VALE NIGHT | UMA COMÉDIA COM CARA DE BRASIL, HUMOR E ORIGINALIDADE

Comédias são o forte do audiovisual no Brasil, algumas dessas comédias são de alta qualidade e se transformavam nos filmes nacionais mais populares do país, porém, com a grande quantidade de comédias, é comum que a qualidade não se mantenha. Não é difícil acompanharmos lançamentos que parecem ser apenas cópias de algo que já fez sucesso em algum momento. Sejam os filmes de comédia pastelão, cujo tema é quase sempre a pobreza ou comédias que tentam reproduzir o humor americano, se distanciando da nossa realidade e, consequentemente, da graça.

Quando vi o título “Vale Night” e a sinopse indicando que o filme é sobre um pai que se mete em problemas ao ser deixado sozinho com seu filho por uma noite, confesso que estava preparada para assistir mais do mesmo, mas o resultado não poderia ter sido mais surpreendente, no melhor sentido possível. Vale Night é um filme brasileiro do começo ao fim, até o último detalhe. Começando num baile funk, uma jovem grávida está dançando e aproveitando a noite quando sua bolsa estoura e ela acaba dando à luz numa ambulância na porta do baile.

Alguns meses depois, descobrimos que a jovem que deu à luz agora é uma jovem mãe, Daiana (Gabriela Dias) ainda está com Vini (Pedro Ottoni), o pai do bebê, mas os dois são jovens, sem renda fixa, moram com a mãe de Daiana e estão passando por dificuldades para cuidar do bebê, principalmente Daiana, já que as maiores responsabilidades sempre caem em cima das mulheres. Ela está sobrecarregada e considerando abandonar os estudos quando recebe um convite de sua mãe para passar a noite na casa de sua vó, deixando o bebê com o pai para que ela possa descansar ao menos uma vez. Depois de muito relutar, Daiana acaba aceitando.

Vini é um jovem de bom coração, mas que tem uma vida despreocupada e sem levar nada a sério. Desde o começo se mete em confusões com o bebê e deixa bem claro seu despreparo para lidar com os cuidados de uma criança, ainda assim tem boa vontade e não recusa seus deveres. Porém, demonstrando mais uma vez sua irresponsabilidade, Vini leva o bebê para a rua, se distrai dançando e, por conta de uma confusão, acaba perdendo o bebê. O que se segue é Vini e seus amigos (Linn da Quebrada e Yuri Marçal) tentando recuperar a criança durante toda a noite sem que Daiana e seu irmão (Jonathan Haagensen) descubram.

Além do cenário (o filme se passa inteiro numa comunidade), a trilha sonora, os personagens e todas as situações são extremamente brasileiros também, mas o grande destaque aqui vai para todo o elenco. Composto inteiramente por atores pretos, é um prazer e um orgulho ver tamanha qualidade num filme que tem a cara do povo brasileiro. Pedro Ottoni, o Vini, tem um humor engraçado sem ser caricato e sem tentar imitar grandes nomes da comédia, o ator pode não ter um currículo extenso, mas certamente tem um futuro promissor, entregando cenas incríveis tanto na comédia quanto nas cenas de drama (que são poucas, mas essenciais). Gabriela Dias, Linn da Quebrada e Yuri Marçal também encaixam muito bem em seus papéis e têm uma química gostosa de assistir.

Vale Night é sim uma celebração da nossa cultura e do nosso povo, mas é também uma grande crítica a um problema social que não é levado tão a sério quanto deveria: a gravidez na juventude, uma das principais causas de evasão escolar, sobretudo entre garotas de baixa renda, mas o filme tem sucesso tanto no entretenimento quanto na crítica, acertando em tudo que se propõe e trazendo luz a assuntos relevantes na atualidade.

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