Há constantes momentos de reflexão sobre o motivo da existência do ser humano e sobre sua função durante a vida. Ainda que a resposta esteja cada vez mais distante da clareza, já é possível perceber a função de outros seres vivos. Mais do que simples animais de estimação, cachorros se provaram presentes em vida para transmitirem amor e serem retribuídos por isso. A simplicidade exigida pelo animal demonstra o carinho e a necessidade de uma paixão, que, aos poucos, mostra-se incondicional. E o cinema foi (e ainda é) um lugar que adora retratar essa demonstração.

Apesar da sétima arte ser bastante cíclica, trabalhar com cachorros nunca se provou algo enjoativo – pelo menos, não por enquanto. Com dezenas de produções, principalmente durante os anos 80 e 90, que renderam clássicos como K-9 – Um Policial Bom Pra Cachorro (1989), Uma Dupla Quase Perfeita (1989) e Bud – O Cão Amigo (1997), o retorno de uma sequência constante de produções caninas se deve ao escritor W. Bruce Cameron.

Apesar de, na prática, o autor ter uma função menos chamativa como roteirista, há uma insistência em jogar os holofotes para o texto em conjunto com Maya Forbes, Cathryn Michon e Wallace Wolodarsky. Seguindo os mesmos passos de Quatro Vidas de um Cachorro (2017) e A Caminho de Casa (2019), o roteiro acompanha também os erros. O principal está em não deixar o espectador ter controle consciente ou deixá-lo simplesmente interpretar as reações caninas. Muito disso se deve, então, à presença exagerada de um texto desnecessário para o retrato dos pensamentos dos personagens de quatro patas.

Ainda que haja um uso interessante de humor e até de dinamismo, sua utilização, depois de dois filmes, ainda não se justifica, já que a presença de Josh Gad como narrador se prova uma pura exposição. Não há uma liberdade para dar a interpretação aos animais, deixando-os escravos de um texto para criar sentido nas reações.

O que é decepcionante do ponto de vista que Gail Mancuso faz um belo trabalho de direção nesse quesito, conseguindo extrair as expressões dos cães, mesmo que limitadas. Mancuso segue também a mesma linha do texto e repete a estrutura estabelecida por Lasse Hallstrom no primeiro longa, inclusive na manipulação emocional. Ainda que os seres humanos não saibam sua verdadeira função em vida, Mancuso tinha uma bem estabelecida aqui: a de fazer todos os espectadores se esbanjarem em lágrimas. E essa ele cumpre com louvor. Mas não por estabelecer uma narrativa emocionante ou pelo carisma dos personagens – até porque a constante presença de Gad provoca sentimentos contrários – mas sim pela insistência e forçação de técnicas cinematográficas bregas para criar momentos dramáticos.

O uso vai desde uma trilha sonora fúnebre até planos detalhe no olhar triste dos filhotes. É nesse ponto que se torna perceptível a atenção sendo voltada mais para o que se vê ao invés da história em si, tornando-se mais perceptível ainda a tentativa de forçar Juntos Para Sempre como algo marcante.

O que é um pensamento válido ao lembrar do boicote causado na época de Quatro Vidas de um Cachorro pelo polêmico vídeo de maus tratos durante as gravações. Tanto que a própria venda da sequência – e até mesmo o roteiro – foca em desviar do detalhe. Inclusive, Juntos Para Sempre funciona muito bem sozinho, aproveitando-se apenas de pequenas referências do primeiro longa, mas sem se apoiar muito em sua história passada.

Por sua vez, o longa é recheado de repetições visuais e até narrativos, como a primeira volta de Bailey ser em um corpo de uma fêmea – e fazer a mesma “piada” – e seu terceiro dono ser uma pessoa negra, sem qualquer significância na história. Ainda assim, o roteiro consegue estabelecer pontos positivos, mesmo que mínimos. No roteiro, o quarteto encaixa boas brincadeiras do “universo canino”, como o entendimento do animal por palavras como “passeio” e “comida”, mas não o conceito da frase ou até mesmo na relação com os outros animais. No entanto, está longe de sustentar os momentos bregas e genéricos que o longa apresenta.

Neste quesito, não há nem muito o que se tratar do elenco humano, já que todos são mal trabalhados textualmente e não se sustentam em suas interpretações. Resultado de um roteiro que se preocupa em estabelecer dramas constantemente, característica que, ao misturada com a direção, torna-se uma bagunça narrativa, não dando uma liberdade de escolha ao espectador para aquilo ao qual ele deseja se emocionar.

Mesmo funcionando isoladamente, Juntos Para Sempre emociona, mas da maneira errada. Ao não deixar a emocionante relação entre Bailey e Ethan (Dennis Quaid) funcionar sozinha, a obra assume uma perigosa responsabilidade que resulta em algo genérico e brega, mesmo que derrube dramáticas lágrimas dos espectadores.

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