SUPER MARIO BROS. – O FILME | APESAR DE DIVERTIDO, SÓ O BÁSICO NÃO FUNCIONA

Além de alguns sucessos pontuais, filmes baseados em videogames tendem a ser um fracasso – por um único e simples motivo: roteiro de jogo é diferente de roteiro de longa metragem, e parece que nem todos os produtores entenderam isso. Inclusive o próprio filme do Mario, de 30 anos atrás, é um bom exemplo de péssima adaptação. Dentre os sucessos pontuais, porém, temos os recentes “Sonic”, “Detetive Pikachu” e até mesmo “The Last of Us” na HBO Max e, por essa razão, a expectativa para “Super Mario Bros. – O Filme” – além de claro, a promessa de uma animação bonitinha e fiel ao visual dos jogos do encanador bigodudo. Entretanto, quanto maior a expectativa, maior o abismo para cair – tal como você certamente já caiu em algum dos jogos do Mario. Mas o que deu errado?

Há algum tempo já atingimos um patamar de qualidade em animações de grandes produções que limitam qualquer crítico a fazer qualquer comentário: texturas impecáveis e cores vibrantes enchem a tela durante todo o longa. Um comentário adicional, porém, deve ser feito sobre a modelagem da Peach – ainda que seja uma animação de fantasia, a divergência de proporções (cabeça-corpo-membros) e os próprios moldes originais dos games mais recentes (que trazem uma Peach mais coerente proporcionalmente) incomoda um pouco e, inclusive, destoa dos outros personagens, mesmo os femininos.

Já que os games foram mencionados, vale mencionar a trama – que é completamente voltada para uma história padrão do encanador: salvar um personagem do monstro passando por vários mundos. Como comentado acima, roteiros de games DEVEM ser diferentes de roteiros de jogos – e aqui não é muito o que acontece. Além de uma pequena mudança – acompanhando a tendência de qualquer produção desta década – que tira da princesa o estereótipo de frágil e o transporta para um personagem masculino a ser salvo, o filme é completamente previsível – com conhecimentos sobre o jogo ou não. Está presente em cada cena da produção uma vontade de referenciar o material original e criar sequências animadoras para quem passa horas na frente de um videogame: o resultado é extremamente satisfatório para quem está habituado com este universo, mas pode ser extremamente raso para quem não está.

Em um mundo onde existem animações como “Shrek” e mesmo “Meu Malvado Favorito” (do mesmo estúdio do longa aqui em debate), não é mais suficiente um filme engraçadinho que agrade somente crianças (pela ação e comédia pastelão combinadas) e marmanjos (pela referência a infância deles) – é possível ir além – ainda mais considerando a magnitude do longa em questão. São diversos exemplos de animações completas que agradam crianças e adultos, combinam ação e comédia sem serem rasas e apresentam uma trama intrigante e com mais profundidade – e “Super Mario Bros.” está longe desses exemplos.

Mesmo um de seus pontos positivos faz emergir uma crítica sobre a produção: a trilha sonora. Músicas de sucesso dos anos 80 em praticamente todas as cenas são como uma cereja da mais alta qualidade sobre um bolo ruim, que ainda te faz engasgar. Ainda que os anos 80 sejam o berço dos videogames e do Mario em especial, tal artifício já está mais do que saturado no cinema. Citando “Shrek” novamente, há mais de 20 anos, já era possível mesclar sucessos com músicas originais e obter um resultado encantador. Neste longa, porém, quando “Take On Me” começa a tocar – por melhor que seja a música – os seus olhos revirarão inevitavelmente frente a tamanho clichê.

Ao final, há uma brecha para uma continuação (incrivelmente previsível) que, por uma análise global das escolhas feitas para este filme, tem grandes chances de ser tão patética quanto o primeiro filme. Ainda assim, “Super Mario Bros.” é um filme divertido e animado, mas o amargo de sua superficialidade sobrepõe qualquer nostalgia ou risadinha evocada durante a sua exibição – assista com as crianças.

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