Juntos
Director
Michael Shanks
Cast
Alison Brie, Dave Franco, Damon Harrimon
Writer
Michael Shanks
Company
Neon
Runtime
102 minutos
Release date
14 de agosto de 2025
Dizem que amor verdadeiro é encontrar sua outra metade, duas pessoas que, juntas, se completam. Pode ser uma ideia romântica, mas em “Juntos”, de Michael Shanks (também responsável pelo roteiro), é o pontapé inicial para uma história de terror, com direito a muito body horror. Liderado pelo casal da vida real Alison Brie e Dave Franco, o filme pega o mito de Platão sobre a origem do amor e o leva para novos níveis. “Juntos” começa com uma forma muito familiar e realista: Tim (Dave Franco) e Millie (Alison Brie) são um casal de quase uma década e agora estão dando um passo a mais na relação. Millie conseguiu o emprego que queria numa cidade no interior e os dois estão saindo da cidade grande. Pra quem vê de fora, eles são o casal perfeito, mas com poucos detalhes podemos ver que as coisas não vão tão bem assim. Tim é um músico que ainda não alcançou o sucesso que queria, não parece inteiramente convencido sobre a mudança e anda evitando sexo com Millie. As suspeitas de que o casal já viu dias melhores se confirmam quando, durante sua festa de despedida dos amigos, Millie pede Tim em casamento e o resultado foi um momento desconfortável para todo mundo, mesmo com um “sim”.
Os problemas entre Millie e Tim poderiam ser bem clichês. Ela, a mulher com foco e ambição, que busca uma vida melhor para o casal. Ele, um músico fracassado e frustrado, que nem ao menos tem uma carteira de motorista, mas o relacionamento deles é mais complexo que isso – depois de todos esses anos juntos, a codependência é algo presente e irrefutável, embora Shanks seja esperto o suficiente (e tenha dois ótimos atores à sua disposição) para fugir do óbvio e fazer com que a gente simpatize com os dois lados, e até mesmo torça para que eles fiquem juntos. Mas ao mesmo tempo que essa é uma história de amor, é também uma história de horror e nada acontece sem um propósito. É claro que a mudança para uma cidade pequena, numa casa isolada seria apenas o primeiro elemento do gênero a dar as caras. É uma cidade pequena, com símbolos estranhos e mistérios não resolvidos, e tudo só piora quando, durante uma trilha, o casal cai numa caverna e decide passar a noite lá para evitar a chuva torrencial que cai lá fora. Partes do que pareciam ser objetos de uma igreja estão incrustados nas paredes, um rio corre por lá, Tim bebe dessa água e quando Tim e Millie acordam na manhã seguinte, parte de suas pernas estão grudadas, como se alguém tivesse passado cola adesiva entre eles e fica evidente: algo mudou.
É a partir dessa manhã que a co-dependência do casal, principalmente de Tim, começa a se manifestar de forma física e o terror decola, mas seria injusto dizer que foi aí que o terror começou. “Juntos” ganha por introduzir uma certa tensão desde o princípio, que cresce com o aprofundamento da trama. Os “sintomas” que começam a se manifestar em Tim garante jumpscares de qualidade e verdadeiro horror. Por outro lado, o filme também sabe dar espaço para o bom-humor, com cenas que rendem boas risadas sem precisar de muito esforço, nem de abrir mão do clima central. Ao mesmo tempo em que há um conceito, “Juntos” não se leva tão a sério a ponto de não saber ser flexível. O enredo ganha novas camadas (e um rumo mais assertivo) com o Jamie (Damon Herriman), o colega de trabalho de Millie que traz mais informações sobre a cidade e coisas que já aconteceram por lá e explicam mais sobre o que está acontecendo com o casal – não que isso fosse realmente necessário, mas deve tornar o filme mais acessível para o público geral, sem prejudicar tudo que fora construído até ali.
Por Júlia Rezende