GOAT
Director
Justin Tipping
Cast
Marlon Wayans, Tyriq Withers, Julia Fox
Writer
Skip Bronkie, Zack Akers e Justin Tipping
Company
Universal Pictures
Runtime
96 minutos
Release date
09 de outubro de 2025
Não se deve julgar um livro pela capa e muito menos um filme por sua fotografia. O que torna um filme bom é o conjunto, em equilíbrio, de muitos fatores, como elenco, direção, roteiro, fotografia, trilha – e a lista continua… “GOAT” não tem a maioria desses fatores a seu favor, muito menos em equilíbrio, mas eu estaria mentindo se dissesse que não fui impactada (e um tanto impressionada) com o aspecto visual do filme. “GOAT” é muito mais uma vibe – um conceito, se preferir – do que um filme propriamente desenvolvido, criando uma atmosfera sombria com uma trilha tensa e uma atuação propositalmente exagerada de Marlon Wayans no papel do jogador/líder de culto Isaiah. Talvez se o foco do filme fosse uma torcida organizada de futebol, diferentes camadas de intenção poderiam se abrir para interpretação, como uma crítica ao culto a esse esporte, mas para um público brasileiro, que só mais recentemente começou a demonstrar um interesse pelo futebol americano, esse ponto perde a força.
Futebol americano pode não ser muito nossa praia, mas qualquer um pode entender obsessão e pressão dos pais. Em “GOAT”, vemos primeiro a infância de Cam, sempre sentado na frente da TV para acompanhar seu time de futebol na televisão. O quarterback (sempre os ídolos de seus respectivos times) era Isaiah, um jogador que parecia invencível, constantemente levando o time à vitória, considerado o melhor de todos os tempos (GOAT, quando abreviado para inglês). O pai de Cam certamente concordava com esse título, tanto que criou o filho tendo Isaiah como modelo e sempre dizendo que, desde que desse tudo de si, Cam poderia ser ainda maior que o ídolo. A paixão da família passou para Cam (Tyriq Withers), que dedicou sua vida ao esporte até ser um quarterback promissor no Ensino Médio, o bastante para que se tornasse a maior e mais cobiçada aposta para o draft da Universidade. Seu caminho para a glória estava praticamente garantido, até que um acidente lhe causa um traumatismo craniano e coloca tudo a perder. Os médicos pedem cautela, mas Cam é obstinado, segue em frente mesmo assim e, milagrosamente, a única sequela visível são os pontos que levou na cabeça, idênticos à costura de uma bola de futebol americano.
Apesar das dúvidas em relação à sua recuperação, Cam foi selecionado para um treinamento pré-temporada com o próprio GOAT. Nada em toda a situação é normal, e o local do treinamento só reforça toda a estranheza. Isaiah tem uma mansão/centro de treinamento no meio do deserto, completamente isolado, mas o que acontece lá dentro é ainda mais bizarro. Tudo é suspeito e misterioso e, a cada interação com Isaiah fica mais evidente que futebol americano, para ele (e para o restante do time) não é apenas um esporte, e sim todo seu universo. Além de Isaiah, sua esposa (Julia Fox interpretando Julia Fox, basicamente) é uma mulher pouco ligada às convenções sociais, os funcionários são esquisitos, os colegas de time alienados e as práticas de treino são tão violentas que flertam com a morte.
Há diversas formas de se encarar o filme GOAT, e a melhor delas é vê-lo como um filme de terror despretensioso, apenas para entreter e nada mais. O problema é que o próprio filme não joga a seu favor, uma vez que “despretensioso” é o último adjetivo que seria adequado para descrevê-lo. Como produção, o trabalho é primoroso, mas seus personagens tem pouco a dizer e a narrativa tem menos ainda. É difícil entender algum tipo de crítica clara, ou mais elaborada, a respeito da obsessão com o esporte e suas consequências tangíveis, mas uma vez que você consiga levá-lo pelo que aparenta ser – e não por aquilo que tenta ser, GOAT é divertido o suficiente.
Marlon Wayans, a quem estamos acostumados a ver nas comédias escrachadas, está comprometido a dar vida a um Isaiah lunático, obsessivo, e faz isso surpreendentemente bem. O filme ainda conta com elementos sobrenaturais que não são exatamente justificados, mas acrescentam à atmosfera sinistra e inquietante. Talvez GOAT não tenha muito a dizer, por mais que tenha tentado dificilmente será um filme lembrado no futuro, mas quando você é capaz de se desapegar dos “detalhes” menos lógicos, o espetáculo criado, principalmente com a fotografia e a trilha sonora, pode empolgar.
Por Júlia Rezende