Num espaço de tempo extremamente curto, fomos bombardeados com nada menos do que OITO longas metragens protagonizados pelo Homem-Aranha. A galinha aranha dos ovos de ouro da Sony Pictures sempre deu bons resultados nas bilheterias, mas nunca trouxe tanto conteúdo BOM para as telonas. Nos últimos dois anos fomos presenteados com “Homem-Aranha: De Volta ao Lar” e “Homem-Aranha no Aranhaverso”, dois filmes que foram o ápice do herói nos cinemas de tal forma que não se podia imaginar que o estúdio acertaria em cheio novamente em um período tão curto. “Homem-Aranha: Longe de Casa” tem tudo o que se espera de um filme de herói e ainda consegue entregar um humor de qualidade, uma ação de tirar o fôlego, e principalmente uma trama coesa e coerente, algo que, hoje, falta e muito no cinema.

Há quem diga que o mérito do sucesso recente do teioso é devido ao acordo realizado entre a Disney e a Sony para que o personagem possa fazer parte de um universo compartilhado de heróis. Entretanto, este é fato é uma simples cereja no topo de um bolo feito pelas mais habilidosas mãos, com os melhores ingredientes disponíveis no mercado. Pode-se dizer que o que faz este filme ser o melhor filme já feito do personagem são as mãos do diretor Jon Watts e dos roteiristas Chris McKenna e Erik Sommers, trabalhando com maestria as atuações de Tom Holland, Jacob Batalon, Zendaya e Jake Gyllenhaal, quarteto que sem dúvida é o cerne do longa.

Watts escolhe continuar na premissa que apresentou em “Homem-Aranha: De Volta ao Lar”, trazendo um Peter Parker para a “realidade”, depois de tantos problemas em brigas de cachorro grande (Capitão América: Guerra Civil; Vingadores: Guerra Infinita; e Vingadores: Ultimato). O diretor aposta na nossa submersão no ambiente escolar (mesmo que longe do colégio), e consegue trazer o sentimento de nostalgia mesmo para aqueles que saíram do colégio há muito tempo, isso porque ele valoriza as relações entre os personagens, e os problemas do mundo sob a perspectiva adolescente. É impossível não se reconhecer na pele de Peter Parker, quando o personagem faz um plano mirabolante somente para dizer que “está afim” da personagem MJ. O que diferencia essas passagens de tantas outras são os ângulos escolhidos por Watts e o tempo de cena que ele dedica para essas “bobagens” que para um adolescente podem ser questões de vida ou morte.

E esses momentos tão bem orquestrados por Watts se conectam em uma história muito bem escrita para o personagem, que se conecta com todos aqueles outros 22 filmes e ao mesmo tempo traz muitas particularidades que nos fazem pensar “Este não é um filme da Marvel/Disney, é um filme da SONY!” (e isso é maravilhoso). McKenna e Sommers são conhecidos por filmes como “Lego: Batman” e “Jumanji: Bem-Vindo à Selva”, além do próprio “Homem-Aranha: De Volta ao Lar”, e assim o equilíbrio comédia-ação-drama está garantido. O drama se dá pelo desfecho do último filme da franquia “Vingadores”, e a dupla de roteiristas pincela na medida certa o peso da morte de Tony Stark no filme, de forma que o trágico acontecimento se torna o responsável pela evolução e emancipação do herói vivido por Tom Holland. Uma cena em especial, ao som de Back in Black do AC/DC, pode fazer com que algumas lágrimas escorram nos rostos dos fãs, que agora sem dúvida podem dizer: nós temos um novo Robert Downey Jr., e ele é o Tom Holland.

Não existem dúvidas dos talentos do jovem ator, que já brilhou em outras oportunidades no cinema (“O Impossível” talvez seja o melhor exemplo), mas não é exagero dizer que o menino nasceu para ser o Homem-Aranha, exatamente do mesmo modo que o RDJ nasceu para ser o Homem-Ferro. O senso de responsabilidade que o ator transparece em cena pode ser um soco no estômago para aqueles que esperam a superficialidade neste “tipo de filme”. É gratificante ver como Tom está conectado com Peter Parker, e consegue estabelecer tão bem as conexões do personagem. Jacob Batalon e Zendaya também surpreendem, e muito, pelo conforto com os personagens e dão um novo ar para as amizades do teioso, de um jeito que não tínhamos visto ainda nos cinemas. Jake Gyllenhaal também impressiona por uma vilania pouco comum, com motivações justificadas, mas que beiram a loucura e numa esfera extrapolada poderia ter seu personagem comparado a uma versão menos extravagante do Coringa (clássico vilão do Batman).

As locações do filme são uma atração a mais. Arrisca-se dizer que as sequências em Veneza e em Londres talvez sejam umas das melhores cenas de ação em filmes de super-heróis, com uma contextualização absurda e uma valorização enorme das belas paisagens europeias.

“Homem-Aranha: Longe de Casa” é um marco do herói do cinema e o firma como uma propriedade da Sony Pictures que deve ser explorada e muito no cinema, pois material não falta e capacidade da equipe também não. Assim como seu predecessor, o filme acaba com um gancho para a continuação e deixa um gostinho de quero mais como nenhum outro filme de herói conseguiu. Sem dúvida é a melhor opção para ir assistir na estreia, no fim de semana, nas férias e em todas as oportunidades que aparecerem.

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