Pai do Ano
Director
Hallie Meyers-Shyer
Cast
Michael Keaton, Mila Kunis, Michael Urie
Writer
Hallie Meyers-Shyer
Company
Diamond Films
Runtime
110 minutos
Release date
23 de outubro de 2025
Quando o filme começa, Andy Goodrich (Michael Keaton) não poderia estar mais longe de ser o pai do ano, ou muito menos o marido do ano. Tendo o trabalho como prioridade – ele é dono de uma tradicional galeria de arte – ele é pego completamente de surpresa quando recebe, no meio da ano, uma ligação de sua esposa Naomie (Laura Benanti) dizendo que estava se internando numa clínica de reabilitação por conta de seu vício em remédios e ficaria fora por 90 dias. Andy não tinha notado que ela saíra da cama, nem que esse vício existia. Sem a esposa, que cuidava de tudo relacionado a sua vida pessoal, Andy é obrigado a realmente conhecer os filhos gêmeos de 9 anos, Mose (Jacob Kopera) e Billie (Vivien Lyra Blair). Enquanto não tem escolha a não ser se tornar um pai presente, o filme poderia facilmente se tornar apenas um clichê sobre pais negligentes que passam por uma tragédia e então começam a se interessar pelo papel, mas a verdadeira história por trás de “Pai do Ano” não é a relação entre Andy e os gêmeos, e sim os paralelos – e discrepâncias – entre a relação com os gêmeos e com Grace (Mila Kunis), sua filha mais velha, fruto de seu primeiro casamento e que conheceu apenas uma versão de seu pai – e não foi a versão melhorada.
À medida em que Andy tentava lidar com as demandas das crianças e da galeria (que está indo de mal a pior), foi entendendo também como é difícil dar conta de tudo e acaba contando com a ajuda da babá e de Grace. Acontece que Grace também está lidando com suas próprias demandas – ela está grávida de seu primeiro filho e apesar de poder contar sempre com o apoio da mãe, o pai nunca foi confiável para isso. A relação entre Andy e Grace, nos dias atuais, parece a de um bom relacionamento entre um pai e uma filha adulta, mas logo percebemos que não há qualquer intimidade entre eles, apenas uma familiaridade proveniente de memórias distantes compartilhadas. Eles continuam distantes, inclusive, na vida adulta, mas quando Grace é chamada para ajudar nessa nova fase da vida do pai, feridas do passado voltam a aparecer e se tornam obstáculos para que o relacionamento entre os dois possa se desenvolver de fato.
Muito do que leva o filme adiante é o carisma dos personagens, os gêmeos são crianças adoráveis, Mose é mais peculiar, introvertido, enquanto Billie é uma criança extremamente precoce, que não perde tempo para jogar verdades na cara do pai. Os dois são reflexos da ausência constante do pai e os primeiros a notar a repentina ausência da mãe. Andy nunca é retratado como uma má pessoa, porque realmente não é, mas é um pai (e marido) ruim. Ao priorizar a galeria, deixava os filhos como mero figurantes de sua vida, sem se dar conta do quanto estava perdendo e do quanto estava tirando dos filhos. Até mesmo Grace não tinha um relacionamento com os irmãos, até ter que aparecer para ajudar a cuidar dos dois. Outra subtrama cheia de carisma vem com Terry (Michael Urie) um homem que também está lidando com a ausência de seu esposo, que simplesmente abandonou o filho epilético por ser “complicado demais” – e o casamento também, por consequência. O filho de Terry estuda com os gêmeos e ele e Andy formam uma amizade improvável, mas pautada no respeito e empatia, no que acaba se tornando uma história leve, bem humorada e cativante.
Apesar dos entornos, o foco é (como deveria ser) de Andy e Grace. O filme escrito e dirigido por Hallie Meyers-Shyer faz um ótimo trabalho na forma como aborda essa relação machucada, marcada por decepções e ausência, mas com esperança para algum tipo de mudança. Enquanto Andy se torna o “Pai do Ano” para os gêmeos, Grace vê com seus próprios olhos tudo aquilo que perdeu quando tinha a idade deles e que não pode recuperar. Ainda assim, o filme é otimista e leve o suficiente para manter a esperança e falar de amor paterno e laços familiares com um sorriso no rosto. Há uma tendência aos clichês dramáticos e discursos poucos realistas, mas sabe emocionar de qualquer forma, e deixa uma boa memória depois de seu fim.
Por Júlia Rezende