EDUARDO E MÔNICA | UM FILME À ALTURA DO CLÁSSICO DE RENATO RUSSO

Se você nasceu no Brasil até os anos 2000, você muito provavelmente não consegue pensar no nome “Eduardo” sem pensar em “Mônica” logo depois. Em meados dos anos 80, a Legião Urbana lançou a música sobre a história de um casal que tinha em comum suas diferenças, música essa que se tornou um clássico da MPB e, por contar uma história tão completa e detalhada, criou no imaginário popular esses dois personagens que mais parecem pessoas reais.

Há muito tempo se fala de uma versão cinematográfica de Eduardo e Mônica, principalmente depois da adaptação de “Faroeste Caboclo”, também da Legião Urbana e agora, depois de anos desde o começo de sua produção e mais alguns adiamentos por conta da pandemia, “Eduardo e Mônica” enfim chega aos cinemas. E a espera foi mais do que compensada com um filme que soube aproveitar e respeitar a história pré-existente e manter o ar de novidade ao mesmo tempo.

O essencial do enredo todo mundo já conhece: Eduardo tem 16 anos e ainda está na escola, Mônica é uma mulher mais velha e independente, estudante de medicina e amante das artes. Cada um já traz na mente uma imagem formada dos dois, mas os escolhidos para darem vida ao casal foram os atores Gabriel Leone e Alice Braga, e esse é o primeiro acerto do filme. Além dos dois terem química como casal, Gabriel, apesar de já ter passado dos 20 poucos anos na época da filmagem, convence como o adolescente ingênuo e de bom coração, que mora com o avô com quem gosta de jogar futebol de botão e é fã de novela (exatamente como na música) e Alice Braga comprova seu talento já reconhecido internacionalmente ao viver a politizada, culta e livre Mônica, artista e estudante de medicina, como na música também.

Adaptar uma música em um filme é quase tão difícil quanto adaptar um livro, ou talvez mais, considerando que há mais espaços em branco para preencher as duas horas de um longa e, portanto, mais chances de cometer erros, mas em Eduardo e Mônica o diretor René Sampaio, juntamente com o time de roteiristas Jessica Candal, Michele Frantz, Claudia Souto, Matheus Souza e Gabriel Bortolini, conseguiu criar uma trama além do conhecido e sem recorrer às obviedades. Em momento algum os versos da música são recitados no filme, mas sua essência está presente em todas as cenas e até mesmo nos personagens criados especificamente para a telona. Mônica tem uma mãe e uma irmã que nos ajudam a entender um pouco mais sobre suas origens e dá ao personagem mais profundidade, já o amigo do cursinho do Eduardo (aquele que o chamou para uma festa estranha com gente esquisita) ganhou mais espaço também, além de seu avô, ambos trazendo à tona questões atuais, apesar da história se passar no final dos anos 80 (assim como a música), num paralelo interessante com situações que vivemos hoje, incluindo política.

Engraçado nas horas certas, dramático quando tem que ser, mas, sobretudo, Eduardo e Mônica é um filme sensível o tempo todo, um romance pautado nas diferenças, nas imperfeições e nos desencontros da vida. Pra quem é fã das letras do Renato Russo, o filme ganha outras proporções e garante momentos ainda mais emocionantes, mas certamente é um ótimo filme para todos os públicos.

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