6.4/10

Se Não Fosse Você

Director

Josh Boone

Genre

Drama , Romance

Cast

Allison Williams, Mckenna Grace, Dave Franco

Writer

Susan McMartin

Company

Paramount

Runtime

117 minutos

Release date

23 de outubro de 2025

Um acidente devastador revela uma traição chocante. Morgan Grant e sua filha, Clara, exploram o que restou enquanto confrontam segredos de família, redefinem o amor e se redescobrem.

A escritora Colleen Hoover é um fenômeno curioso, seus livros, quase sempre centrados em romance, são bestsellers, sucessos absolutos entre a comunidade de leitores do TikTok, apesar de controversos e de não replicarem esse nível de sucesso com a crítica. Ano passado, um de seus maiores hits ganhou uma adaptação cinematográfica com grandes nomes, que acabou sendo totalmente ofuscado pelas polêmicas de bastidor envolvendo o casal protagonista, Blake Lively e Justin Baldoni. Independente do que aconteceu por trás das câmeras, “É Assim que Acaba” é um bom exemplo do porquê da literatura de Colleen Hoover funcionar com um público específico ao mesmo tempo em que é desastrosa em outros sentidos. Assim como em “É Assim que Acaba”, ” Se Não Fosse Você” tem um apelo enorme para adolescentes/jovens brancas que sonham com o príncipe encantado, e também insiste em tratar de assuntos sérios com uma superficialidade cheia de clichês.

Com um elenco quase completamente branco (é até estranho ver isso em 2025), “Se Não Fosse Você” traz dois núcleos familiares (relacionados entre si) de classe média alta, cujos únicos problemas são com seus relacionamentos. No passado, vemos um grupo de quatro jovens terminando o Ensino Médio, os dois homens são melhores amigos, as duas mulheres são irmãs. Os quatro, que são dois casais, parecem inseparáveis, mas há uma tensão óbvia no ar. No presente, a tensão se concretiza. Morgan (Allison Williams), que engravidou na época do colégio, agora é mãe de uma adolescente de 16 anos e está casada com Chris (Scott Eastwood), o mesmo namorado, que também é o pai da menina. Já a irmã, Jenny (Willa Fitzgerald), tem um bebê com Jonah (Dave Franco): apesar deles não terem ficado juntos todo esse tempo, porque Jonah sumiu pouco depois, eles se reencontraram e logo depois já tiveram o filho. Mesmo com as famílias estabilizadas, é nítido que há um sentimento maior do que amizade entre Morgan e Jonah. No entanto, a tensão romântica dá espaço para a tragédia, quando Jenny e Chris acabam mortos num acidente de carro – no carro de Jenny, que estava sendo dirigido por Chris, enquanto ambos deveriam estar em seus respectivos trabalhos. 

Se há alguma dúvida pós-acidente, de que os cunhados estavam tendo um caso, essa dúvida é sanada com evidências logo depois, e sobra para Joanah e Morgan lidarem com as consequências disso para si, suas famílias, seus filhos, principalmente para Morgan, uma vez que a filha tinha o pai como herói e a tia como melhor amiga e confidente, tudo isso enquanto tentam contornar o próprio sentimento que nutrem um pelo outro. É, obviamente, uma situação horrível e complicada, e tudo que acontece por conta disso é tão óbvio quanto. Não há surpresa nos acontecimentos e nem nos personagens. Morgan é uma mãe e dona de casa cujo único traço de personalidade é estar apaixonada e querer reformar a casa, que era da família do marido traidor e falecido. Já Jonah não tem nem ao menos o sonho da reforma, nele só existe o conflito amoroso. As atuações são funcionais e a química entre eles é ok, mas não há história ou autenticidade suficientes para que eles sejam um casal digno de torcida.

Por sorte, há outro casal (muito mais carismático) dividindo o protagonismo. Clara (Mckenna Grace, que desde pequena interpreta as versões infantis de grandes personagens, agora é basicamente uma adulta),a filha de Morgan, tem uma queda pelo descolado e independente Miller (Mason Thames), a quem oferece uma carona que dá início à sua história de amor, mas não a princípio, porque Miller estava comprometido. Seguindo a linha do clichê, os dois estão terminando a escola, ela quer fazer faculdade para ser atriz, ele quer fazer cinema e, coincidentemente, eles querem ir para a mesma Universidade, mas ele é pobre, órfão e ainda tem que ajudar a cuidar do avô, que deveria cuidar dele, o que faz com que seu caminho seja um pouco mais complicado. Clara não tem uma relação muito boa com a mãe,quem ela acusa de ser superprotetora, era o pai quem fazia suas vontades e isso só piora com a morte dele. É impressionante, inclusive, como ao mesmo tempo em que ela perdeu duas das pessoas mais importantes de sua vida, ela ainda consegue dedicar tanto tempo ao romance com um garoto complicado. 

Talvez uma premissa como essa pudesse render um filme mais interessante do que “Se Não Fosse Você”, mas aqui, o que acontece é uma sequência de todos os clichês de filmes de romance, um atrás do outro. Os dois casais passam por uma cena em que o homem fala pra mulher que ela está com alguma coisa no rosto e acaba a tocando de forma afetuosa. Clichês podem funcionar, mas quando eles são um meio e não um fim. É claro que os beijos e as declarações e as trocas de olhares podem trazer um quê de emoção vez ou outra e fisgar o público dos livros que vai ao cinema justamente para ver pessoas dentro do padrão superarem os obstáculos (se é que podemos chamar disso) se jogarem uns nos braços dos outros – literalmente, inclusive, mas esses momentos acontecem com tanta frequência que perdem a força. Não ajuda o fato de que todos os conflitos e motivações são igualmente genéricos, assim como os diálogos.

Sem nenhuma surpresa, o alívio cômico fica por conta dos únicos personagens não-brancos, os melhores amigos de Clara e Miller, que fazem o tipo desbocada sem-noção e nerd que não sabe socializar. Seria pior se Lexie (Sam Morelos), a melhor amiga, não funcionasse tão bem. Ela é uma personagem surpreendentemente engraçada, capaz de roubar todas as cenas, ainda que não tenha qualquer função além de “amiga engraçada”. “Se Não Fosse Você” é um filme que pode passar como um bom romance para qualquer fã do gênero (ou fã da Colleen Hoover) que não quer se esforçar para “procurar defeitos” ou ao menos fazer uma análise mais aprofundada. A produção é cuidadosa e bem feita, o elenco é estrelado e considerado atraente dentro dos padrões de Hollywood, mas se olhar bem, é difícil encará-lo como algo além de um grande clichê.

 

Por Júlia Rezende

6

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