“Um Casal Inseparável” se separa do bom roteiro, apesar de boas intenções

A premissa de casal com personalidades opostas já marcou diversos produtos culturais ao longo dos anos. Livros, filmes e até músicas de romance retratam casais incríveis compostos por duas pessoas que dão vida à expressão “os opostos se atraem”. Afinal, Mônica era de Leão e Eduardo tinha dezesseis.

Dirigido por Sérgio Goldenberg, o filme “Um Casal Inseparável” apresenta a história de Manuela e Léo, interpretados por Nathalia Dill e Marcos Vera, respectivamente. Ela é professora e jogadora de vôlei de praia, vive uma vida de forma mais aventureira; ele é pediatra, vive uma vida mais certinha e estável. Ainda que ela não estivesse procurando um relacionamento, o charme de Léo faz com que Manuela se apaixone em poucos dias e, assim, ambos se tornam um casal inseparável – ou quase.

O filme começa de forma agradável, com ambos os personagens tendo uma química inegável em tela. Ainda que não tenha uma carga de humor tão relevante, os diálogos bem pensados são delicados e realistas, a ponto de fazer com que o público torça pelo casal. Os personagens secundários também estão muito bem interpretados. A adição de Esther Dias, Totia Meireles e Stepan Nercessian no elenco consegue tornar a obra mais divertida, porém ainda assim não é suficiente para salvar o filme depois do primeiro ato.

Depois que o Manuela e Léo finalmente ficam juntos, no fim do primeiro ato, “Um Casal Inseparável” desanda e se separa fortemente da qualidade que tinha até então. O roteiro apresenta situações fracas e banais, que fazem com que cada personagem pareça ainda estar na adolescência. Manuela quase obriga Léo a aceitar um novo emprego que paga melhor, mas fica de mal do marido quando ele não consegue chegar a tempo do jantar por causa do trabalho. Enquanto isso, Léo mal consegue resistir à atração que tem à nova colega de trabalho, não sabendo dizer “não” e não conseguindo manter a seriedade perto dela e de Manuela.

A narrativa continua piorando conforme os minutos do filme avançam. Ambos se separam por uma briga fútil que poderia ser resolvida com uma simples conversa de dez minutos, mas que, aparentemente, era demais para ambos os personagens que agora careciam de um mínimo de maturidade.

As artimanhas da mãe de Manuela fazem com que ambos os personagens continuem se encontrando, ainda que não mais em um relacionamento. Tal parte da trama poderia ser até que cômica, se não se resumisse apenas à vergonha alheia de um roteiro preguiçoso, pois os planos da sogra poderiam ser previstos facilmente por qualquer um dos personagens diversas vezes. Além disso, para dar uma justificativa para os pais de Manuela continuarem encontrando com Léo, o roteiro coloca que ele, o sogro, com seus 60 anos, continua passando em consulta com o pediatra, apenas por serem conhecidos.

O roteiro, dessa forma, guia a narrativa através de diversos pontos não só previsíveis, mas banais que acabam deixando a história monótona e com um propósito cafona: sim, todos sabem que o casal vai voltar no final, mas é preciso de um plano fajuto e mal escrito, baseado em diversas coincidências – ou, talvez, burrice por parte dos personagens –, para que a união dos dois volte a acontecer.

Todos já devem estar acostumados com clichês em comédias românticas, mas há grande diferença entre um clichê bem trabalhado e um clichê jogado que demonstra falta de propósito e identidade própria para uma história. “Um Casal Inseparável” agrada no primeiro ato, mas decai bastante conforme continua contando uma história que se torna fraca, sem sal e, infelizmente, vergonhosa.

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