“Jogos Mortais” está de volta, e com ele, o icônico vilão Jigsaw

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Se James Wan é o maior nome do cinema de terror ocidental atualmente, sem sombra de dúvidas ele deve muito à franquia “Jogos Mortais”, que criou em 2003 com um curta-metragem e desde o lançamento do primeiro filme no ano seguinte alcançou sucesso absoluto entre os fãs do cinema de horror. Mesclando terror com mistério e (especialmente nos filmes seguintes) pegando carona em movimentos como a crescente “New French Extremity” – obras com uma linguagem visual explícita e de extrema violência -, o primeiro filme se tornou um dos mais rentáveis da história, custando $ 1,2 milhões de dólares e arrecadando quase $ 104 milhões ao redor do mundo.

Desde o lançamento do primeiro filme, todos os anos a Lionsgate lançava um novo capítulo para a franquia, até “Jogos Mortais: O Final” que seria o último capítulo, lançado em 2010. Por isso, muita gente se espantou quando o estúdio anunciou o oitavo filme 7 anos depois. “Jogos Mortais: Jigsaw” é dirigido pelos irmãos Michael e Peter Spierig, responsáveis pelo ótimo mindfuck “Predestinado”, lançado em 2014. Esta será a primeira experiência da dupla dirigindo um roteiro que não foi escrito por eles mesmos.

A verdade os libertará

Nesta nova trama, cadáveres mutilados com a marca de Jigsaw (Tobin Bell) – a mente perversa por trás dos jogos de tortura, que muitos acreditavam ter morrido há dez anos – começam a surgir em sequência, colocando o detetive Halloran (Callum Keith Rennie) em um dilema: será possível que Jigsaw está de volta ou isso é trabalho de algum dos seus vários admiradores pervertidos? Assim, ele une forças com uma dupla de médicos e seu parceiro detetive para desvendar esse perigoso quebra-cabeça.

Muitas pessoas enxergam “Jogos Mortais” apenas como um clássico representante da chamada “pornografia da dor”, ou seja, uma exibição sem fim de crueldades e massacres com o propósito apenas de “divertir” aqueles espectadores que gostam de experimentar sensações fortes e chocantes estando do lado seguro da telona. Confesso que com o passar do tempo a franquia perdeu bastante do seu senso crítico (especialmente do quarto ao sétimo filmes), mas essa não foi a ideia original criada por James Wan.

Em “Jogos Mortais: Jigsaw”, por exemplo, uma frase chama a atenção: “confessem [seus pecados] e a verdade os libertará”. Os jogos elaborados pelo vilão são uma espécie de punição aos pecadores. Através do sacrifício e encarando de frente as mentiras que contaram no passado, as vítimas devem aprender com a experiência e, quem sabe, sair com uma vida renovada ao final. Esse é um ponto que sempre me questiono quando assisto a um filme da franquia. Ciente de que pessoas boas também fazem coisas ruins, será que a punição está de acordo com os crimes cometidos? Tentarei explorar essa questão mais ao final do texto.

História simples e poucos riscos

Mesmo sendo uma franquia onde há várias reviravoltas e surpresas, desta vez os roteiristas não se preocuparam em criar uma trama muito complexa. A história se passa basicamente em dois núcleos diferentes, a investigação em busca do assassino e uma espécie de escape room (que estão super em alta), que é o galpão onde o vilão vai torturando suas vítimas pecadoras. Para dar uma temperada, há aquela tradicional dúvida de um possível traidor interno. Mas, o longa não se arrisca e acaba sofrendo com algumas decisões de roteiro convenientes e improváveis, o deixando aquém dos primeiros filmes mais inventivos, porém, bem superior aos cansativos últimos filmes da franquia.

Sendo assim, por que ele funciona?

Funciona porque é autoconsciente das suas limitações, ou seja, consegue trabalhar em cima das ferramentas que tem e dos elementos estabelecidos no seu universo, que nós espectadores já conhecemos. Há uma boa pitada de humor sarcástico que todo fã de filme “b” aprecia, além de bastante gore (é claro) e easter eggs. A estética está mais clean do que as anteriores, provavelmente com o dedo dos novos diretores, que gostam de usar melhor o espaço em cena, tornando a ação mais nítida para o público. Na medida do possível, as mortes são inventivas e a tensão é moderada, mas não inexistente, o que já se torna um ponto positivo.

Desta forma, por mais que não traga nada de novo substancialmente para a franquia, “Jogos Mortais: Jigsaw” é uma continuação bem decente, que deve agradar aos fãs em geral. Como prometido, neste último parágrafo tentarei explorar as motivações que movem John Kramer, o icônico vilão Jigsaw.

 

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Entendendo John Kramer

Kramer tinha uma esposa grávida, que perdeu o bebê ao ser agredida por um fugitivo da clínica onde trabalhava, e essa perda o mergulhou em uma profunda depressão. Em seguida, descobriu que tinha um tumor no cérebro. Seu relacionamento não resistiu e ele acabou tentando tirar a própria vida forçando um acidente de carro. Apesar de graves lesões, Kramer milagrosamente sobreviveu e naquele momento “redescobriu” seu propósito na vida. Aquele foi o seu gatilho, punir aqueles que não dão valor a própria vida ou “brincam” com a vida dos outros e saem impunes.

Simplificando um pouco a obra do filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard, ele também acreditava que o sofrimento faz parte do crescimento pessoal. Para ele, sofrer força as pessoas a assumirem responsabilidade por seus atos. Assim como Kramer, Kierkegaard sofreu muito durante sua curta vida (morreu aos 42 anos). Cinco de seus seis irmãos faleceram antes dos 33 anos e a depressão tomou conta de sua família. Posteriormente, sua mãe e seu pai também morreriam. Para completar, a melancolia o fez quebrar o noivado com o amor da sua vida, fato do qual nunca se recuperou.

Uma de suas teorias ensinava que o ser humano passaria por três estágios até se tornar o que vou chamar – numa tradução livre – de “eu verdadeiro”: o estético, o ético e o religioso. Primeiro, a vida estética é definida pelos prazeres individuais, e quem está neste estágio procura maximizar esses prazeres a qualquer custo. Trazendo de volta para o filme, a maioria das vítimas de Jigsaw cometeu erros egoístas. Uma delas vendeu uma moto sem freio, resultando na morte do comprador; já outra roubou uma bolsa com apenas uns trocados e não teve coragem de ajudar a vítima – que sofria de asma – agonizando na calçada até a morte.

Já na vida ética, a pessoa consegue sobreviver sob um conjunto de regras pelo bem da sociedade. A pessoa ética considera o efeito que suas ações terão sobre os outros e dará mais peso ao bem-estar social do que ao ganho pessoal. A mudança do estágio estético para o ético é exatamente o que Jigsaw procura causar nas suas vítimas, através dos seus jogos de tortura. Segundo o próprio Kierkegaard essa mudança de fato deveria vir pela dor, “tirando o sofredor da frigideira e o atirando diretamente no fogo”. Segundo ele, a dor obriga o ser humano a refletir sobre sua situação e escolher mudar pelo seu próprio bem.

Por fim, o filósofo dinamarquês considerava a vida religiosa como o plano mais alto da existência, apesar de saber que é praticamente impossível levar uma vida autenticamente religiosa cercado por pessoas que são falsamente religiosas. Mas, quem conseguisse, finalmente encontraria seu “eu verdadeiro”. Resumindo, na vida estética, a pessoa é motivada pelo desejo. Na vida ética, pelas regras da sociedade. E na vida religiosa, pela fé incondicional em Deus. E como Jigsaw enxerga esse último estágio?

Na sua mente perturbada, seus jogos são oportunidades para as vítimas confrontarem e se arrependerem dos seus pecados, para saírem daquela experiência como seres humanos melhores. Muitas vezes em seus jogos de tortura, ele faz com que as vítimas escolham entre salvar a si mesmas ou até ajudar umas às outras, dependendo do contexto, dando uma sensação de “livre arbítrio”. Em outras palavras, Jigsaw se enxerga como a própria figura “divina”, acredita no “renascimento” após o sacrifício – algo semelhante ao que ele mesmo passou ao sobreviver ao acidente de carro (encontrando seu “eu verdadeiro”).

A legião de seguidores e admiradores que o próprio filme menciona, através do site feito em sua homenagem, ou o personagem que coleciona “souvenires” das suas torturas, reforçam essa posição. No entanto, Jigsaw é um vilão e não um anti-herói, e o resultado dos seus jogos não funcionam de maneira eficiente. Muitas das suas vítimas morrem cedendo à pressão dos desafios, onde as chances de sucesso são bem desproporcionais às de fracasso, e outras que escapam ficam traumatizadas e mutiladas para o resto da vida. Ao contrário de uma figura divina, ele está mais para uma figura maligna. De qualquer forma, é um dos vilões mais icônicos do cinema de terror deste século.

Bibliografia: http://www.sparknotes.com/philosophy/kierkegaard/themes.html

Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=NnXRQ_j_xB4

E você, já assistiu ou está ansioso para ver? Concorda ou discorda da análise? Deixe seu comentário ou crítica (educadamente) e até a próxima!

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