileiro, uma arte renovada a cada dia

Das chanchadas às comédias atuais, o Cinema brasileiro vive em constante mudança. Ao contrário do que aconteceu na Europa e nos Estados Unidos, aqui o Cinema demorou a se desenvolver no século XX. Apenas na década de 1930, surgiram as primeiras empresas cinematográficas, produtoras de filmes do gênero chanchada.

Porém, o desenvolvimento do cinema brasileiro ocorreu mesmo nos anos 1960 com o surgimento do ‘Cinema Novo’, quando um grupo de jovens frustrados com a falência das grandes companhias cinematográficas paulistas resolveu lutar por um cinema com mais realidade, mais conteúdo e menor custo.

Terra_em_TranseCena do filme ‘Terra em Transe’, de 1967, irigido por Glauber Rocha

Cinema esse, influenciado pelo Neo-realismo italiano e pela “Nouvelle Vague” francesa, com reputação internacional. Como destaque desta época, podemos citar ‘Deus e o Diabo na Terra do Sol’ e ‘Terra em Transe’, ambos do diretor Glauber Rocha. Outro cineasta que também merece destaque neste período é Carlos Diegues, autor de ‘Ganga Zumba’.

Contudo, o cinema teve sua queda e as décadas de 1970 e 1980 representam muito bem o período de crise para o cinema nacional. A crítica e os grandes problemas nacionais saíram de cena para dar lugar aos filmes de consumo fácil, com temáticas simples e de caráter sexual, muitas vezes de mau gosto. Foi quando surgiram as pornochanchada, nas quais a qualidade é deixada de lado, e os cineastas, muitos deles sem representatividade no cenário nacional, começam a produzir em larga escala.

Dona_FlorFilme ‘Dona Flor e Seus Dois Maridos, de 1976, dirigido por Bruno Barreto

Mesmo neste período, alguns cineastas resistiram e procuram produzir filmes inteligentes e bem elaborados. Podemos destacar os seguintes filmes neste contexto: “Aleluia Gretchen” de Sílvio Back; “Vai trabalhar, vagabundo!” de Hugo Carvana e “Dona Flor e seus dois maridos” de Bruno Barreto.

Já na década de 1990, os filmes começaram a ser produtos rentáveis e a “indústria cinematográfica” ganhou impulso em busca de grandes bilheterias e altos lucros. Desta forma, as produções passaram a atender diversos públicos. Altas produções de comédias, dramas, política e filmes de caráter policial começaram a ser produzidos em território nacional, com políticas de incentivo e empresas patrocinadoras.

tropa_de_elite_2Wagner Moura em ‘Tropa de Elite 2’, de 2010, dirigido por José Padilha

Sendo assim, o Brasil produziu e ainda produz longas que mobilizam grande número de espectadores. Este cenário está presente até os dias de hoje, demonstrando o grande avanço da indústria cinematográfica brasileira. Vale lembrar que o filme brasileiro que teve maior bilheteria em todos os tempos foi ‘Tropa de Elite 2’ (2011) com público de 11 milhões.

Seguindo a mesma premissa, muitos diretores inspiraram-se nesta nova fase do Cinema brasileiro e produziram várias obras, que citamos aí em baixo. Confira!

O Pagador de Promessas (1962) / Direção: Anselmo DuarteO_pagador_de_promessas

Zé do Burro (Leonardo Villar) e sua mulher Rosa (Glória Menezes) vivem em uma pequena propriedade a 42 quilômetros de Salvador. Um dia, o burro de estimação de Zé é atingido por um raio e ele acaba indo a um terreiro de candomblé, onde faz uma promessa a Santa Bárbara para salvar o animal. Com o restabelecimento do bicho, Zé põe-se a cumprir a promessa e doa metade de seu sítio, para depois começar uma caminhada rumo a Salvador, carregando nas costas uma imensa cruz de madeira. Mas a via crucis de Zé ainda se torna mais angustiante ao ver sua mulher se engraçar com o cafetão Bonitão (Geraldo Del Rey) e ao encontrar a resistência ferrenha do padre Olavo (Dionísio Azevedo) a negar-lhe a entrada em sua igreja, pela razão de Zé haver feito sua promessa em um terreiro de macumba. O longa é baseado na peça teatral homônima de Dias Gomes e foi o único filme brasileiro a conquistar a Palma de Ouro do Festival de Cannes, na França, um dos mais importantes prêmios cinematográficos do mundo.

O Quatrilho (1995) / Direção: Fábio BarretoO_Quatrilho

Estrelado por Patricia Pilar, Gloria Pires e grande elenco, o filme trata a história de dois casais muito amigos se unem sob o teto de uma mesma casa, numa comunidade rural no Rio Grande do Sul habitada por imigrantes italianos. O tempo faz com que a esposa de um marido se interesse pelo marido da outra. Ambos decidem fugir e recomeçar nova vida, deixando para trás seus parceiros. O longa foi indicado ao Oscar, é e baseado livro homônimo ‘O Quatrilho’ de José Clemente Pozenato.

O Auto da Compadecida (1999) / Direção: Guel ArraesO_Auto_da_Compadecida

Baseado na peça teatral ‘Auto da Compadecida’ de 1955 de Ariano Suassuna, com elementos de O Santo e a Porca e Torturas de um Coração, ambas do mesmo autor, e influências do clássico de Giovanni Boccaccio Decameron, o filme recebeu as premiações de melhor diretor, melhor roteiro, melhor lançamento e melhor ator durante o Grande Prêmio Cinema Brasil, evento criado pelo Ministério da Cultura. O longa conta a história de João Grilo (Matheus Nachtergale), sertanejo mentiroso, e Chicó (Selton Mello), maior covarde da região. Ambos são muito pobres e sobrevivem de pequenos negócios e golpes, enquanto vagam pelo sertão. Em um desses golpes, eles se envolvem com Severino de Aracaju (Marco Nanini), temido cangaceiro, que os persegue pela região. Com mistura de drama e comédia, o filme também aborda aspectos culturais e religiosos do Nordeste do Brasil.

Cidade de Deus (2002) / Direção: Fernando Meirelles e Kátia LundCidade_de_deus

O filme retrata o crescimento do crime organizado na Cidade de Deus, uma favela que começou a ser construída nos anos 1960, e se tornou um dos lugares mais perigosos do Rio de Janeiro no começo dos anos 1980. Para contar a trajetória deste lugar, o filme narra a vida de diversos personagens e eventos que vão sendo entrelaçados no decorrer da trama, tudo pelo ponto de vista do narrador, Buscapé, um menino que cresceu em um ambiente muito violento, porém, encontra chances de não ser fisgado pela vida do crime. Filme verossímil, com trilha sonora e elenco sensacional. Vale a pena!

Deus é Brasileiro (2003) / Direção: Cacá DieguesDeus_é_brasileiro

Entrando nos anos 2000, o filme ‘Deus é Brasileiro’ vem marcar essa nova fase do Cinema. A comédia dirigida por Cacá Diegues tem um roteiro simples, baseado no conto “O Santo que não Acreditava em Deus”, de João Ubaldo Ribeiro, e adaptado por Diegues, João Emanuel Carneiro e Renata de Almeida. Na longa, Deus (Antônio Fagundes) resolve tirar umas férias, mas, para isso, precisa encontrar um santo que se ocupe de seus deveres enquanto ele estiver ausente. Resolve, então, procurá-lo no Brasil, país muito religioso que, no entanto, nunca teve um santo reconhecido oficialmente. Do litoral de Alagoas ao interior do Tocantins, passando por Pernambuco, Taoca, Madá e Deus vivem diferentes aventuras enquanto procuram por Quinca das Mulas (Bruce Gomlevsky), o candidato de Deus a santo.

Meu Tio Matou um Cara (2004) / Direção: Jorge FurtadoMeu tio matou um cara

Este filme também marcou uma fase boa do Cinema Nacional. Éder (Lázaro Ramos) é preso ao confessar ter matado um homem. Duca (Darlan Cunha), um menino de 15 anos que é sobrinho de Éder, tenta provar a inocência do tio, pois tem certeza de que o tio está assumindo o crime para livrar a namorada, Soraya (Deborah Secco), ex-mulher do morto. Duca também quer conquistar o coração de Isa (Sophia Reis), uma colega de escola que parece estar mais interessada em seu melhor amigo, Kid (Renan Gioelli). Para conseguir provar sua teoria, Duca recebe a ajuda de Isa e Kid nas investigações e contrata um detetive para tirar fotos do apartamento de Soraya. A trilha de Zéu Brito é marcante no filme. Assista!

O Cinema Nacional, de fato, mostrou que tem potencial e a cada dia se faz mais presente nas culturas internacionais. A nossa indústria mostrou seu potencial, exportando material de qualidade. Hoje, temos artistas consagrados lá fora e muito prestígio. Que o cinema brasileiro seja cada vez mais brindado com obras maravilhosas. Até a próxima!

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