Bom Menino

Vez ou outra aparece um filme que prova que sempre há espaço para inovar no gênero de terror, “Bom Menino”, novo filme de Ben Leonberg, é um deles. O protagonista do longa é um cachorro (que pertence ao diretor) e todo o filme é contado a partir de sua perspectiva. Isso significa que as aparições, os acontecimentos e até mesmo os pesadelos são especificamente assustadores para Indy, o cãozinho – que acabou sendo também um ótimo ator. “Bom Menino” usa a lealdade canina como combustível para uma história típica de “casa mal-assombrada no meio do nada” e faz isso muito bem, conseguindo fugir das obviedades de alguns clichês e gerar momentos realmente assustadores. A lealdade de Indy, no caso, está com Todd; no começo do filme descobrimos que Todd está doente e decide se mudar para a casa abandonada do avô falecido. Já há uma lenda de que a casa levava seus moradores à loucura e a irmã de Todd não quer que ele se isole, mas ele está determinado a ficar, ainda que esteja constantemente tossindo e com a saúde visivelmente instável. 

Uma vez que Indy e Todd estão na casa, que parece ter parado no tempo junto com a morte do último morador, coisas estranhas começam a acontecer, mas quem não nota não é Todd, e sim Indy. Enquanto nada incomoda Todd, o cãozinho começa a ouvir barulhos, ver sombras e o ambiente não ajuda em nada. Quando os dois saem para dar uma volta nos arredores, uma figura sinistra aparece, só para depois se revelar como o vizinho que caçava raposas, mas é o suficiente para assustar Indy – e a gente também. Toda a construção do terror nessa história é muito bem feita, como temos um cachorro como protagonista, quase nunca vemos os rostos das pessoas, os planos são na altura dos olhos de Indy, o que nos deixa com uma visão dos cantos, de debaixo das camas e, principalmente, uma visão limitada, deixando no ar as possibilidades daquilo que não podemos enxergar. Num filme de terror comum, já ficamos tensos pelos personagens, mas aqui isso se intensifica uma vez que Indy é um cachorrinho cheio de carisma e tem muito menos agência para conseguir sair das situações. 

A trama envolve elementos sobrenaturais, jumpscares, perseguições e plot twists, inclinando muito mais para as sensações, principalmente por conta da falta de diálogos. “Bom Menino” faz um bom trabalho de imersão, ainda que pudesse ter explorado mais os sentidos caninos, e utiliza seu protagonista para acrescentar uma camada de emoção bem peculiar. Com apenas um pouco mais de 1 hora de duração (que poderia até ter sido menos) e sem grandiosidades, é um filme independente (com cara de filme independente, positivamente) que convence pelo carisma de Indy, o modo inteligente como a câmera se move e como situações comuns do gênero de horror são repensadas com originalidade. Um prato cheio pros fãs de terror – e também pros apaixonados por doguinhos, se você está nas duas categorias, certamente não pode perder.

Por Júlia Rezende