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Com seus 59 anos de idade, o autor Bruce W. Cameron dificilmente imaginaria que um de seus livros seria tão falado ao ser adaptado para o cinema. Infelizmente, o assunto estava longe de ser positivo. Quatro Vidas de um Cachorro (2017), seu primeiro livro a ser adaptado às telonas, sofreu boicotes depois de um vídeo vazado da produção mostrar um dos cachorros passando por situações de perigo durante as gravações. Por mais que na época houveram defesas em relação a cena, não havia o que fazer em relação ao público e o longa sofreu as duras consequências não sendo bem avaliado pela crítica e pouco assistido pelo público.

A Caminho de Casa, sua segunda adaptação, não passou pela mesma situação de abuso, no entanto, a narrativa é tão desimportante quanto a do filme anterior.

Ao lado de sua esposa, Cathryn Michon, Cameron é o responsável pela adaptação de sua obra, o que, teoricamente funciona bem. No entanto, Cameron só provou mais uma vez que seu profissionalismo e qualidade está mais como autor. O americano, mesmo com boas intenções em suas histórias, com jornadas emocionantes e sobre a forte conexão entre homem e animal, está longe de ser marcante e funciona apenas como um filme aleatório e passageiro.

A produção, pelo menos, conseguiu aprender com os erros passados. Enquanto Quatro Vidas de um Cachorro tentou realizar um trabalho “raíz” – chegando a colocar em risco a vida do cachorro – A Caminho de Casa não se arriscou e se manteve no seguro, trabalhando com efeitos visuais ao invés de filhotes reais.

Em partes, é positivo para não explorar o animal e muito menos colocar ele em risco, mas o longa acaba perdendo sua força principal: a proximidade. Não foi um erro se utilizar da tecnologia, porém, faltou qualidade em seu uso. O resultado acaba sendo um nítido cachorro falso em meio a uma ambientação real e brincando com outros animais claramente falsos em tela. Por mais que haja a boa intenção, é difícil o espectador se conectar com o cachorro e com sua jornada, principalmente pelas mudanças nada naturais entre os momentos do real para o CGI.

O que atrapalha também, da mesma maneira que atrapalha no longa de 2017, é a narração. Apesar da bela participação de Bryce Dallas Howard como a cachorrinha Bella, a técnica também atrapalha muito na proximidade. O filme não deixa o espectador em nenhum momento tentar se conectar com a cachorrinha ou tentar apreciar sua jornada através de suas expressões e sentimentos, porque tudo acaba sendo explicado pela narração. Isso enfraquece narrativamente toda a dificuldade da aventura e todos os conflitos que Bella precisa enfrentar durante o tempo perdida.

Do mesmo modo que Lasse Hallstrom consegue realizar uma boa direção em Quatro Vidas de um Cachorro, Charles Martin Smith também tira muito da vira lata, captando reações únicas, mas que, como dito anteriormente, são constantemente atrapalhadas pela voz de Bryce, não dando a oportunidade de Smith trabalhar de forma profissional com o animal, tornando tudo muito expositivo.

Não só isso, a história também não ajuda. Longe da jornada de Bella não ser significativa, o que realmente incomoda é a construção. É nítida a dificuldade de Cameron ao tentar construir um roteiro de menos de duas horas com tanto material bruto em mãos. O resultado acaba sendo uma trama desenvolvida de maneira fraca e até pobre, principalmente no próprio cerne da trama. Na história, o dono de Bella a treina para voltar pra casa, não importa onde ela esteja – aliás, toda a trama gira em torno disso – mas o próprio treinamento é feito apenas uma vez, não dando a oportunidade de passar credibilidade de que realmente Bella captou a ação.

A história também acaba falhando na passagem de tempo. Por mais que os diálogos dos personagens mostrem a duração da jornada de Bella, não há uma sensação equilibrada, dando a impressão de o que aconteceu em anos, na verdade, aconteceu em dias.

No entanto, Cameron consegue ser feliz em alguns pontos, principalmente nas discussões coadjuvantes. Além de discutir sobre amizade e a necessidade de alguém para conseguir atingir seu objetivo, Cameron inclui críticas a sistemas capitalistas que priorizam o lucro antes de vidas e, indiretamente, sobre adoção. Em um determinado momento da trama, um casal gay, interpretado por Barry Watson e Motell Gyn Foster, cuida com mais amor do cachorro de outro dono, que é totalmente sozinho e arrogante.

Com leveza, o roteiro cria uma situação muito atual e com um olhar crítico sobre a ignorância, além de mostrar como o que vale é o amor dado, não importando se o casal é formado por dois homens ou duas mulheres. Ao mesmo tempo, o casal é interracial, trazendo uma outra discussão e análise crítica sobre como o amor não enxerga sexualidade ou cor. Representação também muito bem realizada no casal formado por Jonah Hauer-King e Alexandra Shipp – apesar dos dois não entregarem uma boa atuação.

Mesmo com todas as críticas apresentadas, A Caminho de Casa – apesar da narrativa fraca – consegue atingir o seu propósito de emocionar e contar uma história linda de uma jornada emocionante, ainda mais quando ela é realizada por uma fofa cachorrinha. No fim, o filme traz todo o espírito de Sessão da Tarde, inclusive o de ser algo passageiro na sua semana, podendo ser facilmente consumido enquanto faz outras atividades mais importantes.

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