Família à Prova de Balas
Director
Edward Drake
Genre
Ação
Cast
Kevin James, Christina Ricci, Luis Guzmán
Writer
Edward Drake
Company
Diamond Films
Runtime
92 minutos
Release date
31 de julho de 2025
Família à Prova de Balas é o tipo de filme (e título) que parece previsível desde o primeiro segundo. A cena de abertura mostra Ray (Kevin James) como um cara que serve de força bruta para uma quadrilha, quando seus “associados” estão em perigo, é ele que é chamado e, com duas armas e menos de 2 minutos, resolve a situação, mas Ray não é o que se espera de um cara como esse; antes de ir salvar seus colegas, ele estava em casa com a esposa Alice (Christina Ricci), sua filha mais velha Siohbán (Keana Marie) e o filho mais novo Henry (Leo Easton Kelly) tentando ter uma tranquila noite em família. Um flashback de 5 anos atrás nos explica (desnecessariamente) como Ray foi parar nessa situação: ele era um policial dedicado, mas com um salário irrisório, sem chance de crescimento mas com muita vontade de oferecer grandes possibilidades para sua família, além de um grande sonho: abrir um restaurante para ficar como negócio de família. Ele então se associa à uma quadrilha. Criminosa, é verdade, mas muito honesta e respeitosa, que trata a criminalidade como um emprego e opera sob um código que diz que qualquer um pode sair assim que quiser, sem qualquer problema. Só o que Ray deseja é juntar dinheiro suficiente para sair dessa vida e comprar seu restaurante. É claro que no seu último dia de trabalho, a quadrilha é rendida por outro grupo, ele ganha um novo e impiedoso chefe, Lonny Castigan (Timothy V. Murphy), que não está nem aí para código algum e a vida de Ray fica muito mais complicada.
Como os filhos de Ray, e todos seus conhecidos também, não sabem de seu envolvimento com o crime e acreditam que ele ainda é um policial, o roteiro de Edward Drake, também responsável pela direção, tenta brincar com a identidade dupla do protagonista e com a ideia de colocar a família inteira na ação, quando um dos planos de Ray dá errado. Não é muito difícil de acreditar que em algum lugar desse filme há um outro realmente bom, ou minimamente interessante, mas o que acabamos assistindo é um filme previsível, desequilibrado, entediante (mesmo tendo apenas 90 minutos de duração) e que falha em quase tudo a que se propõe. Talvez se não se levasse tão a sério e decidisse abraçar verdadeiramente uma identidade de filme B, teria resultado em algo melhor, mas em vez disso, tem uma abordagem taciturna para situações absurdas, um protagonista que leva tudo a sério, até mesmo as tentativas de piadas (e são vários durante o filme) parecem estar no tom errado e na hora errada e os diálogos são fracos e expositivos. Mesmo com todos esses defeitos, as duas coisas que mais me incomodaram no filme não estão relacionadas.
Essa não é a primeira, nem a última vez que veremos um filme com um casal “normal” que, na verdade, está envolvido numa vida de ação, armas e perigo – e acaba levando os filhos junto – mas quase sempre vai envolver algum tipo de espionagem, mal-entendido ou simplesmente pessoas que não são apegadas à moralidade. Em “Família à Provas de Balas”, só temos um policial que estava cansado de trabalhar muito e ganhar pouco – e estaria tudo bem se ele só assumisse que gosta de dinheiro e de ter uma condição melhor para sua família, mas não: a todo tempo o filme tenta nos convencer, a qualquer custo, que Ray é um homem muito, muito bom e um pai melhor ainda, e que há grande honra na sua linha de trabalho, já que eles têm (tinham) um código a ser seguido, já que ele não era ganancioso, já que ele não matava ninguém (apesar de ter matado com grande tranquilidade logo na primeira cena). Repetidamente os personagens a seu redor, e até mesmo Ray, têm conversas e frases prontas para provar para o espectador como ele é apenas um bom homem que foi levado pelas circunstâncias. A questão não é nem se ele é ou não é um “cara mau”, é só que é exaustivo o esforço feito para convencer.
Nem absolutamente tudo é ruim em Família à Prova de Balas; como previamente mencionado, há um bom filme que poderia ter sido mostrado e tudo graças a Christina Ricci e sua personagem Alice Hayes – se ao menos ela tivesse sido a protagonista, ou aparecido antes. Tudo de bom que acontece no filme, acontece nos últimos 20 minutos – e é triste porque, pela primeira vez, o filme fica verdadeiramente divertido. Edward Drake tem plena consciência de que tem um trunfo nas mangas, mas quando o coloca para jogo já é tarde demais e não tem força suficiente para alterar todo o resto. Infelizmente, um acerto no meio (ou final) de tantos erros acaba passando praticamente despercebido e o filme, sem salvação.
Por Júlia Rezende