Wicked: Parte II
Director
Jon M. Chu
Cast
Ariana Grande, Cynthia Erivo, Jonathan Bailey
Writer
Winnie Holzman e Dana Fox
Company
Universal Pictures
Runtime
138 minutos
Release date
20 de novembro de 2025
Qualquer fã de teatro musical sabe que os segundos atos são, categoricamente, mais densos (e mais tristes) que os primeiros, uma consequência natural da necessidade de se resolver questões que começaram a ser desenhadas durante o primeiro ato e, agora, devem chegar ao seu clímax. No teatro, no entanto, assistimos aos dois atos em seguida, com apenas 15 minutos de intervalo entre eles, e a percepção de unidade é mais fácil de se compreender. Com a decisão de dividir os atos em dois filmes, com um ano de diferença entre suas respectivas estreias, a Universal (e o elenco) teve que fazer um grande trabalho de marketing para manter o público engajado e conectado com a história enquanto aguardava o desfecho da história de Glinda e Elphaba, sabendo que a parte mais “ensolarada” da história já tinha ficado para trás. Acontece que o marketing funcionou e o hype permanece vivo, com o público pronto para dar à sequência toda atenção que Wicked merece.
Como a primeira parte seguiu o texto da peça teatral quase palavra por palavra, ficou a dúvida se as novidades na adaptação cinematográfica ficariam para a segunda parte – e ficaram. Duas novas músicas foram adicionadas, um solo para Glinda e um para Elphaba, e embora nenhuma seja tão boa quanto as canções originais, aprofundam o entendimento em relação às particularidades e complexidades das duas protagonistas. Inclusive, essa talvez tenha sido a mudança mais evidente de Jon M. Chu para a sequência: o aprofundamento das personagens e da trama como um todo, a começar pela questão dos Animais. Enquanto os Animais são um dos principais enredos da primeira parte, no segundo ato do musical no teatro eles são colocados em segundo (ou terceiro, quarto) plano, e o triângulo amoroso entre Elphaba, Glinda e Fiyero toma conta de todos os holofotes. Aqui, Jon M. Chu faz questão de elaborar e enfatizar os Animais e a política, deixando a propaganda e sua influência sobre toda Oz como um dos fios condutores do filme.
Dar mais atenção aos Animais, no entanto, não quer dizer que o triângulo amoroso foi deixado para trás – muito pelo contrário. Uma das novidades do filme são flashbacks da infância de Glinda, conferindo novas camadas à personagem que, durante toda a primeira parte, se mostrou extremamente superficial. Elphaba e Fiyero também alcançaram um novo, e mais sério, patamar em seu relacionamento, e é um prazer dizer que os três atores fizeram trabalhos excelentes com suas novas e aumentadas responsabilidades. Cynthia Erivo, que parecia ter mostrado todo seu talento durante Wicked: Parte I, prova que tem ainda mais para oferecer, tanto no que diz respeito à atuação quanto ao canto; ela é um dos maiores nomes de sua geração, nos palcos e nas telas. Jonathan Bailey segue consistente e consegue desenvolver bem o crescimento de seu personagem. O grande destaque, no entanto, é Ariana Grande. Enquanto seu talento para a comédia foi o que a fez brilhar na primeira parte, Glinda tem uma mudança de 180 graus em todos os âmbitos. Cabe à Ariana carregar a maior parte do arco emocional de Wicked: Parte II e ela o faz com uma naturalidade que nos pega de surpresa, isso sem contar com sua voz, que alcança níveis extraordinários, principalmente quando junto a de Cynthia Erivo.
Embora as novas camadas de profundidade do filme em relação à peça sejam necessárias até mesmo para justificar uma segunda parte com mais de 2 horas de duração, elas também evidenciam algumas falhas narrativas que, no teatro, podem passar despercebidas, principalmente no que diz respeito ao triângulo amoroso. Wicked é claramente um produto de seu tempo – a peça já existe há mais de 20 anos – quando consideramos que, em uma história que tem como ponto central a amizade de duas mulheres, o homem entre elas é capaz de fazer com que haja uma traição no nível da que acontece. A atuação comovente – e convincente – de Ariana Grande faz com que o destino de Glinda seja ainda mais desolador, e as atitudes de Elphaba e Fiyero ainda mais questionáveis.
Em relação à direção, Jon M. Chu consegue fazer algumas alterações necessárias não só na narrativa, mas também na estética. Depois de algumas críticas em relação ao visual de Wicked: Parte I, as cores foram corrigidas e Oz ficou mais viva. Ainda há alguns deslizes em relação aos efeitos visuais plastificados e enquadramentos que limitam uma visão mais ampla dos cenários, mas a direção de arte, assim como o figurino, ainda encantam. Jon M. Chu já havia provado sua habilidade para adaptar o teatro musical para o cinema (não só na primeira parte de Wicked, mas também com o filme Em Um Bairro em Nova York), em Wicked: Parte II ele demonstra também o seu respeito pela obra original mesmo quando ousa adicionar seu próprio toque. Apesar de todas as alterações – e adições – desse segundo ato, a essência do texto original segue presente em sua totalidade, para o bem ou para o mal.
Por Júlia Rezende