“Escape Room” tenta algo diferente, mas não escapa de erros clichês do terror

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Uma sala, um grupo de pessoas e um objetivo em comum: sair dela. O conceito do escape room como jogo social é algo o suficiente para se analisar comportamento humano, inteligência e raciocínio em meio a pressão. E claro que o gênero terror não deixaria um estudo tão interessante deixar ser desperdiçado. Do mesmo modo que longas como Jogos Mortais (2004) já exploraram esse conceito – mas com suas características próprias – Escape Room também apresenta conceitos originais.

No entanto, o filme insiste em se aproveitar mais dos conceitos de outras obras cinematográficas de terror, incluindo as péssimas conclusões.

Não era de se esperar muito de Bragi Schut também. O roteirista esteve envolvido nos fraquíssimos projetos Threshold (2005-2006) e Caça às Bruxas (2011), e, infelizmente o resultado de Escape Room não é diferente. Digo infelizmente pelo fato de Schut ter construído um primeiro ato muito bem estabelecido e justificável. A apresentação dos personagens e a construção para a união de todos eles se revelaram formidáveis, fazendo com que o público acreditasse naquele desenvolvimento, até por serem pessoas com ideologias e realidades diferentes dentro de um confinamento, vício que realitys como Big Brother provaram funcionar.

Nisso, pelo texto colocar o público no lugar dos personagens, desejamos a busca deles pelo prêmio final. E com esse plot, Schut entrega as melhores coisas do filme.

Durante o caminhar entre as salas de desafios, algo como 3% (2016 – ) apresenta nos primeiros episódios, o texto vai aos poucos revelando o verdadeiro lado dos personagens em meio a complexos desafios que exigem a interação, mas também a inteligência individual. E nisso, Schut explora de forma muito bem feita a tensão, criando desafios indiretos, mas que influenciam no todo. Esses pontos dão um certo ânimo no público com o desejo de querer mais daquilo. O conflito entre os integrantes somado com o nervosismo de resolverem um complexo desafio dentro de um curto espaço de tempo faz o espectador embarcar no universo. A direção de Adam Robitel também ajuda bastante. Apesar de takes simples, ele apresenta bem todo o cenário e cada canto das salas.

Outro mérito está no conflito entre os integrantes. Robitel explora essa característica de maneira correta, passando uma sensação de realismo para aquele tratamento entre os personagens. O brilhantismo de Schut vai aos poucos aparecendo cada vez mais, principalmente na construção dele e de Robitel no design de todas as salas, feitas com base nas características passadas dos personagens. E somos revelados ao passado deles de maneira corriqueira e misteriosa, pelos detalhes em cada um dos quartos.

Poderia ter ficado só nessas qualidades, porém, tanto o roteiro quanto a direção insistem em trazer pequenos pontos negativos durante os atos iniciais. Durante o desenvolvimento das provas e dos desafios, há uma insistência em jogar flashbacks que quebram um pouco do ritmo, ainda mais pelo visual com um CGI de baixa qualidade em alguns deles. Por mais que a presença deles dão um acréscimo para o avanço da narrativa e para tudo ter algum sentido, não foram bem encaixados e mal dirigidos, além do fato de nem todos os personagens ganharem seus próprios flashbacks.

Apesar dos pequenos quesitos negativos, Escape Room consegue ser angustiante, tenso, interessante e até bem escrito por grande parte do tempo. Mas o passo dado por Schut e Robitel foi bem maior que a perna. Até a então grande virada do longa, o texto trazia análises simples, mas ainda assim interessantes sobre a ganância humana e individualismo, porém, a mudança de tom provoca decepção com a história. Robitel estava controlando bem sua narrativa e o primeiro “final” concluiria o longa de forma honesta e até justa. Mas na clara tentativa de aumentar a história para uma futura franquia desvirtuou tudo o que a história havia apresentado, criando um exagero para com o universo e criando um todo maior que não foi nem um pouco introduzido anteriormente.

Os pontos até então positivos que o terror adolescente trouxe foram jogados fora de uma maneira humilhante. Por mais que não seja certo esquecer do todo devido apenas o final, nesse caso é quase impossível. Todo o antes apresentado é descartado de maneira desnecessária e Robitel não compreendeu que neste caso menos era mais. A proximidade com Jogos Mortais é ainda mais forte na resolução, principalmente ao descobrirmos o verdadeiro significado de todos terem sido selecionados – mas claro, com um final bem melhor no filme de James Wan.

Como dito, há um sentido por trás desses pontos e são bem colocados, mas desperdiçados com uma tentativa de crescer uma obra que ainda estava nascendo.

Além da conclusão, Robitel, junto com o montador Steve Mirkovich pecam em decidir iniciar o longa com uma cena do meio da história – estratégia que outros filmes do gênero também já adotaram. A cena em si não só funciona como uma espécie de spoiler, como também é muito mal encaixada, por não ser coesa com o desenvolvimento da narrativa. Por mais que seja uma empolgante maneira de começar e chamar a atenção do público, o acontecimento mostrado não encaixa com o que veio a ser mostrado anteriormente, dando ao personagem em questão, um tom que não o acompanhou durante todo o tempo, o que novamente enfraquece ainda mais a obra perto da sua conclusão.

Escape Room, por incrível que pareça começou como uma surpresa, passando a sensação de o que estava sendo exibido era bom. Entretanto, provou-se um longa medíocre que não teve coragem em se manter no simples para ficar próximo das obras nas quais se inspirou, como o já citado Jogos Mortais, mas como também Premonição (2000). No fim, o longa escapou de sua própria proposta e deixa o público como se tivessem falhado em uma sala do escape: cabisbaixos, decepcionados e bravos.

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