O Bom Bandido
Director
Derek Cianfrance
Cast
Channing Tatum, Kirsten Dunst, Tony Revolori
Writer
Derek Cianfrance, Kirt Gunn
Company
Diamond Films
Runtime
126 minutos
Release date
16 de outubro de 2025
A história de O Bom Bandido é uma daquelas que são tão improváveis que só poderiam ser reais – se fosse um roteiro original, certamente seria acusado de romantizar um criminoso e exagerar na sua sorte. Mesmo sendo real, é bem certo que o filme ainda romantiza sim o “bom bandido”, mas ao que tudo indica, inclusive as reportagens originais que aparecem nos créditos finais, Jeffrey Manchester realmente era um cara legal, que tinha talento pra roubos e, por circunstâncias da vida, acabou fazendo disso a sua “carreira”. Em momento algum Jeffrey é retratado como um vilão, porque ele realmente não era. Depois de sair do exército, Jeffrey se vê casado, com três, incluindo gêmeos e um salário incapaz de oferecer tudo que acredita que a família precisa. Ele não é o mais forte ou o mais esperto, mas seu melhor amigo Steve (LaKeith Stanfield) ressalta que Jeffrey tem um poder absurdo para observação. A princípio, Jeffrey não faz nada com essa informação, mas quando sua filha pede uma bicicleta de aniversário e fica decepcionada por não ganhá-la, Jeffrey coloca suas habilidades para jogo e decide roubar um lugar cujo funcionamento ele já sabia de cor – e só por prestar atenção: o McDonald’s. Por ser uma franquia, todas as lojas funcionavam da mesma forma, o que facilitou seu trabalho e logo ele já estava roubando dezenas delas.
Como ele roubava os cofres e fugia pelo telhado, ficou conhecido pela imprensa como “Homem do Telhado”, mas essa não era sua característica mais marcante – seu modus operandi principal era a gentileza. Claro, ele trancava os funcionários no frigorífico enquanto pegava o dinheiro, mas antes se certificava de que todos estavam vestindo casacos e, caso não estivessem, emprestava seu próprio. Ele não machucava ninguém, só pegava o dinheiro e ia embora, dinheiro suficiente para oferecer uma vida confortável para as filhas, com bicicleta e tudo mais. No entanto, sua vida tranquila é interrompida quando é identificado pela polícia e acaba preso. Sem o apoio da esposa e afastado das crianças, Jeffrey vê o mundo de fora seguindo sem ele, mas em vez de se conformar com a nova realidade, traça um plano e consegue fugir. Seguindo os conselhos de Steve, ele vai para Michigan, onde deve ficar escondido por pelo menos um mês para, depois, conseguir uma nova identidade e fugir de vez.
É nessa nova cidade, e ignorando o conselho de Steve de se manter invisível e não engajar com ninguém da região que “O Bom Bandido” vira um romance – e um bom. Jeffrey começa se escondendo numa Toys R Us, uma das maiores redes de loja de brinquedos dos EUA, e sua engenhosidade para conseguir morar dentro de uma loja sem ser descoberto rende momentos tão engraçados quanto surpreendentes. O romance vem para complicar as coisas, já que ele se apaixona por uma das funcionárias da loja, Leigh (Kirsten Dunst), mãe divorciada com duas filhas e uma vida consumida pelo trabalho e obrigações como mãe, mas que passa a encontrar tempo para cuidar de si depois que entra num relacionamento com o misterioso, mas incrivelmente charmoso Dan. Com um nome falso e um emprego falso como “espião” do governo para justificar sua falta de respostas sobre si mesmo, é óbvio que uma hora ou outra as coisas vão dar errado, mas Jeffrey está apaixonado demais para se preocupar.
Parte do sucesso do filme se deve às atuações de Channing Tatum e de Kirsten Dunst e da inegável química entre eles. Channing Tatum encontra em Jeffrey a oportunidade perfeita para juntar seu porte físico de ator de ação com seu carisma jeito de bom moço, assim como Kirsten Dunst está perfeita como uma mulher cansada, mas resiliente e extremamente decidida. É interessante como, apesar de estar sendo enganada por Dan, Leigh nunca é retratada como uma pessoa ingênua ou fragilizada, colocando os dois no mesmo patamar no relacionamento. O romance é bem construído o bastante para que até os espectadores, como observadores externos que conhecem todos os segredos e crimes de Jeffrey, torçam pela felicidade do casal. Entre roubos, fugas e mentiras, “O Bom Bandido” ainda é uma comédia romântica adorável. É claro que precisamos relevar algumas coisas, como a forma como a “nova família” parece substituir a original e, é claro, a moral duvidosa de Jeffrey no que diz respeito a seguir a lei. Na ficção, é uma ótima história de amor, comunidade e gentileza, com grandes doses de bom-humor, mas que também pode arrancar uma lágrima ou outra.
Por Júlia Rezende