PANTERA NEGRA: WAKANDA PARA SEMPRE | LUTO, AÇÃO E PERSONAGENS MARCANTES FAZEM UMA PODEROSA HOMENAGEM AO LEGADO DO PANTERA NEGRA

Fazer uma história de origem é complicado, e fica mais complicado ainda quando se tem que manter um padrão já existente para se encaixar num universo específico já existente. Todavia, Pantera Negra, lançado em pela Marvel em 2018, conseguiu com muito êxito apresentar um novo personagem ao universo cinematográfico da Marvel com naturalidade e, acima de tudo, originalidade. O grande trunfo de Pantera Negra era seu herói humano, correto e que só perdia em carisma para o seu próprio intérprete: o saudoso Chadwick Boseman, que nos deixou precocemente em 2020 por conta de um câncer. Desde então, além de muitas saudades, ficaram também as dúvidas a respeito do futuro de seu personagem e de todo a história que cerca a nação de Wakanda.

Seriam o povo de Wakanda, sua cultura e sua história, tão bem apresentados e representados por T’Challa no primeiro filme, suficientes para levar esse legado adiante mesmo com a ausência de Chadwick? Para felicidade geral, a resposta é que sim. Ryan Coogler, responsável também pelo filme de 2018, encarou de frente o desafio de contar uma nova história de origem com personagens já conhecidos e ainda prestar uma bela homenagem à memória de Boseman, incorporando o luto como elemento central da narrativa, mas sem fazer parecer um dispositivo de exploração comercial. A morte de T’Challa e suas consequências para Wakanda como povo e como nação são abordadas desde os momentos iniciais do filme, sua mãe Ramonda (Angela Bassett em seu padrão usual de atuação de altíssima qualidade) assume o trono e se torna a nova rainha de Wakanda, nação que continua protegida pelo exército feminino comandado por Okoye (Danai Gurira), mas que continua cada vez mais visado por nações estrangeiras interessadas no Vibranium.

Enquanto isso, Shuri (Letitia Wright) sofre mais diretamente com o falecimento do irmão, seu desprendimento em relação aos costumes e tradições de seus ancestrais, principalmente no que se refere ao luto e aceitação da morte como parte da vida, a deixam com questões mais difíceis de lidar e ela luta por um tempo para encontrar seu lugar no meio de tudo isso. O estado emocional de Shuri é um dos principais pontos dessa nova narrativa, a personagem que em suas aparições anteriores serviu mais o papel de alívio cômico agora carrega a grande responsabilidade de se tornar protagonista. Para tanto, Pantera Negra: Wakanda Para Sempre funciona como sua própria história de origem e dois novos personagens ajudam no seu desenvolvimento: Namor (Tenoch Huerta) e Riri Williams (Dominique Thorne), apesar de só um deles ser realmente relevante para o enredo do filme.

Namor é o mais novo antagonista, apesar de ter valores muito semelhantes à do povo de Wakanda. Ele é o soberano de seu povo subaquático que também tem acesso ao Vibranium e também pretende preservá-lo, a diferença é que ele tem bem menos escrúpulos e é daí que surgem os conflitos. Namor é um vilão, ou talvez “anti-herói” seja uma definição melhor, muito interessante por sua tridimensionalidade, suas motivações são legítimas e as questões que ele levanta e representa trazem em si uma dualidade que eleva a narrativa. As cenas mais eletrizantes e impactantes não são as de combate (ainda que essas sejam boas também), mas sim as dos diálogos entre Shuri e Namor e as possibilidades que a dor nos apresenta.

Pantera Negra: Wakanda Para Sempre é tão bom quanto o filme de 2018, o que já quer dizer muita coisa, mas isso aconteceu por Coogler conhecer tão bem o potencial do mundo que desenvolveu para o cinema. Além de Shuri, todo o corpo de personagens secundários foi elevado a um novo patamar para suprir a ausência de T’Challa e fez isso muito bem, sempre respeitando o espaço que jamais será substituído. Inclusive, poderia ter apostado ainda mais nesses personagens naturais de Wakanda, já que foi nas tentativas de inovação que o filme encontrou seus maiores obstáculos, como na adição de Riri, que veio fazer sua estreia no UCM e dar um gostinho do que esperar para sua série solo no Disney+, e na presença de Ross (Martin Freeman) e Valentina (Julia Louis-Dreyfus), ainda que os dois tenham uma boa química e uma dinâmica divertida, muitas vezes suas cenas destoavam do clima geral do filme.

Certamente entre as melhores produções da atual fase da Marvel, o novo Pantera Negra tem uma execução elogiável tanto na questão técnica quanto no fator emocional, tão importante para essa história específica. É um filme de herói, é um filme de ação e é um filme da Marvel, mas também é um filme sobre cultura, tradição, família e luto, tudo isso honrando com louvor o legado deixado por Chadwick Boseman e seu personagem T’Challa, inclusive com a cena pós-créditos.  

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