A Vida de Chuck
Director
Mike Flanagan
Genre
Drama
Cast
Tom Hiddleston, Jacob Tremblay, Benjamin Pajak
Writer
Mike Flanagan
Company
Neon
Runtime
111 minutos
Release date
04 de setembro de 2025
Baseado num conto de Stephen King, com roteiro adaptado por Mike Flanagan, que também fica responsável pela direção, “A Vida de Chuck” começa brincando com a fantasia/ficção científica. Dividido em três “atos”, o primeiro retrata um mundo em colapso, através de Marty Anderson (Chiwetel Ejiofor), professor em escola pública, descobrimos que sinais misteriosos parecem apontar para o apocalipse: aos poucos, sinal de internet e TV começam a cair, crateras enormes aparecem no meio das ruas, pessoas desaparecem, desastres naturais tomam contam de lugares ao redor do mundo. Ninguém parece saber o que está acontecendo, alguns preferem acabar com as próprias vidas no meio do caminho, a maioria dos alunos param de ir à escola, os hospitais passaram por momentos de lotação, mas agora também estão vazios, tanto que a enfermeira Felicia Gordon (Karen Gillan) chega ao trabalho um dia e se depara com leitos inabitados e apenas mais um colega de trabalho, o enfermeiro Bri (Rahul Kohli). Com o tempo vamos entendendo que Marty e Felicia já tiveram um relacionamento no passado, mas acabaram se separando, assim como outras relações vão se desdobrando. Em meio ao caos que só aumenta para culminar no momento final dessa civilização, propagandas misteriosas agradecem a um homem chamado Charles Krantz pelos 39 ótimos anos – ninguém sabe quem é ele, ou porque existem pessoas tão agradecidas por esses 39 anos que decidiram grafitar nos muros, anunciar na televisão e no rádio, nos outdoor e em qualquer outro lugar público.
Não há uma explicação imediata, apesar de tudo se encaixar perfeitamente no final, mas no segundo ato poderoso conhecemos Charles Krantz (Tom Hiddleston), um homem aparentemente comum, que tem um momento extraordinário num dia qualquer: ele é um contador participando de uma convenção, mas deixa tudo de lado quando, de repente, ouve uma baterista tocando numa praça e é tomado pelo ímpeto de dançar ao som de sua música. Essa cena em especial está entre as duas melhores cenas musicais do ano (a outra é aquela cena de Pecadores). Não há uma grande produção musical, com um grande cenário, iluminação e corpo de balé, são duas pessoas comuns, dançando num dia igualmente mundano, sem nada marcado. Sem qualquer palavra dita, apenas com o som da bateria, é passada uma emoção que será característica de todo o restante do filme, embora aqui tenha tido seu auge. A música também será um elemento-chave para o desenvolvimento da trama, com diferentes graus de relevância, mas sempre presente. Esse segundo ato é o único em que temos Tom Hiddleston como protagonista, mas seu carisma dita a imagem tenra que teremos de Chuck até o final.
Em “A Vida de Chuck”, a ordem cronológica é reversa e é só no ato final que podemos conhecer a infância/adolescência de Chuck e começamos a finalizar o quebra-cabeça que nos é proposto. Por mais que haja, de fato, um certo mistério, não é ele que rege essa história, movida muito mais pela emoção e pela sensibilidade. Não acho válido dar grandes detalhes sobre a trajetória de Chuck numa crítica, esse é o tipo de filme que, quanto menos informações você tiver previamente, melhor. Basta dizer que “A Vida de Chuck” é uma amálgama de tudo que faz a vida como um todo. Quando Mike Flanagan dirigiu a série de terror “A Maldição da Mansão Bly”, fez algo semelhante no que diz respeito à ressignificação do gênero e das intenções, a série começa como um terror e se expande para algo extremamente humano e relacionável, assim como “A Vida de Chuck”, que começa uma ficção científica para, pouco tempo depois, se tornar o que há de mais realista, sem nunca abandonar suas nuances. O grande acerto desse filme, é a forma como, de um modo muito acessível, consegue pegar “pequenas” ações e decisões da vida e do cotidiano, que poderiam ser comuns a maioria das pessoas, e transformá-las em pontos de virada em momentos inesperados.
Aqui, Mike Flanagan e Stephen King parecem ter uma ideia muito sólida do que faz a vida ser algo tão precioso e que tal preciosidade não está em apenas um grande evento ou acontecimento, e sim em todas as pequenas coisas que podem ter todo tipo de consequência. “A Vida de Chuck”, em sua forma, não é um filme exatamente realista, para além da ficção científica e do sobrenatural, tem diálogos afiados e situações e frases bonitas demais para acreditarmos que poderia acontecer no mundo real, mas tudo isso faz parte de sua poesia e sempre deixa espaço suficiente para que o espectador possa dar seu próprio sentido àquilo que assiste. É um filme surpreendente em todos os sentidos, mesmo quando tem seus mistérios revelados, e parte da máxima de que cada acontecimento, não importa quão pequeno ou grande seja, tem tanta importância quanto você lhe atribui. Entre os altos e baixos da vida, tanto de Chuck quanto de qualquer um, fica evidente que a melhor solução é apenas escolher viver.
Por Júlia Rezende