6.9/10

O Esquema Fenício

Director

Wes Anderson

Genre

Comédia , Drama

Cast

Benicio Del Toro, Mia Threapleton, Michael Cera

Writer

Wes Anderson e Roman Coppola

Company

Universal Pictures

Runtime

101 minutos

Release date

29 de maio de 2025

Conto sombrio de espionagem que segue um relacionamento tenso entre pai e filha em uma empresa familiar. As reviravoltas giram em torno de traição e escolhas moralmente cinzentas.

Dono de um estilo próprio que dita estética, ritmo e até mesmo diálogos e personalidades de suas produções, Wes Anderson tem, nos anos mais recentes, alternado entre filmes genuinamente instigantes e outros que caem na categoria de mais do mesmo. Seu mais recente lançamento, “O Esquema Fenício”, é um dos filmes mais Wes Anderson dentre os filmes de Wes Anderson, tanto em estilo quanto em enredo. Aqui, numa história de espionagem e excentricidades, forma e conteúdo convergem de forma harmônica e complementar e o resultado é um filme rico em personagens esquisitões, mas simpáticos (o foco continua num núcleo familiar disfuncional, como em suas principais obras) e uma história que faz rir, mas apresenta uma narrativa tridimensional dentro de um universo realista o suficiente para estar mais perto do nosso mundo.

Ambientado na década de 50, a figura central de “O Esquema Fenício” é o absurdamente rico Anatole “Zsa-zsa” Korda (Benicio Del Toro). Sem nacionalidade e sem ética, Zsa-zsa não tenta esconder que seu império é construído em cima de trabalho escravo e corrupção. Ele tem 10 filhos, porque quer garantir o futuro do seu negócio, mas é a filha (a única) mais velha que mais o intriga, ela é distante e está prestes a fazer seus votos para se entregar à religião e viver como freira, já que ela tinha sido abandonada num convento ainda criança. Para Zsa-zsa, a vida religiosa é impensável, e ele quer convencer Liesl (Mia Threapleton) a ser sua parceira no seu último e mais impressionante (e engenhoso) empreendimento. Apesar de cética e desconfiada (há rumores, inclusive, de que Zsa-zsa foi responsável pela morte da mãe de Liesl), ela concorda em acompanhar o pai numa série de aventuras, esquemas malucos e personagens mais malucos ainda.

Entre os envolvidos está Bjorn (Michael Cera), tutor de Zsa-zsa e apaixonado por insetos, que também vai desenvolver uma queda por Liesl. É engraçado que Michael Cera só agora esteja fazendo sua estreia no universo de Wes Anderson, já que o seu próprio estilo encaixa como uma luva na formalidade de Anderson. Esse trio, inclusive, é o motor de “O Esquema Fenício” e um dos motivos do filme funcionar tão bem, os três atores estão incríveis e seus personagens funcionam com precisão. A estoicidade de Liesl e a sutil maleabilidade de Zsa-zsa fazem dessa uma história estranhamento afetiva entre pai e filha, que vão aprendendo a expandir seus horizontes de acordo com o que aprendem um do outro. Mas é claro que essa ainda é uma história de Wes Anderson e, sentimentalismo à parte, coisas mirabolantes estão acontecendo durante a busca por financiamento para o Esquema Fenício; o próprio Zsa-zsa, por exemplo, tem inimigos em todos os cantos do mundo e já sobreviveu a quase dez quedas de avião como tentativas de assassinato.

Dentro da lógica e do estilo de Wes Anderson, “O Esquema Fenício” funciona como o esperado, com os planos simétricos, os tons pastéis, e os rostos já familiares, como Tom Hanks e Bryan Cranston (formando uma dupla hilária), Bill Murray, Scarlett Johansson, mas também permite algumas disrupções que tornam a história, que estranhamente fala de redenção e reconciliação, mais especial e comicamente crítica. Mesmo se passando nos anos 50, é fácil relacionar Zsa-zsa aos super ricos de hoje em dia, e outros temas como religião, moral e até romance dão as caras também. 

 

Por Júlia Rezende

8.5

Mission Accomplished

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